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Opinião

Inclusão e diversidade da porteira para dentro

Em um processo de transição haverá sempre erros e acertos, o importante é avançar nessa questão


10 de agosto de 2021 - 14h15

(Crédito: SV Sunny/ iStock)

“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes”. Assim como Emicida explicitou na canção AmarElo, muitas outras vozes têm levantado o tom para serem ouvidas e respeitadas junto à sociedade brasileira. Embora tardio, é um ponto de partida fundamental para reestruturação de um modelo decadente. Atenta a esse movimento, a publicidade demonstra desejo em acertar o tom, embora às vezes esbarre em alguns percalços e vivencie inevitáveis escorregões. Em um processo de transição haverá sempre erros e acertos, o importante é avançar nessa questão.

Só que o problema, como se diz no campo, muitas vezes ainda está da porteira para dentro da nossa indústria. As agências têm sido cutucadas, provocadas e impulsionadas por marcas fortes, clientes que as pressionam por campanhas impactantes e criativas com o olhar voltado a temas como diversidade e inclusão. Só que em seus conselhos diretivos e entre as principais lideranças percebemos que pouco – ou nada – mudou nos últimos anos. Como cobrar posicionamento de seus parceiros e permanecer estático no século passado?

Na área acadêmica estão sendo formados profissionais do futuro. Mas quem será essa pessoa no futuro? Continuará sendo descartada sem o mínimo respeito e valorização na maturidade, como temos visto ocorrer tão implacavelmente em nosso mercado? Questões relacionadas ao idadismo também devem fazer parte dos debates no mesmo patamar de temas como etnia, orientação sexual, inclusão de pessoas com deficiências, entre outros.

Em sua luta por espaço, as mulheres deram cotoveladas durante muitos anos nos conservadores e hoje as vemos em cargos antes reservados aos grandes criadores e empreendedores. Ainda sobem mais lentamente nos degraus da alta liderança, porém, o movimento é claramente irreversível.

Recentemente, a Universidade de São Paulo (USP) divulgou que, pela primeira vez em sua história, tem mais alunos oriundos de escolas públicas do que privadas. Em 2021, já são 51,7% do total. Lembrem-se que tudo começou com a questão das cotas raciais, discussão tão acalorada no passado e que hoje evidencia a importância dessa virada de chave no sistema educacional.

Criar uma diretoria voltada a essas questões na APP nos pareceu um movimento fundamental para aprofundamento do debate. Não é hora de apontar dedos, mas de chamar a todos ao diálogo. Precisamos expor as dificuldades do nosso setor, apoiar iniciativas existentes e criar novas. A construção é conjunta, pois não há respostas prontas para tantas perguntas inquietantes.

Ao contrário do passado, temos hoje poucos donos de agências, pois grande parte delas está alinhada em grupos internacionais. A legislação brasileira está defasada em relação a outras realidades ao redor do mundo e isso conturba ainda mais o alinhamento de questões relacionadas a temas tão delicados e urgentes.

Queremos pessoas capazes como líderes de nossa indústria, sem levar em conta cor de pele, origem, idade e identificação de gênero. A convocação é geral, mas a mudança precisa começar, de verdade, dentro de casa.

*Crédito da foto no topo: audioundwerbung/iStock

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