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A busca pelo Império Otomano

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Ponto de vista

A busca pelo Império Otomano


21 de junho de 2012 - 2h36

Mil novecentos e… (não, não vou entregar a idade tão facilmente). Estava eu lá em minha primeira incursão pelos bancos do ginásio e surgia a tal da dúvida que caía na prova: Império Otomano. Sim, Otomano. Que raios era isso? Lembro que a professora deve ter falado sobre isso em algum momento, creio que entre o segundo em que eu rabiscava a contracapa do caderno de História e o minuto em que eu prestava atenção na forma de unicórnio que a rachadura no teto da sala teimava em adquirir.

O problema é que agora não havia mais professora nem unicórnio. A parada era comigo e o caderno riscado com tudo – menos Império Otomano, lógico.

Solução era uma só. Caminhar duas quadras até o ponto de ônibus, esperar 20 minutos pelo Circular, viajar em pé por mais 15 minutos, descer e andar por mais três quadras até a biblioteca municipal. Apresentava a carteirinha (torcendo para não ter multa por atraso na entrega de algum livro), girava a catraca, percorria os corredores e achava a enciclopédia. Abecedário na cabeça, encontrava Otomano e pronto. Pronto, nada. Abria o caderno e copiava. Depois, cópia das fotos e o mesmo caminho de volta para casa.

Tempo total da brincadeira? Umas três horas, fácil.

Se tempo é dinheiro, descobri porque minha mesada não dava para nada. Foi assim, camelando, pegando ônibus lotado e gastando tinta de caneta que aprendi a dar valor à informação. A coisa não caía no colo, eu suava pra conseguir ser (bem) informado sobre algo.

2012. Meu filho precisa saber o que foi o Império Otomano. Não sei se por causa do unicórnio ou de outra forma qualquer, mas o que importa? Quanto tempo leva para digitar isso? Cinco segundos? Um clique, pronto. Texto, foto, vídeo, infográfico, análise. No conforto do quarto. Como dar valor a tal informação? Culpa dele? Vamos jogar os computadores pela janela? Queimemos os iPhones? Não, não e não.

O fato é que a culpa (se é que existe) não é dele. É deste escriba e da minha geração – a mesma que ligava usando ficha telefônica. Precisamos correr para se adaptar a este novo mundo onde a informação brota por todos os lados e, com isso, não ficar para trás e ser atropelado pela tal geração Y que já chegava ao mercado de trabalho falando suas três, quatro línguas, com diploma de MBA embaixo do braço e zero de experiência na vida. Ou nos adaptávamos, ou seríamos engolidos por eles. Alguns de nós foram, outros dinossauros sobreviveram e resistem bravamente.

O problema é que na ânsia de acompanhar o que chegava, esquecemos o que trazíamos conosco. Bibliografia básica, conhecimento consistente sobre – pelo menos – os últimos 50 anos da história neste planeta e formação humanística ampla. Aprendemos a usar fax (ainda existe?), email (quase a mesma pergunta), Twitter, Facebook, Instagram, Pinterest, mas não ensinamos à molecada o trampo que dava ir até a biblioteca.

E assim eles crescem e evoluem (ou involuem?). O retrato fiel do resultado disso tudo é observar estagiários em uma grande redação de internet nos dias atuais. Pesquisar em mais de uma fonte? Não usar a wikipedia? Ligar para alguém? Até fazem, mas natural não é quando por aqui chegam. Afinal de contas, é bem mais fácil clicar aqui, né não?  

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