Uma rainha da cocada em NY
Com técnica e bom humor, Raiza Costa transforma o ato de cozinhar em uma verdadeira arte de enfeitiçar, atraindo o público para a confeitaria francesa como se fosse a dona da casa de João e Maria
Com técnica e bom humor, Raiza Costa transforma o ato de cozinhar em uma verdadeira arte de enfeitiçar, atraindo o público para a confeitaria francesa como se fosse a dona da casa de João e Maria
Amanda Turchiari Boucault
20 de abril de 2016 - 12h01
Humor, técnica e tudo o que há de bom na confeitaria francesa. Esses são alguns dos ingredientes usados pela chef Raiza Costa para apresentar o universo da gastronomia com muita cor e sabor. Em 2008, a paulistana mudou-se para Nova York e decidiu unir sua paixão pela produção de vídeos ao gosto pela culinária para criar o Dulce Delight. O canal do YouTube, primeiro dedicado exclusivamente à confeitaria, soma mais de dez milhões de visualizações e tem mais de 200 mil assinantes. Desde 2014, a chef também estrela a websérie homônima no GShow. E, no ano passado, chegou à televisão com o Rainha da Cocada, no GNT. A atração estreou a segunda temporada este ano. Aos 29 anos, Raiza já frequentou o The French Culinary Institute of New York, participou do MasterChef americano e foi convidada por Jamie Oliver para integrar o elenco do canal Food Tube na internet.
Meio & Mensagem — Seus vídeos são plasticamente atraentes. De que forma você participa da criação do roteiro?
Raiza — Tanto o Rainha da Cocada quanto o Dulce Delight são muito autorais, me sentiria uma farsa se não participasse de todas as etapas do processo. Até porque criei uma dinâmica de trabalho diferente de qualquer produção gastronômica audiovisual. Tudo começa com ideias aleatórias que anoto no meu caderninho ao longo do dia, enquanto caminho, no metrô, de madrugada… A partir delas, penso em uma receita que nem sempre foi o foco daquela criação. Às vezes, um tema vem primeiro, como foi o caso do episódio do Pão de Açúcar, dedicado à bossa nova. Sento com a roteirista Mara Liz e despejo todas as ideias da minha cabeça. Ela faz uma pesquisa de pontos interessantes e históricos e depois criamos o storyboard de edição junto com a codiretora Livia Perini. Desenho cena a cena como gostaria que ficasse: cito as lentes que quero usar, ângulos da cozinha para explorar, indico as músicas, figurinos, utensílios, animação em stop motion, tudo. São 60 cenas. E não importa quantas horas passaremos ou quantas pessoas será preciso para filmar, elas vão acontecer!
M&M — E como é a produção para chegar a esse resultado?
Raiza — Após quatro dias de filmagem para cada episódio (dois dias de cozinha, um de externa e um de stop motion), vou para a ilha de edição ver se o primeiro corte do vídeo ficou fiel ao meu storyboard. Se sim, gravo o off com as informações adicionais e as narrações das animações. Ainda acompanho o segundo e terceiro cortes e faço minhas alterações. Se tudo estiver nos conformes, enviamos para cor e mixagem. Assisto novamente pontuando a mixagem — odeio cartoons sozinhos, por exemplo — e a correção da cor. Só então o episódio é enviado pela primeira vez à GNT. Esse cuidado excessivo com o trabalho resulta em uma parceria maravilhosa com o canal, que sempre aprova minhas criações e raramente pede alterações. É um dream job mesmo.
M&M — Quando você pensa num programa, quais são os critérios para combinar gastronomia, humor e a ambientação que conferem os diferenciais do seu canal?
Raiza — Autenticidade. Tenho um lema: nenhuma de suas ideias é idiota. É a partir desse conceito que crio. Não descarto minhas ideias e não me julgo. Não penso em ser popular, quero ser autêntica e uma coisa acaba sendo o reflexo da outra. Acho a mente humana genial e sempre levo em consideração minhas vontades. O Dulce Delight é um programa mimado porque não aceita ‘não’ como resposta (risos). Pulo de cima da bancada, tomo banho de chocolate, saio de dentro da geladeira… Sou livre para ser e estar. Esse é o diferencial.
M&M — Ao assistir aos seus vídeos, a impressão é que existe uma produção quase almodovariana nos tons de cores e humor. Quando você captou esse estilo tão próprio e em que momento soube que era o ponto exato entre a entrega que o seu público espera e essa veia algo histriônica?
Raiza — A repetição leva “quase” à perfeição. Sou completamente submersa na minha arte e nas minhas criações. E o aperfeiçoamento por meio da repetição me levou para onde estou hoje. Sempre tive aptidão para direção de arte. Veja bem, não acredito muito em aptidão porque a maioria das “aptidões” é alcançável pelo treinamento. Mas existe algo no olhar que não se pode treinar. Acredito que a direção de arte seja um deles e acho que esse dom realmente nasceu comigo. Com os anos, vivenciamos um monte de coisas, abrimos a mente, entendemos mais o mundo e vemos mais beleza em diversas coisas. Nunca soube e ainda não sei qual é esse ponto exato. Inclusive, acho que, às vezes, passo do ponto. Mas continuo aí, fazendo o que acredito, sem tirar nem pôr. Não tentar agradar acaba agradando muito nos dias de hoje, em que todos querem apenas ser adorados.
M&M — Seus vídeos destacam-se do que estamos acostumados no YouTube e na TV quando se trata de gastronomia. Como enveredou por esse viés criativo que aparece na sua produção?
Raiza — Nunca utilizei outros programas de culinária como referência. Hoje em dia, vejo que isso foi primordial para criar um conteúdo tão único e diferente. Nunca fui de assistir à TV, desde criança optava por subir em árvores em vez de assistir aos Ursinhos Carinhosos. Criei meu mundo. É como se sempre vivesse numa bolha criativa. Aos nove anos, preenchi todas as paredes do meu quarto com folhas de gibi, inclusive o teto. Aos 13, criei uma sandália feita de EVA (espuma de vinil). Sempre tive a necessidade de me expressar por meio de objetos e o Dulce Delight se tornou uma extensão disso. Vejo o canal como um quadro em branco, em que cada episódio é uma oportunidade de me expressar, seja com a decoração, a receita, as animações em stop motion ou até mesmo com os objetos de cena.
A íntegra desta entrevista está publicada na edição 1705, de 11 de abril, exclusivamente para assinantes, disponível nas versões impressa e para tablets nos padrões iOS e Android.
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