A distopia dos meus sonhos

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Opinião

A distopia dos meus sonhos

Diversos estudos mostravam que desenvolver as habilidades criativas das pessoas era o caminho mais democrático e acessível para reduzir a terrível desigualdade social que tinha se acentuado com a chegada da IA nos diversos campos da vida


28 de abril de 2023 - 12h00

Para alguns, a inteligência artificial se tornou a maior aliada (Crédito: Shuttestock)

Era uma manhã ensolarada, mas ao invés de acordar com o som do despertador, meu quarto se iluminou suavemente quando abri os olhos. O teto se abriu, como um céu azul em um dia de verão, e um bonito som de pássaros invadiu o ambiente. Eu era grato pela minha vida. Olhando para o mundo ao meu redor, não podia deixar de sorrir, lembrando de como tudo isso era uma utopia há poucos anos.

Cresci sonhando com uma vida melhor. Na minha casa já faltou muita coisa, mas, nunca, garra e vontade de vencer. Minha mãe sempre disse que eu tinha um talento criativo adormecido, que um dia iria criar algo que faria a vida das pessoas melhor. Mas a realidade é que nunca tive tempo de dar atenção a isso. Estava ocupado demais tentando sobreviver. Ainda mais nos últimos anos, quando a inteligência artificial acabou tornando muitos empregos obsoletos. Nunca vou esquecer do dia em que o meu trabalho de caixa no supermercado simplesmente deixou de existir. Foi o momento mais desesperador da minha vida. O que eu não imaginava era que esse seria também o momento da minha maior transformação.

Foi exatamente no último dia desse meu emprego que tudo começou a mudar. Caminhando cabisbaixo em direção ao ponto de ônibus vi aquele anúncio de uma Universidade Criativa. Mostrava o “copo meio cheio” daquela revolução provocada pela inteligência artificial. Naquele momento, não conseguia enxergar nada de positivo naquele mundo que tinha acabado de me deixar desempregado e desesperado.

O tal anúncio mostrava como diversas pessoas se “libertaram” de trabalhos rotineiros e tediosos ao descobrirem a possibilidade de trabalhar com a sua criatividade. Comprovava através de histórias reais como a criatividade era uma habilidade humana, que as máquinas jamais conseguiriam copiar. Fiquei animado com a possibilidade de um trabalho onde teria uma vantagem competitiva em relação a elas. Aquilo parecia um sinal do universo. E era mesmo.

Decidi então tentar “aprender a criar”. A verdade é que eu não tinha nada a perder. Fiquei muito impressionado quando descobri que essa tal Universidade Criativa era a empresa de educação que mais crescia no mundo. Isso porque muitas pessoas, assim como eu, buscavam um novo caminho para suas vidas profissionais. Até mesmo as escolas públicas tinham começado a ensinar criatividade desde a infância.

Diversos estudos mostravam que desenvolver as habilidades criativas das pessoas era o caminho mais democrático e acessível para reduzir a terrível desigualdade social que tinha se acentuado com a chegada da IA nos diversos campos da vida. Em todas as aulas, os professores reforçavam que a criatividade era esse “super poder” que está dentro de todos nós. A minha mãe tinha razão. A verdade é que ela sempre teve razão. Tenho muitas saudades dela.

Só consegui estudar nessa Universidade Criativa porque diversos governos e marcas tinham se unido para oferecer bolsas de estudo integral para pessoas como eu: pobres, desempregados e, até então, invisíveis. Esse programa se chamava “Criatividade para Todos”. Eles faziam questão de ensinar que não era um programa de caridade. As empresas tinham entendido que investir em ajudar as pessoas a desenvolver a sua criatividade era sobre oferecer a ferramenta mais poderosa de todas para construir uma vida melhor, com mais possibilidades de renda. E que isso, em última instância, era o caminho mais efetivo não só para reduzir a pobreza no mundo, mas também para aumentar o número de pessoas que poderiam ter acesso aos seus produtos e serviços. Ajudar pessoas como eu era sobre ajudar o negócio delas a crescer. Era uma lógica “ganha-ganha” que fazia sentido para todos. Entender isso foi muito importante para tudo que criei dali para frente.

Quase todas as marcas tinham um grande programa de fomento criativo. Qualquer pessoa podia enviar ideias e sugestões de como os seus produtos e serviços poderiam melhorar o nosso dia-a-dia. As marcas eram obcecadas por criar soluções criativas que resolvessem os maiores problemas e tensões da sociedade. Era incrível e estimulante trabalhar com isso… criar ideias para fazer a vida melhor. Como convivia com diversos problemas reais no meu cotidiano, acabei ficando muito bom nisso. Trouxe ideias que ajudaram diferentes marcas a criar soluções que realmente melhoraram a vida de muita gente. E isso mudou a minha própria vida. E pensar que eu achava que a minha felicidade tinha acabado naquele caixa de supermercado…

Na Universidade Criativa aprendi que há muitos anos isso era bem diferente. Meus professores contavam sobre um tempo em que essas mesmas marcas desperdiçavam a maior parte dos seus esforços criando coisas que não eram relevantes para as pessoas. Hoje eles chamam esse período como “A Era da Interrupção”. Contam que as marcas demoraram muito para entender que criar coisas relevantes para as pessoas era o caminho mais efetivo para crescer. É meio bizarro pensar que isso realmente aconteceu, mas é verdade. Parece que isso só começou a mudar quando pessoas comuns conquistaram atenção das pessoas criando conteúdos relevantes para elas. Depois de um tempo, essas pessoas viraram marcas que dominaram indústrias inteiras. Foi nesse tempo que nasceu a creator economy, da qual hoje faço parte. Se essas marcas tivessem tido a oportunidade de ouvir a minha mãe, quem sabe teriam tido uma sorte diferente.

Hoje, a inteligência artificial se tornou minha maior aliada. Todo dia ela me traz insights sobre diferentes problemas que as marcas poderiam ajudar a resolver na vida das pessoas. Consigo ver dados que são coletados no mundo inteiro e que me ajudam a criar ideias relevantes o tempo todo. Hoje, ensino para outras pessoas como colaborar com as máquinas. Como usá-las para tornar o processo de criar mais ágil, produtivo, assertivo. Como usar a IA para se inspirar o tempo todo.

Meu despertador toca. Abro a cortina e o dia está nublado. Olho no relógio e ainda estamos em 2023. Nossa, juro que esse sonho parecia muito real. Talvez tenha sido um sinal. É, acho que sim.

Obs: esse texto é uma ficção baseada em fatos reais e foi criado a partir da colaboração entre a inteligência humana e a inteligência artificial.

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