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Varejo trabalha a sustentabilidade na cadeia de fornecedores
Representantes de varejistas multimarcas explicam os desafios de estabelecer práticas sustentáveis como padrão em toda a produção e distribuição
Representantes de varejistas multimarcas explicam os desafios de estabelecer práticas sustentáveis como padrão em toda a produção e distribuição
Thaís Monteiro
16 de janeiro de 2023 - 21h20
Tornar o mundo e a cadeia de produção e distribuição é uma corrida, não uma maratona. A frase foi uma fala de Sebastian Picardo, presidente e CEO da Holt Renfrew, varejista canadense de 185 anos. “Pensar na sustentabilidade quase como se fosse o novo digital”, disse.
No Retail’s Big Show, sustentabilidade é um tema recorrente, ocupa nove palestras com executivos de grandes marcas. Em duas delas, o foco foi a necessidade de engajar não só a própria empresa no tema, mas também fornecedores, para tornar o impacto ambiental o menor possível.
No Walmart, isso virou um projeto, o Gigaton. Lançado em 2017, a iniciativa tem o objetivo de reduzir ou evitar um bilhão de toneladas (gigaton) de gases de efeito estufa pela rede até 2030. Até 2021 a empresa afirma ter concluído 57% do total. “É um número grande, mas quebramos em partes menores tangíveis”, descreveu Chris Brooks, diretor de sustentabilidade do Walmart.
Para que o projeto caminhe de forma mais rápida e gere mais impacto, a empresa teve que convidar os fornecedores para embarcar nesse propósito e tem, desde então, tentando auxiliar os mesmos a atingirem seus objetivos, seja em energia renovável, redução da pegada de carbono e outros. “O maior desafio é a comunicação. Temos muitos fornecedores engajados, mas temos muito mais que não estão. Os que não estão na jornada precisam mais de nosso suporte. A dúvida é a abordagem: você chega com sugestões para esses fornecedores ou espera que essa relação se construa com o tempo?”, portuou.
A Holt Renfrew enfrenta as mesmas questões que o Walmart. “Acertar nessa área é desafiador para um varejista, porque não somos nós que produzimos o produto. São os parceiros”, explicou Picardo. Os varejistas devem manter um espaço aberto e colaborativo como forma de ajudar o parceiro, além de buscar por fornecedores que já tem um caminho forjado em direção a ser mais sustentável. Na empresa canadense, há um time de compradores focados essencialmente em pesquisar fontes sustentavelmente certificadas. “Você não pode só declarar suas missões e esperar que as pessoas venham junto. Tem que trazer na jornada e achar soluções juntos”, afirmou.
Também em um painel sobre sustentabilidade na cadeia de fornecedores, Martin Wolf, diretor de sustentabilidade e autenticidade da empresa de produtos para limpeza Seventh Generation, compartilhou a perspectiva de um produtor que é, no caso, fornecedor de varejistas, em relação à cadeia de produção. Essa perspectiva não é tão diferente da do varejista. O executivo explicou que tem que acompanhar o mesmo processo de verificação de fornecedores de ingredientes para a produção de suas linhas. Porém criar produtos sustentáveis por si só não é o suficiente.
“Nós reconhecemos que conseguimos fazer produtos de forma muito sustentável, mas reconhecemos que não vamos mudar o comércio sozinho. Temos que fazer com que o varejo valorize esses produtos para mudar”, afirmou. Nesse sentido é a própria marca que, por vezes, entra em contato com varejistas para introduzir os produtos e incentivar com que eles divulguem para os consumidores no PDV.
Adaptações
É claro que varejistas ou marcas preocupados com sustentabilidade ainda têm caminhos para evoluir. A própria Seventh Generation foi criada já pensando em produtos sustentáveis, mas tem enxergado novas possibilidades ainda inexploradas pelo negócio. Se antes a preocupação maior era com a origem do ingrediente e o quanto sua produção impactava no reflorestamento, hoje foi adicionada a essa preocupação a necessidade de tornar os produtos circulares. Algumas mudanças também foram feitas. Antes a Seventh Generation focava em embalagens biodegradáveis e hoje a empresa tem embalagens recicláveis.
Há, ainda, a lógica do transporte. Conforme Wolf, embalagens menores permitem um investimento menor em transporte, o que se traduz em menor impacto. O Walmart também está tentando amenizar o impacto do transporte de seus produtos. “Não vamos resolver tudo agora, estamos trabalhando e progredindo para tomar atitudes”, afirmou Brooks.
Desafios para a inovação e adoção sustentável
Wolf refuta o argumento de que produtos sustentáveis são caros. Na sua perspectiva, seu consumo, na verdade, gera economia pois há menos gastos com energia, transporte e outros. Porém, é difícil achar fornecedores certos ou não há fornecedores para suprir a demanda do desenvolvimento de um produto sustentável. Isso encarece a produção.
Na ponta dos consumidores, também é necessário ensinar a usar produtos que contam com designs diferentes com objetivo de ser mais sustentável. A Seventh Generation, por exemplo, desenvolveu um detergente para roupas cuja quantia utilizada era de uma colher, o suficiente para uma grande quantia de vestuário. Como os consumidores estão acostumados a usar grandes quantias de produto para lavar as roupas, a empresa teve que desenvolver um design de produto em que não era possível que o consumidor extraísse muito produto de uma vez e criou comunicação voltada a ensinar como usar o produto.
Picardo ainda elenca o desafio de acompanhar a jornada dos produtos e dos fornecedores para garantir que o menor impacto possível seja feito e transparência no processo.
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