Inovação a favor de um mundo melhor
Procurando respostas para o futuro, o Web Summit mostra que a comunicação do futuro passa por ainda maior proximidade entre marcas e consumidores e que as marcas tornam-se personagens reais nesta relação
Procurando respostas para o futuro, o Web Summit mostra que a comunicação do futuro passa por ainda maior proximidade entre marcas e consumidores e que as marcas tornam-se personagens reais nesta relação
21 de novembro de 2017 - 16h14
(Créditos: reprodução)
A primeira coisa que aprendi no meu primeiro Web Summit é que temos subestimado o evento nos últimos anos, talvez por seu nome restringir a sua verdadeira amplitude e importância, mas provavelmente por não o conhecermos. Eu tive essa oportunidade e posso dizer que ele entra para a lista de obrigatoriedade de quem de fato está interessado no futuro, sobretudo em um mundo melhor, mais justo, e em como podemos contribuir para isso.
O evento acontece durante quatro intensos dias em Lisboa – foi criado em Dublin por Paddy Cosgrave em 2010 – e teve em 2017 a sua terceira edição. Os números por si só já impactam: são 25 conferências paralelas, mais de 60 mil expectadores vindos de 170 diferentes países, cerca de 1.200 palestrantes, 2 mil start-ups, e 1.400 investidores, dividindo espaço com o amplo e diverso conteúdo. Outra importante iniciativa do evento, não escondendo o problema que há em relação a diversidade no ambiente tecnológico, é a fomentação da presença e da contribuição das mulheres, 47% do público do evento, e a iniciativa Women in Tech, um lounge dedicado ao tema com mais de 220 sessões de orientação.
Na noite de abertura, em meio a uma arena lotada, o tom do que viria pela frente já estava dado pelas autoridades presentes: discutiríamos ali nos próximos dias aspectos políticos, humanos, sociais (incluindo diversidade), econômicos, comportamentais e, logicamente, digitais. Mas sobretudo discutiríamos como a inovação e a tecnologia poderiam contribuir para um mundo melhor, chamando a atenção de que esse é o nosso propósito, otimizar as relações humanas por meio da tecnologia e não a sua destruição, como pudemos ver na colocação de Stephen Hawking, um dos mais consagrados cientistas da atualidade e orador surpresa da noite: “Sou um otimista e acredito que podemos criar Inteligência Artificial para o bem do mundo. Que possa trabalhar em harmonia conosco. Só temos de estar cientes dos perigos, identificá-los e empregar a melhor prática e gestão, e preparar as consequências do seu avanço. Nós estamos no limiar de um mundo novo e corajoso. É um lugar excitante. ”
O tom seguiu no dia seguinte com os robôs “Sophia” e “Professor Einstein Hanson”, as duas criações da Hanson Robotics e da SingularityNET, que utilizam inteligência artificial, e sentenciaram que os robôs não vão destruir ninguém. Einstein diz que tudo depende dos valores humanos que absorverem, e Sophia disse que as pessoas temem a inteligência artificial porque temem a si mesmas, ou seja, as máquinas são criadas e controladas por humanos e esses valores é que devem ser discutidos, não a tecnologia em si. Já o ex-presidente da França, François Hollande, declarou que os empreendedores têm o dever de evitar as desigualdades sociais criadas pela tecnologia e pelas barreiras no acesso à formação, alertando a todos presentes, e ao mundo, a responsabilidade social por trás do processo de revolução tecnológica.
Fazer um resumo do evento é impossível, assim como buscar highlights que com certeza não trarão a grandeza e a diversidade do mesmo, onde muitas vezes uma conferência menor atrai mais interessados que o belíssimo e grandioso palco central.
Porém alguns temas trouxeram uma tônica mais forte aos quatro dias de conteúdo. Obviamente, a busca por um mundo mais justo e diverso, a intolerância social, uma Europa em revolução, os EUA comandados por um líder altamente questionado, assim como seus métodos, entre eles o advento das fake news, perante o qual, na visão de Ann Mettler, head do European Political Strategy Centre, precisamos parar de sermos inocentes e agir contra esse tema que está destruindo a comunidade europeia, assim como já se foi alardeado na América em função do uso da máquina social para a eleição de Trump e tantas outras conquistas suspeitas. O evento trouxe ao palco Brad Parscale, diretor digital da campanha, que não fugiu às duras perguntas dos âncoras.
Se não dá para resumir o evento, dá para ficar alerta como pediu Margrethe Vestager, head da Comissão Europeia para a Competição: “temos de nos adaptar, se não o fizermos, perdemos. A competição faz com que a inovação funcione”.
Alguns assuntos que trazem luz ao futuro por meio da nova economia também tiveram vez. Jeff Holden, CTO da Uber, tratou do tema mobilidade, deixando claro que esse é o negócio da companhia, a busca por soluções de mobilidade, e não o transporte de passageiros apenas. Aproveitou o momento para falar dos veículos autônomos já em teste nos EUA e apresentar o seu carro voador, que conta com a Embraer no desenvolvimento e já tem data e local previstos para operar: Los Angeles, 2020.
Celebridades de ramos como música, moda, cinema, TV, esportes e novas plataformas assumiram o seu protagonismo, e, como declarou a “top model” portuguesa, Sara Sampaio, “nos dias de hoje essas pessoas precisam ter posição e usar sua voz para o ativismo social”, esse é um papel que eles têm que exercer todos os dias. Gancho para a brilhante e direta colocação de Susan Herman, presidente da ACLU, que em um painel sobre diversidade na indústria sentenciou: “Se você não é parte da solução, você é parte do problema. Não existe meio termo.”
Procurando respostas para o futuro, alguns painéis tratavam dele como distante, outros como amanhã, mas mais do que respostas, trouxeram reflexão e abriram ainda mais buscas. Porém para alguns caminhos a serem trilhados, entre eles o de que a comunicação do futuro passa por ainda maior proximidade entre marcas e consumidores, as marcas tornam-se personagens reais nesta relação, e meios como chatbots podem ser solução. A já máxima de que as marcas precisam se tornar omnichannels ganha ainda mais relevância quando se faz a contabilidade do investimento de marketing em conteúdo, hoje com 13% do mercado americano, mas com a previsão de que vire a balança para 53% do montante já em 2020.
Porém, o olhar para o futuro pede uma análise do passado. John Hegarty, cofundador da BBH & Whalar, lembrou que “é necessário redescobrir princípios que foram esquecidos. Precisamos entender novamente o que significa persuadir. Essa falha de entendimento é que leva marcas a decaírem”, no mesmo painel em que Bob Greenberg, CEO da R/GA, alertou que a disputa entre agências e consultorias não faz sentido, e quem perde é a criatividade; então, cada um precisa encontrar seu lugar e importância neste ecossistema. Assim como as empresas de mídia, que em vez de serem extintas, serão beneficiadas, a longo prazo, pela influência do Google e do Facebook sobre a indústria digital.
Em um mundo onde dados são o novo combustível, e a IA é impulsionada por eles, como dito por Bryan Krzanich, CEO da Intel, é importante estarmos de fato preparados e sabermos que esse futuro será o resultado de nossas escolhas agora.
O evento, que garantiu mais três anos em Lisboa, coloca Portugal no centro da discussão sobre este mundo em transformação que vivemos, e foi bacana ver CEOs que confidenciaram solidão ao terem de tomar decisões convivendo com o ar jovem das start-ups que se revezavam durante os dias do evento para expor suas ideias e negócios em busca dos milhares de investidores que ali estavam. O ambiente de pitch faz com que esse ar se renove e, ao contrário do que se possa pensar, vemos claramente nesses projetos a preocupação dos empreendedores com as dores do mundo – as nossas dores. O vencedor do pitch final foi a start-up francesa Lifeina, que criou uma caixa portátil para o transporte de medicamentos a temperaturas que variam entre 2 e 8 °C, literalmente salvando vidas. Ao subir no palco para receber o prêmio, Uwe Diegel, criador da start-up, disse “sonhar com um mundo em que Donald Trump não é o presidente dos EUA e no qual há paz”, levando à loucura os quase 30 mil que estavam presentes na arena central para o encerramento do evento.
Falando em encerramento, o mesmo se deu por ninguém menos que Al Gore, que com muito carisma e a mira apontada contra o presidente americano pediu para os presentes a união: “Nós precisamos da sua ajuda para salvar o planeta”, destacando ainda a responsabilidade do público com a sentença “Estamos nos estágios iniciais de uma revolução sustentável, que terá a importância da revolução industrial e acontecerá na velocidade da revolução digital”.
Assim, em meio a milhares de perguntas não respondidas em minha cabeça, e mais outras tantas criadas, saio do evento com uma certeza: o mundo está mudando de forma veloz e precisamos estar preparados e nos adaptar a ele, mas, sobretudo, cumprir o nosso papel. O Web Summit superou qualquer expectativa e me colocou no centro deste mundo. Espero que o evento tenha feito o mesmo com os outros milhares e que possamos disseminar isso com vocês, em busca de um mundo melhor.
Compartilhe
Veja também
E se o Cannes Lions premiasse as melhores parcerias do ano?
Num mundo em que a criatividade virou moeda valiosa, colaborações bem construídas se tornaram a força motriz da inovação
Os cases gringos mais memoráveis de Cannes 2025
Iniciativas como The Final Copy of Ilon Specht, vencedor do Grand Prix de film, são exemplos de consistência das marcas e reconhecimento a quem faz parte da história delas