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Opinião

Para evoluir, tecnologia deve investir mais em diversidade

Incluir mulheres e outras minorias no ecossistema de inovação, pesquisa e tecnologia é essencial para desenvolver produtos e serviços que atendam e considerem as demandas específicas


6 de março de 2023 - 13h59

(Crédito: Lightspring-shutterstock)

Na última semana, estive presente no Mobile World Congress (MWC), evento internacional que acontece anualmente em Barcelona, na Espanha, e movimenta os universos das telecomunicações e tecnologia. Na ocasião, marcas globais lançaram inovações, como 5G e Metaverso. Temas que estão no início de suas histórias, que ainda trazem grandes incertezas sobre o impacto em nossas vidas e dúvidas de que forma as empresas de telecomunicações vão conseguir monetizar. Em contrapartida destas discussões extremamente relevantes, e que elevam o mercado a outro patamar, nota-se a falta de diversidade na agenda do setor, que, além de não evoluir no mesmo ritmo das tecnologias e das tendências, é pouco comentada.

Recentemente, vimos um crescente, positivo, mas ainda tímido, movimento da busca de diferentes perfis no mundo corporativo, considerando principalmente gênero, orientação sexual e raça. Houve também um aumento nas vagas afirmativas para públicos minoritários, leis de incentivo a contratações diversas, metas para oportunidades mais justas (como são alguns dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas), mas é ainda é preciso mais.

No setor de tecnologia, de acordo com a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brasscom), mulheres representam apenas 36% dos profissionais do setor. Ainda de acordo com a entidade, ao olharmos para a formação de profissionais na área de tecnologia, a desproporção dos gêneros é ainda maior: somente 14% são mulheres. Por isso, é cada vez mais importante que o tema seja discutido.

Para o MWC, fizemos um estudo no Boston Consulting Group (BCG) que avaliou a diversidade dentro do mercado de tecnologia, mais especificamente empresas de Web3 – geração da internet que tem como base a inteligência artificial, universo cripto e blockchain, essenciais para o funcionamento do metaverso, por exemplo. Na análise, avaliamos como as startups responsáveis pelo desenvolvimento de novos aplicativos têm se saído, e vemos um cenário preocupante: há uma clara falta de representatividade feminina entre fundadores e investidores de startups.

Os resultados mostraram que apenas 13% das startups de Web3 contam com uma fundadora mulher e, dentro desse recorte, apenas 3% das equipes são exclusivamente femininas. Na força de trabalho, aproximadamente 27% dos profissionais das principais empresas do setor são mulheres, mas a maioria destas ocupa funções não-técnicas, como recursos humanos e marketing. Os números ficam ainda mais alarmantes quando falamos sobre investimentos: empresas fundadas exclusivamente por homens arrecadam quase quatro vezes mais, em média, do que equipes formadas por mulheres. Entre as startups que arrecadaram mais de US$ 100 milhões em investimentos, nenhuma delas foi fundada exclusivamente por mulheres.

A pergunta que fica, após conhecer esses dados, é: por quê? Usando o Brasil como exemplo, vemos que os desafios para a qualificação de uma mulher começam na escola. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres representam mais de 52% da população nacional, mas apenas 13,3% das matrículas em cursos de graduação na área de Computação e Tecnologias da Informação, o que reflete no mercado de trabalho. Acredito, particularmente, que a pior consequência é corrermos o risco de reproduzir no digital o mesmo cenário do mundo físico.

Incluir mulheres e outras minorias no ecossistema de inovação, pesquisa e tecnologia é essencial para desenvolver produtos e serviços que atendam e considerem as demandas específicas. Isso significa ter mais resiliência e ampliar conhecimentos para entender as necessidades de uma gama maior de públicos, garantindo satisfação e fidelidade que vão além do produto ou do serviço. Outro estudo que fizemos, mostra que lideranças diversas resultam em um melhor desempenho financeiro, tendo margens EBTIDA mais altas em comparação com equipes sem diversidade.

Considerando tudo o que vi nas discussões realizadas na MWC e em nossos estudos, creio que posso deixar algumas recomendações e iniciativas que as empresas podem fazer para aumentar a diversidade em cargos de liderança.

• Métricas para tudo – mesmo. É importante ter uma medição minuciosa e objetiva sobre a representação de mulheres e de outros aspectos de diversidade em todo o ecossistema de negócio: fundadores, colaboradores e investidores da empresa. A medição ajuda a traçar metas, além de monitorar o progresso ao longo do tempo.

• Representatividade importa. Equipes exclusivamente masculinas têm maior probabilidade de apoiar negócios exclusivamente masculinos. Algumas empresas de capital de risco agora exigem que as equipes de investimento incluam pelo menos uma mulher, minimizando a chance de vieses preconceituosos.

• Não faça sozinho. À medida que governos e organizações se concentram mais em questões ESG, eles desenvolvem requisitos mais rígidos e outras medidas relacionadas à composição de gênero nas empresas. Empresários e investidores têm a oportunidade de colaborar de forma pioneira na elaboração dessas regulamentações, em vez de simplesmente esperar que elas apareçam.

• Tenha experiências inclusivas. Empresas com presença digital na Web3 devem se assegurar de que estão criando a mais ampla gama de experiências para os consumidores – considerando seus diversos perfis.

• Construa redes de apoio. Cúpulas da Web3 devem patrocinar eventos que trabalhem para garantir a equidade de gênero entre palestrantes, e líderes – homens e mulheres – podem dedicar um tempo para aspirantes a fundadoras e investidoras, com orientação, por exemplo.

Em resumo, a Web3 representa um dos grandes avanços na tecnologia dos últimos tempos, e construir essa inovação de forma diversa – com fundadoras, investidoras e outras profissionais – não é apenas importante, mas também fundamental para o futuro dos negócios e da inovação. Esperamos cada vez mais debater estes temas em eventos líderes do setor ao longo do ano, aqui no Brasil, na esteira do Mobile World Congress.

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