Mídia

Streaming de Trump estreia prometendo “mais verdade”

Lançada globalmente, a Truth+, nova empreitada de mídia do presidente dos EUA, reforça discurso anti‑woke e conservador, mas levanta dúvidas sobre viabilidade e credibilidade

i 9 de julho de 2025 - 7h00

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Novo streaming de Donald Trump busca se blindar de plataformas tradicionais (Crédito Jonah Elkowitz/Shutterstock)

Donald Trump acaba de lançar um serviço de streaming chamado Truth+, com a promessa de oferecer uma programação “familiar, patriótica e não‑woke” para o público conservador. A novidade, que estreou globalmente nesta semana, é mais um passo do presidente norte-americano na tentativa de construir um ecossistema de mídia próprio — blindado da grande imprensa, das big techs e, segundo ele, da “censura liberal”.

O nome da plataforma, no entanto, não passou despercebido. A escolha por “Truth+” soa irônica: Trump é notoriamente conhecido por espalhar desinformação — da insistência em uma suposta fraude eleitoral em 2020 até a promoção de tratamentos ineficazes contra a Covid-19. Agora, se apresenta como o principal curador de uma plataforma que leva a “verdade” no nome.

Streaming para os “não-cancelados”

Operada pelo Trump Media & Technology Group (TMTG), a Truth+ funciona como um serviço de vídeo sob demanda e também ao vivo. Está disponível em dispositivos móveis (iOS e Android), via web, e já conta com suporte para Apple TV, Roku, Fire TV e Android TV. A empresa promete ainda versões para smart TVs da Samsung e LG nas próximas semanas.

O projeto chega com o objetivo declarado de criar um “refúgio” para conteúdos que, segundo o CEO da TMTG, Devin Nunes (ex-congressista republicano e fiel escudeiro de Trump), foram rejeitados pelas plataformas tradicionais. Em entrevista, Nunes descreveu o serviço como um espaço para narrativas “fortes, autênticas e livres de progressismo forçado”.

O catálogo inicial inclui o canal Newsmax, emissora de viés fortemente conservador, que ganha agora distribuição global via streaming. Também estão previstos conteúdos originais, documentários, entrevistas e programas alinhados à agenda MAGA (Make America Great Again).

Na prática, trata-se de um “Fox News sem filtros”, mais direto ao ponto na retórica populista e ultraconservadora. Trump aparece com frequência em transmissões e deve manter presença constante tanto como apresentador quanto como pauta.

A TMTG reforça que opera sua própria infraestrutura de distribuição de conteúdo, com servidores próprios e uma CDN (Content Delivery Network) independente, o que, segundo a empresa, torna a Truth+ “à prova de cancelamento” e menos dependente das gigantes de tecnologia.

Essa busca por autonomia técnica não é novidade. Desde o banimento de Trump das principais redes sociais, em janeiro de 2021, o ex-presidente investe em ferramentas que o mantenham conectado diretamente com sua base — fora dos canais convencionais.

Números que oscilam

Apesar da ambição de atingir um público global, os números financeiros da TMTG são preocupantes. Em 2024, a companhia reportou prejuízo de US$ 400 milhões, com receitas modestas de apenas US$ 3,6 milhões, mesmo após levantar bilhões em capital via fusões com empresas de aquisição de propósito específico (SPACs). O lançamento da Truth+ é visto por analistas como uma tentativa de gerar novas fontes de receita e atrair um público fiel, disposto a pagar por uma “Netflix conservadora”.

As ações da empresa tiveram oscilações modestas após o anúncio, e o impacto maior foi sentido nas ações da Newsmax, que se valorizaram com a perspectiva de aumento de audiência.

A Truth+ se apresenta como alternativa às grandes plataformas e tenta capitalizar em cima de um sentimento de perseguição percebido entre o eleitorado conservador dos EUA. Mas, para observadores externos, a escolha do nome e o discurso por trás da marca são elementos carregados de ironia. Afinal, Trump não é apenas um personagem central no debate sobre desinformação: ele ajudou a moldar a era da “pós-verdade”.