Como jornais e revistas estão incorporando inteligência artificial?
Estadão, Exame, O Globo e MIT Technology Review detalham como fazem uso da inteligência artifical para o conteúdo e negócios
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Thaís Monteiro
6 de setembro de 2023 - 7h32
Popularizada a partir do ChatGPT no final do ano passado, a inteligência artificial generativa (IA generativa) apresenta desafios aos veículos jornalísticos. Os riscos mais latentes envolvem quebra de direitos autorais e divulgação de desinformação, inclusive atribuídas a publicações jornalísticas.
Diante disso, veículos e associações do setor pressionam por regulação. Ao mesmo tempo, os publishers avançam no uso da IA a favor do conteúdo e entregas publicitárias.
Parte dos jornais e revistas de renome no jornalismo brasileiro já fazem uso da IA no dia a dia. Alguns criaram áreas para estudar o tema, como o jornal O Estado de São Paulo. Em agosto, o Grupo Exame anunciou a contratação do CAIO (Chief Artificial Intelligence Officer). O profissional deve educar limites e vantagens do uso da IA, desmistificar conceitos, identificar oportunidades de negócios, desenvolver soluções e viabilizar a ética na análise de dados.
Segundo o relatório Journalism, Media, and Technology Trends and Predictions 2023, 67% das publicações usam IA para conseguir recomendações sobre pautas e para os sites. Desses, 5% usam de forma frequente e 39% fazem apenas experimentos.
No Estadão, um comitê se reúne semanalmente para estudar IA em todas as dimensões, do jurídico ao editorial. Além disso, o jornal está em fase final de testes na integração de API do ChatGPT com seu chatbot. Para o diretor de jornalismo do Estadão, Eurípedes Alcântara, com a IA se torna mais simples o planejamento de reuniões, entrevistas e grandes projetos.
Como a IA impacta a produção de publicidade
E se desenha a possibilidade de personalização de conteúdo com adaptação rápida para públicos distintos. Na redação, jornalistas usam a tecnologia para a pesquisa e estruturação de reportagens, mas a empresa veda a publicação de conteúdo produzido ou modificado por IA.
“O papel do jornalismo independe de tecnologias. O desafio sempre foi fazer o primeiro rascunho da história e colocá-la à disposição dos leitores da forma mais honesta, clara e precisa possível. As IAs generativas podem ser de grande utilidade nessa missão”, afirma Alcântara.
Na Exame, IA é tema de editoria própria e a redação recebe workshops para serem apresentadas às ferramentas e entender seu uso na área. Por exemplo, na recomendação de conteúdo, transcrição de entrevistas, otimização de SEO e desdobramento de conteúdo para diferentes canais.
“Mas precisamos, sobretudo, focar no que a IA não consegue fornecer: o novo, o exclusivo. Reportagens que trazem novas histórias, novos personagens e novos olhares sempre foram o ápice do jornalismo e continuarão a ser o maior diferencial num ambiente mais competitivo”, diz Fernandes, CAIO do Grupo Exame.
Fora das funções jornalísticas, a tecnologia é útil em outros formatos, como disciplina no curso de MBA focado em IA para negócios. “A IA tem sido relevante fonte de geração de receita, pois estamos em plena atividade e com cursos sobre IA para negócios sendo comercializados, com grande procura e acima de nossas expectativas”, diz.
O jornal O Globo usa IA na recomendação de conteúdo para o leitor no site e em newsletters. No conteúdo, os jornalistas não utilizam IA para gerar matérias ou imagens, exceto nos casos em que a reportagem trate da IA com o leitor sabendo do uso da tecnologia no texto ou imagem.
Segundo o editor-executivo da publicação, a empresa estuda meios de aplicar a IA generativa de outras formas. “O que posso dizer é que não estamos usando nada objetivamente para produzir conteúdo porque não faz sentido para os nossos valores”, assegura o editor-executivo, André Miranda.
Como publicação mais focada em tecnologia, a MIT Technology Review faz uso mais amplo da IA, como na aferição do interesse público em determinada sugestão de pautas, análise de dados, avaliação de métricas e KPIs de redes sociais, construção de imagem, entre outros procedimentos. Apesar disso, a humanos ainda são responsáveis pela produção de conteúdo e tradução de conteúdo vindo de outros países.
“Entendemos que fica com cara de que não foi produzida por outro ser humano, mas sabemos que vamos conseguir entregar um volume maior de matérias daqui a pouco por conta da IA”, diz CEO da MIT Technology Review, André Miceli. No entanto, ressalta, há um caminho claro na possibilidade de individualizar conteúdo com base no que o consumidor prefere, se gostaria de receber análises esportivas por gráficos ou narrativa, por exemplo, dando à audiência mais possibilidade de consumir a notícia. Isso, por sua vez, pode tornar a matéria mais atrativa e aumentar o tempo de atenção do usuário.
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