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Ponto de vista

Desejo e realidade

Tendo decorrido tempo suficiente para curar a ressaca da Copa, existe muito pouca preocupação em comparar expectativas em resultados


2 de outubro de 2014 - 3h20

A esta altura, falar no assunto não é mais crueldade. Três meses são bastante tempo para curar ressaca. É o suficiente para encarar racionalmente os fatos que culminaram com a derrota. 7 x 1 doeram muito. Mas aquilo que poderia ser somente um percalço dentro do campo teve seus contornos de desastre confirmados nos 3 x 0 do jogo seguinte. Não ficou dúvida de que, pelo menos dentro de campo, a Copa das Copas de 2014 foi um fracasso para o Brasil.

Embora dentro do campo tenha sido um resultado triste, não dá para dizer (talvez com exceção da elasticidade dos placares) que foi injusto ou mesmo inesperado. Somente um otimismo beirando a alienação apostaria na vitória da improvisação e do despreparo sobre o trabalho e a preparação. Mesmo assim, torcedores são movidos pela paixão e não surpreenderia que, para eles, tudo pareça injusto.

Fora do campo é diferente. A Copa das Copas, analisada por profissionais, provavelmente teria chances de chegar a reações e resultados distintos. Neste caso, surpreende a ausência de estudos e analises comparando expectativas e previsões sobre os resultados econômicos, financeiros e de marketing esperados com aqueles atingidos depois que a festa acabou e a poeira baixou.

Pena. Ainda que a análise resultasse na provável conclusão de que as metas não foram atingidas, comparar resultados esperados com atingidos leva ao aprendizado. E aprendizado, pelo menos potencialmente, faz com que futuras perdas sejam evitadas.

Um dos estudos otimistas escritos alguns anos atrás explicando (ou talvez justificando) os benefícios futuros da realização da Copa do Mundo no Brasil foi produzido em conjunto pela Ernest & Young e FGV Projetos

Ao longo dos anos, foi exaustivamente citado como resposta a cada palavra de ceticismo sobre o realismo das previsões. Artigos sobre ele foram escritos misturando previsão e realidade. Garantindo que os resultados previstos já estavam atingidos.

O estudo previa um impacto de R$ 142 bilhões adicionais na economia. Soa estranho em um ano em que, entre outros fatores, procura-se atribuir a Copa do Mundo de 2014, a redução ou desaceleração do crescimento do PIB.

Previa 79% de aumento no numero de turistas, chegando mesmo a quantificá-los em quase três milhões de visitantes devido a Copa. Curiosamente, depois, comemorou-se que a ausência do movimento esperado nos hotéis e aeroportos resultaram na ausência de serviços de qualidade desastrosa. Na impossibilidade de atingir objetivos, rebaixaram-se as metas.

No mundo descrito no estudo da FGV e Enerst & Young, desenhou-se uma economia em que a simples realização do evento resultaria em efeito dominó, causando cascata de investimentos que serviriam de legado. Seriam bilhões de Reais. Alcançavam investimentos em mídia (R$ 6.5 bilhões); estádios (R$ 4.7 bilhões); parques hoteleiros (R$ 3.5 bilhões); e outros.

Ao fim e ao cabo, é provável que a Copa do Mundo tenha sido projeto em que os custos superaram os benefícios. Seria grave, mas não seria a primeira vez que um projeto deu errado. Isso acontece em todos os países, empresas, e instituições. O futuro, afinal, é incerto.

O que choca é que, tendo decorrido tempo suficiente para curar a ressaca, existe muito pouca preocupação em comparar expectativas em resultados. E, sem isso, não dá para evitar que aconteça novamente. Em negócios, confundir realidade e desejo é pecado mortal. 

wraps

Elton Simões é profissional com larga experiência nas áreas telecomunicações, mídia e entretenimento no Brasil, na Europa, nos EUA, no Canadá e na América Latina. Atualmente atua como consultor, árbitro e mediador, baseado em Vancouver, Canadá
 

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