Redes do futuro se assemelharão e pensarão como organismos
IA, machine learning e transição para cloud e edge computing: redes 5G Advanced já mostram o potencial de conectividade para dar o próximo salto tecnológico
IA, machine learning e transição para cloud e edge computing: redes 5G Advanced já mostram o potencial de conectividade para dar o próximo salto tecnológico
Sergio Damasceno Silva
28 de fevereiro de 2023 - 13h01
Enquanto o mundo ainda trabalha na expansão das redes 5G — em novembro do ano passado, havia 127,5 mil lançamentos 5G em 128 países (eram 85,6 mil em 112 países em 2021) —, no Mobile World Congress (MWC) já se fala na nova onda 5G, que é a 5G Advanced. Que é a metade do caminho rumo ao 6G, previsto para entrar em operação comercial em 2030. E os debates giram sobre qual é a próxima fronteira do 5G, as mudanças reais que a rede permite e as novas demandas que virão com a evolução para 5GA, ou 5G Advanced. Nesta terça-feira, 28, um dos painéis sobre 5G e 5GA reuniu o SVP techlogy da Jio Platforms, Aayush Bhatnagar, o SVP e CTO de tecnologia e redes da AT&T, Igal Elbaz, e a head of product line 5G da Ericsson, Sibel Tombaz, para apresentar seus pontos de vista sobre essas questões.
A Jio Platforms é uma empresa multinacional indiana de tecnologia, com sede em Mumbai, e é subsidiária da Reliance Industries. Fundada em 2019, é a holding da maior operadora de rede móvel da Índia, a Jio, e de outros negócios digitais da Reliance. O SVP technology da Jio Platforms, Aayush Bhatnagar, diz que esse debate traz à mesa como isso afetará os negócios das operadoras, a indústria 4.0 e o impacto de longo alcance na sociedade e na economia. “Claro que estamos olhando à frente, para o 5G avançado e o 6G e como essas duas tecnologias se unem como caminho de evolução natural”, afirma. As redes da Jio estão, atualmente, na chamada versão 17 da 5G avançada. “Se você olhar para as versões 18 e 19, é aí que a diversão começa. Porque, pela primeira vez, estamos vendo muito foco em veículo aéreo não-tripulado (UAV, em inglês), o que a rede deve fazer para oferecer suporte a serviços baseados em drones (que já deram a cara nesta edição do MWC), o que a rede deve fazer para ter a robótica como parte integrante e parcela dos cases. E ir além da internet das coisas (IoT), ter dispositivos IoT habilitados para energia ambiente”, exemplifica o executivo da Jio.
Ao avançar sob a perspectiva de experiência, Bhatnagar ressalta a computação de borda (edge) e de uso na nuvem de borda (cloud): “É uma das direções estratégicas que acredito ser importante para qualquer mercado globalmente. Existem muitos casos de uso no mercado indiano por causa da alta teledensidade e do tipo de padrão de consumo que estamos vendo. Existem certos recursos para oferecer suporte a serviços de realidade virtual (VR) e aumentada (AR). Estamos tentando aprimorar esses produtos para que possamos casar os dispositivos finais com a rede e dar vida a isso. E, claro, o avanço da indústria 4.0, especialmente a automação industrial como um serviço que já existe há algum tempo, mas para o qual o 5G traz nova vida. Portanto, em resumo, seja a indústria 4.0, a computação de borda, a realidade estendida (XR) ou VR, não importa o que aconteça, a indústria vertical é 5G avançado”, avalia.
Um dos principais desafios que todas as operadoras americanas enfrentam, assim como todo o mundo, é a crescente demanda por conectividade, diz o SVP e CTO de tecnologia e redes da AT&T, Igal Elbaz. “É um problema bom de se ter por que está certo que as pessoas querem nossos serviços. Mas essa é a única coisa certa e constante. Sempre haverá um novo dispositivo conectado à rede. Carregamos, na AT&T, mais de 590 petabytes de tráfego por dia. É um crescimento de 30% ano após ano. E foi de 40% durante a Covid-19. O caminho para enfrentarmos esse desafio é se tornar a melhor banda larga. E fazemos isso construindo duas plataformas de escala: a rede sem fio 5G e uma rede de fibra. Estamos construindo agressivamente para passar das 30 milhões de unidades ativas com fibra até o final de 2025. Todos os nossos usuários 5G já estão rodando em cima de plataforma virtual baseada em nuvem. No final das contas, nem tudo é baixa latência. Não se trata apenas da interface da rede, mas da capacidade de colocar o aplicativo próximo ao cliente para reduzir a latência. Já integramos nossa rede em 11 grandes áreas metropolitanas nos EUA em seus nós de nuvem. Agora, podemos cobrir quase 70% da população com baixa latência.Se você pegar tudo isso com alguns dos grandes anúncios que se ouviu nesta segunda-feira aqui no MWC sobre a API de rede, a plataforma de monetização e construção de rede, agora temos uma plataforma para inovação”, detalha Elbaz sobre os processos evolutivos da rede da AT&T.
Eventualmente, diz, já se perguntou qual seria o aplicativo matador (ou killer application) para 5G. “Não acho que haja um. Provavelmente, há muitos. Quer se trate de jogos móveis ou realidade estendida ou carros ou IoT massiva. A AT&T tem mais de 100 milhões de dispositivos conectados nos EUA e mais da metade são cartões. E os carros estão se tornando a próxima plataforma móvel e são um ótimo exemplo do que o 5G pode trazer. Vou te dar um exemplo. Pense em um carro elétrico. Isso tem uma grande quantidade de dados que, por um lado, você precisa inserir constantemente o software no carro e, ao mesmo tempo, precisa descarregar alguns dos dados provenientes do carro para que coisas massivas sejam aplicadas. Você tem serviços de assistência por voz, serviços de entretenimento. E, com o tempo, pode precisar de operações telefônicas onde alguém pode assumir o controle do carro. E essa é a beleza. Com 5G, nós podemos”, diz.
Sobre a visão das redes do futuro, em primeiro lugar, acreditamos que a rede evoluirá de uma máquina para um organismo, afirma a head of product line 5G da Ericsson, Sibel Tombaz. O que isso significa? Que as redes atuais são poderosas e executam X exabytes de dados por mês. São superpoderosas, oferecem alta conectividade, têm segurança no mundo para 8,5 bilhões de assinantes. “Mas, quando se olha para isso, ainda são bastante estáticas. Precisam ser configuradas para serem capazes de entender o que precisam fazer. Ainda é preciso escrever algoritmos para dizer como abordar diferentes casos de uso. E isso ainda é bastante estático, embora flexível. As redes precisam se comportar como um organismo. E o que faz um organismo? Em primeiro lugar, o organismo adota o ambiente. Aprende e muda. E é baseado em intenção. Não vai dizer nada sobre minhas direções. Você só precisa dizer o que queremos alcançar com essa rede e tentar encontrar uma maneira de a rede perceber isso. Outro aspecto importante do organismo é que são muito conscientes da energia. Não querem consumir energia, a menos que seja necessário. E isso será extremamente importante para as redes do futuro: não podemos dizer que não podemos usar energia a menos que seja extremamente necessário. E acreditamos que o 5G é um passo extremamente importante para isso. Criamos uma plataforma de inovação extremamente importante nos últimos quatro anos. O 5G tem sido a tecnologia de crescimento mais rápido que já vimos. E foi criado para trazer inovações e aplicativos além do trabalho móvel desde o primeiro dia”, argumenta Sibel.
Mas, o que vem a seguir, questiona a executiva. “A próxima onda de 5G é realmente sobre colheita, é sobre usar a plataforma de inovação, o que se destina a isso significa uma rede com casos de uso ilimitados. E então olhamos para as tendências, também acho que foram destacadas. Vemos as tendências em três áreas diferentes. Em primeiro lugar, o consumidor, há uma grande mudança de paradigma que está por vir. A nosso ver, será tão grande quanto foram os smartphones e acreditamos que a realidade estendida e experiência imersiva serão essa grande mudança para o consumidor. Não apenas mudará como os consumidores se comportam e se comunicam, mas será utilizado também por indústria. Portanto, precisamos aprimorar algumas funcionalidades. Em primeiro lugar, atualmente temos avanço nas redes 5G e nos smartphones. A próxima onda do 5G terá diferentes tipos de dispositivos que incluirá sensores de tamanho muito pequeno, de energia muito baixa, custo baixo para óculos AR muito avançados e para drones. Essas redes precisarão fornecer conectividade premium”, diz Sibel.
A executiva também destaca a inteligência artificial (IA) como parte dessa revolução. “Voltando ao organismo como analogia, essas redes precisam ser inteligentes. Portanto, precisam executar IA, algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning) em todos os níveis, não apenas no nível de automação que é necessário para o tipo de inovação e algum RX no topo, mas acreditamos que a IA será usada em cada parte da rede para a camada sobre algoritmos, inclusive de adaptação de pensamento”, antevê.
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