Curadoria deve guiar futuro das mídias sociais
Segundo estudo da Consumoteca, usuários se desgastam com o grande fluxo de informações e desintoxicação digital não é eficiente
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Thaís Monteiro
17 de maio de 2019 - 17h09
Inspirados pelas discussões políticas que tomaram conta de mídias sociais na eleição do ano passado, o núcleo de pesquisa da Consumoteca fez um levantamento para medir o impacto dessas plataformas na polarização ideológica. A conclusão foi um fenômeno que o grupo denominou “espiral da verdade”, uma sensação de se estar preso num redemoinho de discursos e entrar em discussões que não chegam a lugar nenhum.
De acordo com Michel Alcoforado, antropólogo e sócio-fundador da Consumoteca, os usuários das redes caem nessa espiral por três motivos: infotoxicação (quando o indivíduo fica sobrecarregado de informação a ponto de ficar parcialmente incapaz de assimilar novos conteúdos), polifonia digital (cenário em que novas vozes produtoras de conteúdo e de informação disputam por relevância frente à audiência) e boia factual (situação na qual o indivíduo, pressionado a ter uma opinião, se agarra a uma coleção de fatos e constrói para si uma verdade que não admite outras interpretações).
Para chegar nessa conclusão, a consultoria realizou entrevistas qualitativas pela internet com mil brasileiros das classes A, B e C, além de entrevistas em profundidade com público de Recife, Rio de Janeiro e de São Paulo. Consultou ainda dez especialistas e criativos em conteúdo digital. Cerca de 78% dos entrevistados declararam ser incapazes de assimilar todo o conteúdo ao qual são expostos diariamente. A média de obtenção de informação, quando classificada de zero a dez, é de 7,4. Outros 50% dos respondentes disseram não ter tempo de checar a maioria das notícias que recebem no WhatsApp.Na visão do antropólogo, o Twitter é uma das redes sociais que mais contribui com a infotoxicação, “sobretudo para os adultos com mais de 30 anos”. “Ele gera um volume gigantesco de informação com opinião curta, direta e humorada com deboche e ironia”, coloca Alcoforado. Apesar disso, 64% das pessoas tem a internet como principal fonte de notícias e acontecimentos do dia a dia e 66% declarou abrir as redes sociais assim que acordam.
Para ele, os movimentos de desintoxicação digital ou slow media propostos por empresas de tecnologia e institutos de cuidados com a saúde mental não terá um resultado efetivo, uma vez que estar atualizado e conectado é importante no contexto social atual, seja para entrevistas de emprego e ou para bater papo. “Entrevistamos pessoas que fazem jejum intermitente, que ficam sem usar das 10hs da manhã às 22hs da noite, mas não ajuda muito. Basta você se conectar para receber uma enxurrada de informação”.
Isso, para Michel, abre espaço para uma mudança significativa das redes sociais de agregadores de notícias para curadores, selecionando o conteúdo a partir de dados sobre o comportamento de consumo do usuário e se propondo a diminuir o fluxo de informação e opinião que não agrega. “O sonho é uma home de veículos diferentes para cada tipo de pessoa e uma rede social que te entrega o que você quer ver. Não é a toa que a moda das newletters está crescendo. Eu não quero saber tudo, quero ver o que tem mais a ver comigo. Existem até newsletters temáticas. A curadoria será a única forma de existirmos nas redes sociais no futuro”, opina.
*Crédito da imagem no topo: Jakob Owens/UnsplashCompartilhe
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