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A estratégia por trás da vertical eSports da Omelete Company

CEO de eSports da companhia revela quais são os principais ativos e modelos de monetização da divisão

i 26 de setembro de 2025 - 12h50

eSports Omelete

G3X é a marca de performance da Omelete Company (Crédito: Divulgação)

Com a entrada de Gaules como sócio, em 2020, a Omelete Company, empresa dona da CCXP, estruturou uma área de games e eSports, que atualmente representa 25% do faturamento de toda a companhia.

A plataforma proprietária de negócios em eSports, que conecta criadores, marcas e a comunidade gamer, atualmente possui três principais ativos: o Gaules, como canal de transmissão; o G3X, como marca de performance, e a Tribo, comunidade de eSports da companhia.

Leticia Monteiro, que assumiu o cargo de CEO de eSports da Omelete Company em 2023, conta como a área, através de marcas como Gaules e G3X, se expandiu para além dos eSports, chegando nos esportes tradicionais, como a NBA e a Kings League.

Leticia Monteiro

Leticia Monteiro, CEO da eSports da Omelete Company (Crédito: Divulgação)

Em entrevista ao Meio & Mensagem, a CEO também revela como o modelo de negócios da vertical se baseia em diversas formas de monetização, que vão de patrocínios e licenciamentos até modelos inovadores como revenue share e media for equity. Confira abaixo na íntegra.

Meio & Mensagem – Por que decidiram transformar a área de eSports em uma plataforma proprietária com marca própria dentro da Omelete Company?
Leticia Monteiro – O Omelete é uma empresa voltada para o fã. A comunidade é o centro de tudo que fazemos. Cada loucura que pensamos, a comunidade está no centro. Quando pensamos em games e eSports, que é essa nova unidade de negócios que tem aqui dentro. Quando falamos de games e eSports, estamos falando de como as pessoas se relacionam, de como elas consomem conteúdo. Temos a marca Gaules, que é um canal de transmissão. Em alguns campeonatos, temos três, quatro, seis canais simultâneos passando conteúdo e campeonatos mais diversos. E o nosso canal de transmissão fala com uma comunidade de uma maneira mais verdadeira e mais profunda. É uma comunidade que tem valores, objetivos e engajamento próximos. Quando criamos os nossos conteúdos, quando pensamos nos nossos produtos, nos nossos projetos, pensamos muito no que essa comunidade está procurando. Vamos muito além da games e eSports atualmente. Hoje, temos o nosso canal de transmissão, transmitimos os campeonatos de eSports. Transmitimos esse ano a Copa do Mundo de esportes eletrônicos, que tem mais de 25 modalidades de jogos eletrônicos, como CS, League of Legends, Valorant, Free Fire, Mobile Legends. E foi um campeonato no qual colocamos quatro canais simultâneos transmitindo, com 75 narradores, casteres e influenciadores da área de eSports, fazendo essas transmissões, conversando com a nossa comunidade, conversando com o público, mais de 50 jogos no único dia. No esporte eletrônico tem coach, tem preparação, tem psicólogo, tem tudo ali pra dar todo esse suporte. E tem uma premiação muito grande. Essa Copa do Mundo de Esportes Eletrônicos teve uma premiação de US$ 70 milhões. A Libertadores é cerca de US$ 35 milhões. É o dobro da Libertadores. É um mercado que movimenta muito. E nessa jornada quando estou falando de transmissões de games e eSports, 140 milhões de pessoas no Brasil jogam um time de jogo, dessas 140, 100 milhões, 98 milhões de pessoas consome o conteúdo de games e eSports. Deixamos de ser nicho há muito tempo, estou falando com todo mundo. Trazemos o conteúdo para muita gente, mas de uma maneira que temos conversa com essas pessoas. E encaixa outro assunto, que são os esportes. Qual é a conexão que tem? Estamos falando de torcedor, de paixão, de conexão direta entre os públicos. Começamos nas nossas transmissões e não só com o Gaules, com restante da Tribo, a entender essa conexão direta entre o público de games e eSports e o público de esportes tradicionais. Já transmitimos no nosso canal NBA, Fórmula 1, futebol. Temos uma marca que é o G3X, que é a nossa marca de performance e ano passado criamos toda uma jornada do herói pelo interesse do nosso público em velocidade, em competição e em automobilismo, criamos essa jornada de transformar um dos nossos streamers, em piloto da Stock Car. Sentindo muito essa conexão e engajamento de toda a nossa comunidade com esse tipo de conteúdo, falamos “poxa, é uma área que podemos estar mais presente”, que é na área dos esportes tradicionais. Só que não queremos entrar na área de esporte tradicional, sem a nossa verdade, que é essa conexão verdadeira e direta com o nosso público. E surgiu a oportunidade, ano passado, de entrar para a Kings League. A Kings League é um jogo de futebol gamificado. O Piqué nos ligou e falou “estamos querendo expandir a Kings League da Espanha, e queríamos ir pro Brasil. E olhando para o Brasil, quem tem a maior comunidade no Brasil de games e esportes é você Gaules”. Falamos “poxa, tem tudo a ver. O Gaules é apaixonado, a comunidade é apaixonada”. Decidimos entrar para esse universo da Kings League com o nosso time de futebol, que é o G3X. E quando montamos a nossa equipe de futebol, que é o G3X FC, montamos um time que veio da comunidade. Temos no time, um jogador que veio do chat, que está ali diariamente conversando com o Gaules. Trouxemos um motorista de Uber, um cara da várzea. Montamos um time com a verdade. Tínhamos um mês para montar um time, jogar e ir para o mundial. Fomos vice-campeão do campeonato mundial, ano passado. Foi um sucesso absoluto com engajamento super alto, e com isso, depois, no final do ano, fomos campeão da Supercopa do Desimpedidos, jogamos esse primeiro split da Kings League aqui no Brasil, agora vem o segundo split. E a gente vem com este conceito de ter um time que é do povo e que carrega essa verdade. E é tão verdade que vamos fazer um centro de treinamento e ele vem da comunidade. A nossa comunidade está ajudando a definir onde ele vai ser, como ele vai ser, está ajudando financeiramente. Criamos um programa sócio-fundador do nosso clube. Vamos para um lugar onde todo mundo possa entrar e usufruir também desse centro de treinamento. E que possamos também ter projetos sociais dentro desse CT. Vamos criar projetos em parcerias com ONGs. Vamos ter escolinha, trazer as regras e toda a dinâmica da kings League para todo mundo. Somos muito focados em escuta direta da comunidade. Inclusive, o Brexe é o nosso diretor de estratégia e negócios, mas ele veio como o primeiro moderador do chat do Gaules.

M&M – Atualmente, quais são os principais ativos da vertical de eSports da O&CO?
Leticia – Trabalhamos com três principais marcas. A principal é o Gaules, como canal de transmissão, que nos conectamos e conversamos com a comunidade diariamente. Dentro do canal do Gaules temos uma grade de programações que vêm desde transmissões de campeonatos com direitos exclusivos, temos programas, mesas redondas, esse é um universo, tem todas as nossas redes sociais. Hoje, falamos com mais de 9,5 milhões de pessoas somando todas as nossas redes sociais. Muitas e muitas milhares de horas de transmissões, temos mais de 720 milhões de horas de transmissões. É um canal com alcance gigantesco. Temos o G3X, como uma marca de performance, e dentro dessa marca de performance o nosso principal ativo atualmente é o G3X FC, que é o nosso time de futebol, e junto com o G3X FC, temos toda a plataforma, todo o conteúdo, toda essa parte de interação, de trazer a performance de um time de futebol, engajamento. E temos a Tribo, que é o nome da comunidade. O Gaules faz parte da Tribo, temos um squad de streamers, que representam a Tribo, com diversos perfis, personalidades, com áreas de atuação diferentes. Hoje, somos uma empresa estruturada. A Gaules, como empresa, temos mais de 70 pessoas trabalhando.

M&M – Qual é o modelo de negócios dessa vertical? Em quais modelos de monetização a divisão aposta?
Leticia – Temos diversos modelos de monetização. Vamos desde o modelo tradicional de mídia, mas essa é a menor linha da monetização num modelo tradicional. Temos um modelo de patrocínio, com criação de projetos em conjunto com as marcas. Temos também um modelo que vai para licenciamento, collab. Temos histórico com a Nike, criamos uma linha de roupas no passado junto com a Nike, vendemos mais de 5.000 camisetas em 30 minutos. Criamos alguns projetos, mas são projetos bem pontuais. Também temos modelo de remuneração via revenue share, mídia for equity. Também fazemos algumas negociações de entrar, se tem sentido para a marca, se tem sentido para a nossa comunidade e para nós como empresa, entramos nesse tipo de negociação e parceria também.

M&M – A Omelete Company já conta com atuação fora do Brasil, inclusive, levando a CCXP para mercados como Alemanha e México. Quais são os planos de internacionalização dos negócios de eSports da companhia?
Leticia – Desde que começamos a trabalhar junto com Gaules, a gente vem muito na negociação e nessa estratégia de adquirir os direitos de transmissão, para que possamos ter exclusividade na transmissão, na língua portuguesa. E a gente vem crescendo e engajando. Atualmente, o Gaules é o maior canal de eSports no mundo, mesmo falando português. Isso mostra o poder que o Brasil, a América Latina tem e como os games e os eSports são relevantes aqui na nossa cultura e na nossa região, mas isso desperta muito interesse no mundo inteiro. O nosso poder e influência de como levamos informação, e de como trabalhamos tanto nas transmissões, como em relacionamento com as marcas. Isso atraiu o interesse de todo mundo. Com isso, começamos a expandir a nossa forma de atuar com transmissões, em diversos lugares do mundo. Por exemplo, se vamos fazer uma cobertura de um campeonato lá fora, temos uma equipe que chama Tribo Tour, que são repórteres que fazem a cobertura do local, os costumes, entrevistas. Já viajamos para mais de 22 países, levando a essa forma que trabalhamos e nos conectando tanto com a audiência local, quanto com as marcas locais. O nosso projeto de internacionalização vai muito onde temos um conteúdo relevante para comunidade e atuando em conjunto a estratégia da Omelete Company como um todo. Também levamos o nosso time, nossos atletas para fora do País também. Fazemos tanto empréstimo, cobertura, mentoring. Temos um trabalho em parceria com outras equipes ao redor do mundo.

M&M – Falando mais de mercado, essa semana saiu um relatório da Newzoo uma estabilização no percentual de crescimento entre jogadores em todo o mundo. Na sua visão, a que se deve isso e como a companhai lida com isso?
Leticia – Tenho uma visão muito certa. Estamos falando de um público jovem-adulto, engajado, que tem o senso de pertencimento, de querer fazer parte, de cocriar, de estar junto a todo momento. Teve um voo alto ali durante a pandemia, porque todo mundo estava dentro de casa. Não acho que vamos bater números e um crescimento tão expressivo como foi na pandemia, mas aquilo lá no mundo inteiro foi fora da curva. Aquilo ali não representa a realidade do mundo. Nada que aconteceu durante a pandemia representa a realidade do mundo. E quando olhamos para esse mercado de games, sim, ele vai crescer, ele tende a mudar formatos, a forma que as pessoas interagem. Trazermos cada vez mais o público para criar junto, para conversar, é um poder altíssimo. Sim, acredito que vai continuar crescendo com base nos nossos números e tem muitas oportunidades de as marcas se conectarem, se apropriarem desse mercado. Em algum momento, falando de marcas, de construção, as marcas se afastaram um pouco. Hoje não estou falando com nicho, estou falando com todo mundo. Todo mundo joga, todo mundo tem um joguinho no celular, o jogo faz parte da vida das pessoas e da forma que elas interagem entre si. O que acho que vai se estabelecer é nesse redescobrimento das marcas de como elas vão entrar nesse universo, principalmente empresas que estejam mais preparadas para receber. As marcas, hoje, têm uma necessidade de conversar com o público jovem. Temos Bauducco, Seara, RedBull, Kabum, Budweiser, um monte de marca que não é necessariamente do nosso mercado que vem e começa a experimentar e não mais trabalhando só com ações pontuais. As marcas começam a entender que elas precisam ter um relacionamento de longo prazo para que elas possam colher os frutos e a conversão direta. Quando falamos com uma marca grande, ela quer conversão, quer o resultado e ela encontra esse resultado de uma maneira direta, tanto em market share, quanto em ROI, trabalhando conosco. Não acho que precisa catequizar, mas é pensar em como se relacionar mais de uma maneira em longo prazo Temos uma forma de trabalho bem estruturada e voltada para os dados. Rodamos pesquisas com a nossa audiência de tempos em tempos, a cada três meses, tanto para entender as expectativas desse público, como ele se relaciona com as marcas, os resultados que essas marcas têm. Rodamos muitas pesquisas para trazer para eles esses números e resultados completos.