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Os jovens têm fome de quê?

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Opinião

Os jovens têm fome de quê?


14 de novembro de 2022 - 14h00

(Crédito: Shutterstock)

Nas últimas semanas, os jovens ao redor do mundo vêm tentando chamar a atenção de autoridades para a seriedade das questões ambientais, em especial das mudanças climáticas, com ataques a obras de arte famosas. Foi o caso da sopa de tomate jogada no quadro “Girassóis”, do holandês Van Gogh, na National Gallery, em Londres, Inglaterra. Ou ainda a situação no Museu Barberini de Potsdam, na Alemanha, em que um grupo ambientalista arremessou purê de batata em uma pintura impressionista do francês Claude Monet.

De início, essas atitudes podem parecer totalmente extremas, mas é necessário expandir um pouco mais a discussão e olhar para as motivações por trás delas. Vamos observar, por exemplo, o estudo recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), que mostra que a quantidade de metano (CH4) – um gás que contribui para o efeito estufa – lançada na atmosfera em 2020 e 2021 foi a maior desde o início dos registros, em 1983. Ou mesmo para o levantamento feito pelo Observa Infância, da Fiocruz, que revelou que o número de hospitalizações de bebês menores de um ano por desnutrição em 2021 foi o mais alto dos últimos 13 anos no Brasil.

São números alarmantes, que causam uma inquietação particular em adolescentes e jovens, pois se reflete na prática. É nesta idade que a energia para lutar por um mundo melhor é a mais elevada possível, como já pudemos ver ao longo da história da humanidade. No território brasileiro, um dos maiores exemplos disso foi o movimento da Diretas Já, que reivindicava eleições diretas na época do regime militar. Já em terras internacionais, não há como não destacar a famosa mobilização estudantil por pautas sociais no maio de 1968, na França.

Essa intensidade dos jovens é a prova cabal de que a política está em todo lugar e em todos os atos. E aqui é importante ressaltar que não estamos falando do termo no seu senso comum dos dias de hoje, mas sim da sua origem: segundo o filósofo Norberto Bobbio, na sua obra Dicionário de Política, a palavra é uma derivação do grego pôlítikós, que está ligada ao que se passa na vida do meio urbano, como, obviamente, as relações sociais e situações do ponto de vista civil e público.

Ou seja, graças à esperança ainda não contaminada pela letargia e pelos desgostos que vamos acumulando ao longo da vida e à ânsia de pertencer a um grupo, de ter voz e de construir um lugar melhor, o jovem grita por aquilo que dói. É uma ação que não é feita só por ele, mas coletivamente, justamente por conta do objetivo maior de fazer com que mudanças ocorram e, por fim, o mundo se torne mais inclusivo e saudável. É a esperança de soluções efetivas, não só palavras.

Nesse sentido, é fundamental que, além de autoridades governamentais, líderes de empresas e gestores de marcas pensem além do termo “propósito”. Ele é importante, porém precisa sair do papel e ser um palanque para que as novas gerações possam se posicionar e expressar aquilo que acreditam sem medo. Os jovens sabem que todos os aspectos das suas vidas, desde o que eles vestem até o que comem, possuem um significado forte e dizem algo sobre eles. Quem está à frente das corporações precisa entender esse movimento.

Portanto, antes de renegar as ações das novas gerações, é essencial que os empreendedores ao redor do mundo deem voz para essas pessoas. As armas que verdadeiramente importam são a do conhecimento e do posicionamento, pois elas têm a capacidade de alterar formas de pensar que, mais tarde, se tornam atos. Seria um desperdício de potencial, além de uma grande relutância em entender o contexto atual, não enxergar com olhos otimistas a energia dessa faixa etária e como a abertura dos canais de comunicação para elas está diretamente conectada ao futuro do planeta.

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