Band busca o ponto de equilíbrio
Reestruturação operacional, foco em negócios lucrativos e programação são as saídas apontadas pela emissora para sua recuperação financeira
Reestruturação operacional, foco em negócios lucrativos e programação são as saídas apontadas pela emissora para sua recuperação financeira
Luiz Gustavo Pacete
7 de junho de 2016 - 14h00
No início de maio, a notícia de que a Band deixaria de transmitir o Brasileirão, após dez temporadas ininterruptas, pareceu grave ao mercado. Dias antes, em 28 de abril, as demonstrações financeiras do Grupo Bandeirantes, publicada no jornal Metro, trazia outro indício: a Ernst & Young, auditoria responsável por chancelar o balanço financeiro da companhia, dizia: “há dúvida significativa quanto à capacidade de continuidade operacional”.
O que representa esse alerta? Em qualquer balanço as auditorias, antes de liberá-los, precisam dar seu parecer quanto à situação financeira da empresa ponderando aspectos negativos e potenciais soluções. A EY trouxe no mesmo documento outra informação: “medidas já adotadas e em andamento pela administração para reverter essa situação patrimonial e financeira negativa estão escritas na referida nota explicativa”. Isso significa que a Band apresentou aos auditores um plano de contingência para reverter prejuízos acumulados de R$ 440 milhões.
Ao Meio & Mensagem, a emissora reforçou as ações que considera fundamentais para reverter sua situação. Afirma que está se concentrando em seus negócios principais, reestruturando operação e programação. “Além disso, está buscando a melhoria continua da margem operacional e descontinuando atividades não-lucrativas. Eventual venda de ativos será avaliada conforme cada negociação e somente levada adiante se for atraente para o Grupo. ”, diz a Band. Questionada se emitira uma nova emissão de debêntures (operação financeira que troca dívidas por créditos) semelhante a que foi feita no ano passado de R$ 250 milhões, o grupo afirma que isso não está nos planos.
Em termos de “descontinuar atividades não lucrativas”, existe, desde o ano passado, uma expectativa do mercado quanto à venda da Modern Airport Media, braço de comercialização de mídia em aeroportos da Outhernet. A Modern opera no maior aeroporto do País, o de Cumbica, em Guarulhos. Meio & Mensagem apurou que há interesse no mercado em adquirir somente o braço, enquanto o grupo deseja vender o corpo de out-of-home inteiro. Portanto nada avançou até o momento. Outro tema que vem sendo desmentido pela assessoria de imprensa do grupo seria a chegada da Turner, dona da CNN, como parceira.
Herbert Steinberg, sócio da Mesa Coporate Governance, que liderou processos de reposicionamento de empresas como Santander, Citibank e McDonald’s, ressalta que a análise que se faz da situação financeira da Band preocupa pela capitalização negativa, riscos de crédito no mercado local, taxas de câmbio ligadas ao dólar e lucro líquido negativo nos dois últimos anos. “A empresa precisa de um plano efetivo que mude o quadro atual que demonstra nos últimos dois anos falta de lucro para pagar os empréstimos. ”
Um executivo que trabalhou durante mais de quinze anos na emissora diz que a Band sempre foi muito cuidadosa com sua gestão financeira colocando-a inclusive na frente da gestão de conteúdo, o que poderia ser um reflexo da situação atual. Valter Bianchi, sócio da Fundamenta Investimentos, destaca que se o auditor afirma que há risco de continuidade dos negócios é porque entende que o endividamento está elevado frente aos resultados operacionais. “Isso coloca em dúvida a capacidade de pagamento das obrigações que a empresa possui”.
Aposta em conteúdo
A reestruturação de operação e programação apontada pela Band explicaria a decisão de abrir mão do Campeonato Brasileiro e de programas como o CQC. Neste momento, os esforços da emissora se voltam ao Masterchef, que na última edição fechou com recorde de patrocinadores, com marcas como Cacau Show, Carrefour, Dolce Gusto, Seara, Sky, Tramontina e outras. “O que me deixa mais feliz nesse sucesso comercial do MasterChef não é ter vendido todos os espaços comerciais disponíveis com antecedência, mas sim o reconhecimento desses mesmos anunciantes de que o retorno em vendas e imagem é excepcional”, afirma Marcelo Mainardi, vice-presidente de comercialização da Band.
Neste ano, outra aposta importante da emissora será a transmissão dos Jogos Olímpicos Rio 2016. “É o grande evento dos próximos anos. O público e os anunciantes associam automaticamente o esporte à Band e prevemos um incremento expressivo nas receitas”, comenta Mainardi. As marcas parceiras da emissora no evento são Bradesco, BRF, Schin, Correios, Ricardo Eletro, Volkswagen. Além de Coca-Cola, GSK, Aspen Pharma com cotas de participação.
Outra aposta da Band é a parceria com a Turner. Pela primeira vez, em abril, as duas empresas lançaram um plano comercial conjunto, com exposição na TV aberta e paga, além das respectivas plataformas digitais das duas emissoras. O projeto foi desenhado para a versão brasileira do reality show X Factor, formato internacional exibido com sucesso em mais de 50 países e que, no segundo semestre, chega à televisão brasileira – aberta e paga – por conta de uma coprodução entre Band, TNT e a FremantleMedia (detentora global do formato). Em fevereiro, os dois canais também estrearam em conjunto a série Terminadores, primeira parceria entre a emissora de TV aberta e o Grupo Turner.
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