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Produção audiovisual brasileira em alta

Com maior volume de recursos, cresce o número de obras nacionais e produtores independentes ganham espaço na TV e no cinema


3 de agosto de 2011 - 10h59

De um lado, sucessos recentes de bilheteria de franquias como Tropa de Elite e Se Eu Fosse Você, e de filmes como Nosso Lar e Chico Xavier. Do outro, a presença cada vez maior de produções independentes em canais abertos como Globo, Band e Record, e em fechados como HBO, Discovery, History e Multishow, para citar apenas alguns. Somados, estes movimentos dão uma mostra do aquecimento do mercado brasileiro de produção audiovisual. Apoiado em investimentos via leis de incentivo e fundos setoriais, cresce a cada ano o volume de investimentos em produções nacionais.

De acordo com dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), em 2010 foram captados R$ 168,9 milhões pelas Leis de Incentivo Federal, o que representou um aumento de quase 25% em relação aos valores de 2009. Na série histórica iniciada em 2002, este número perde apenas para o auferido em 2006 (R$ 170,2 milhões). Estes valores incluem recursos arrecadados com os artigos 1º, 1º A, 3º e 3º A da Lei 8.685/93, o Art. 39 da MP 2228-1/01, o FUNCINES – Art. 41 da MP 2228-1/01 e a Lei 8.313/91.

A linha de investimento do Fundo Setorial do Audiovisual destinada a projetos independentes para a TV, por sua vez, já soma R$ 43 milhões em três anos. No primeiro edital, lançado em dezembro de 2008, foram selecionados 11 projetos num total de R$ 7 milhões em recursos. Em 2009, foram selecionados 23 projetos com aportes totais de R$ 17,7 milhões. No edital de 2010, ainda em aberto, foram colocados à disposição R$ 20 milhões. Só podem concorrer ao fundo projetos que tenham garantia de exibição em rede de TV aberta ou fechada.

“O cinema, desde 2010, vem em escala ascendente, se fixando como atividade econômica e industrial. A TV também, com as produtoras de conteúdo se fortalecendo, criando carteiras, empreendendo. O modelo da TV aberta não favorece o produtor independente. Mas há um crescimento notável na TV por assinatura, com perspectiva maior ainda com o PLC 116”, diz Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPI-TV).

O PLC 116, cuja votação no Senado está prevista para agosto, prevê uma série de mudanças no mercado de TV paga. A questão citada por Altberg é a criação de cotas de conteúdo nacional a ser exibido pelos canais. O projeto propõe a veiculação de três horas e meia de programas nacionais durante a semana. “Estamos com perspectiva de aprovação. Parece pouco, mas vai abrir um mercado enorme. Os produtores independentes já provaram que têm qualidade e complementariedade com a TV”, aponta Débora Ivanov, sócia da Gullane Entretenimento.

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Fonte incentivada

O desenvolvimento do setor ainda está muito atrelado aos mecanismos de incentivo e fomento (grande parte deles baseado em isenção fiscal), mas este parece ser o caminho natural de evolução da indústria. “A produção nacional é totalmente dependente de recursos incentivados. Sem eles, não existiria projetos nossos ou de outra empresa. É essencial. Foi assim nos EUA durante 50 anos entre as décadas de 40 e 90. Havia uma cota de tela bem rígida para incentivar e desenvolver o setor. Em 90, não precisava mais porque o mercado estava disciplinado e regulamentado, tanto que 100% da produção lá é independente. Ainda estamos engatinhando”, analisa João Daniel Tikhomiroff, presidente da Mixer.

Embora ainda incipiente, há também um movimento de investimentos diretos de patrocinadores, principalmente na sétima arte. “O cinema se tornou um atrativo, uma opção interessante de fazer investimentos e ganhar dinheiro e fazer exposição de marca. Unimed e Samsung nunca tinham feito cinema e estiveram no Tropa de Elite 2, por exemplo. É importante bolar oportunidades de negócio com recursos incentivados e com recursos próprios para criar essa cultura nos anunciantes. As leis de incentivo têm prazo para acabar, eu tenho que criar novas formas de financiamento para fomentar a indústria. O pós-venda é importante. Se der resultado, o patrocinador fará novamente”, salienta James D´arcy, produtor executivo da Zazen Produções.

Para Beto Gauss, sócio e produtor executivo da Prodigo, a indústria cinematográfica está cada dia mais sólida, mas ele faz uma ressalva. “O setor está aquecido devido ao sucesso dos filmes Tropa de Elite 2 e Se Eu Fosse Você, mas ainda não temos um mercado maduro no qual investidores colocam dinheiro em busca de retorno de médio a longo prazo. O risco ainda é muito grande devido ao modelo de distribuição para o produtor/produtor associado, além das disputas por salas de cinema, que ainda são poucas proporcionalmente. Hoje, se o filme não vai bem no primeiro final de semana, provavelmente estará fora do circuito em mais 15 dias”, pondera.

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Telinha e telona

Com uma fonte maior e estável de recursos, as produtoras estão conseguindo trabalhar os projetos de forma estruturada, o que tem contribuído para o aumento do número de lançamentos. Em 2010, foram lançados 75 filmes brasileiros nas salas de cinema do País. Destes, 50 captaram recursos pelas Leis de incentivos federais, num total de R$103 milhões. Há 10 anos, o número de longas lançados foi 23. Em 1995, foram 14.

“Produzíamos um filme por ano. Hoje, estamos fazendo de dois a três por ano. Não só por causa dos incentivos. Os estúdios estão investindo, temos Paulínia e o Funcines. Tendo dinheiro todo o ano, conseguimos planejar e criar uma carteira de projetos”, conta Eliana Soarez, executiva de Cinema da Conspiração Filmes, que lança em setembro a comédia romântica O Homem do Futuro e prepara para o início de 2012 a estreia de À Beira do Caminho.

Indício do crescimento da produção nacional independente para a TV, a Conspiração criou em 2009 um núcleo para trabalhar a área. “Começamos a nos antecipar a esse aquecimento. O volume praticamente dobrou de lá pra cá. Temos 14 projetos em andamento em vários estágios, fora 10 em desenvolvimento. Foram 250 horas de produção em 2010. Em 2011 a previsão é repetir”, projeta Luiz Noronha, sócio e produtor executivo da produtora, que colocará no ar em setembro na TV Brasil a série Histórias do Brasil.

“Alguns canais de TV fechada trabalham bem com a produção independente já há alguns anos. Já os de TV aberta que até ontem produziam 100% do seu conteúdo, começam a enxergar, muito por conta do art. 3-A, que existe muita qualidade de produção fora das suas dependências. Mais que isso, perceberam que é essencial oxigenar a própria grade com visões artísticas diferentes. A Globo e a Band conseguiram enxergar isso primeiro e estão coproduzindo um número de horas considerável, mas ainda muito aquém de suas possibilidades”, pontua Gauss.

Na opinião de Carla Ponte, supervisora de produção da Discovery Networks no Brasil, a associação com produtoras locais para a coprodução estabelece uma relação de troca muito proveitosa para ambos os lados. “O canal se beneficia desta abordagem diferenciada e a produtora nacional desenvolve projetos que viajarão o mundo. A Discovery produz em associação com produtoras brasileiras desde 1999, quando ainda não existiam instrumentos de fomento à produção local”, lembra Carla.

“Havia resistências, mas com os incentivos a partir de 2006, as TVs começaram a se abrir, primeiro a fechada e depois a aberta. Há um pequeno movimento de buscarem oxigênio criativo fora das estruturas, para somar, verticalizar. Hoje você vê dramaturgia na Globo, na Band. Na TV fechada já é realizado há muito tempo: HBO, Discovery, Globosat. Eles investem cada vez mais para falar com o público brasileiro, que é ávido pelo conteúdo nacional, que é o que ele entende e se identifica”, afirma Tikhomiroff.

Além do longa-metragem Corações Sujos, que estreou no Festival de Paulínia deste ano, a Mixer colocará no ar em novembro a série Julie & Os Fantasmas, coprodução com a Nickelodeon e a Bandeirantes, e está preparando a segunda temporada da série Descolados (que deve ir ao ar pela Band), e a série animada do Sítio do pica-pau amarelo (em parceria com a Globo).

“Estamos produzindo para a HBO, já estamos na Record, na TV Brasil e na ESPN, e fechando um projeto com The History Channel. Estamos alargando as fronteiras”, diz Débora. Para a TV, a Gullane está produzindo o documentário Sem Limites, sobre esportes radicais, em parceria com a ESPN, e exibiu na TV Brasil o episódio Onça Pintada da série Extinções. Já para o cinema, lançará ainda no segundo semestre o documentário Brincante, e prepara para 2012 a estreia dos longas Casais Inteligentes Esquecem Juntos e Acorda Brasil.

A Prodigo, por sua vez, está em fase de pós-produção e finalização das séries para TV Oscar Freire_279 (entra no ar em 23 de agosto no Multishow), e Até que a Morte nos Separe (estreia no A&E em novembro) e FDP (que vai ao ar em março de 2012 na HBO). Além disso, produziu seu primeiro longa-metragem de ficção A Hora e a Vez de Augusto Matraga, baseado no conto de João Guimarães Rosa. O filme estreia no Festival do Rio no segundo semestre e segue para o circuito comercial na sequência.

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