Otimista ou catastrófico?
Quem esteve em Austin, no SXSW, ou seguiu o evento à distância, tem agora que lutar para tentar pôr em prática os aprendizados adquiridos e os insights gerados nesses dez dias de experiências provocadoras
Quem esteve em Austin, no SXSW, ou seguiu o evento à distância, tem agora que lutar para tentar pôr em prática os aprendizados adquiridos e os insights gerados nesses dez dias de experiências provocadoras
(Crédito: Ben Houdijk/Shutterstock)
Se na ida a grandes eventos globais como o South by Southwest (SXSW), que acaba de encerrar sua edição de 2022, em Austin, nos Estados Unidos, a angústia maior dos participantes é a de hipnotizar o relógio e esticar a agenda para incluir o máximo de conteúdos e compromissos desejados, na volta, uma das aflições é também relacionada ao tempo, mas ainda mais complexa: como cavar espaços para colocar em prática os aprendizados adquiridos e os insights gerados? Nessa luta, por vezes inglória, os entraves da vida real dos ambientes corporativos são um banho de água fria em quem chega cheio de gás, alimentado pelas sensações e experiências provocadas pela convivência com a ampla diversidade de pensamento e a atmosfera de troca de conhecimento tão rica quanto a que se viu nesses dez dias em Austin.
Mesmo com menor número de participantes in loco, a volta ao formato presencial e as falas de convidados midiáticos e antagônicos, como Mark Zuckerberg e a jornalista filipina Maria Ressa, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2021, geraram repercussão na imprensa global e mantiveram a aura vanguardista e o espírito futurista do SXSW. O Facebook e o jornalismo, por sinal, são protagonistas de um dos principais debates alimentados pelo evento: a indústria da desinformação e as responsabilidades das plataformas disseminadoras, dos algoritmos manipuladores e dos agentes monetizadores — que podem ser, inclusive, marcas anunciantes que, em tese, não compactuam com o sistema que patrocinam.
Nos palcos do SXSW, discutiu-se desde o desgaste do termo “jornalismo” (“Se tornou uma palavra com significados ambíguos, com diferentes percepções”, disse Kelsey Ryan, fundadora e publisher do The Kansas City Beacon) até a retroalimentação entre polarização e fake news, que beneficia quem ganha dinheiro com a produção e publicação de notícias falsas (“É preciso o compromisso das marcas com um jornalismo que informe e cumpra o seu papel junto à sociedade”, pediu Claire Atkin, da Check my Ads).
Mantendo sua crença no jornalismo de qualidade, Meio & Mensagem fez a mais ampla e profunda cobertura do SXSW na imprensa brasileira, com cinco jornalistas circulando em Austin por dez dias e mais de 50 profissionais atuando como colaboradores, soma que gerou cerca de 200 textos publicados no site sxsw.meioemensagem.com.br, além de vídeos e postagens nas redes sociais.
A curadoria de conteúdo se complementa com as reportagens das páginas 34 a 40, que abordam temas como os dilemas sociais das big techs tanto nos sistemas de desinformação como nos impactos que seus produtos e serviços causam à saúde mental das pessoas, as consequências do avanço nos processos de desintermediação, os riscos de se maximizar a personalização em contraponto à criação de mecanismos de entendimento compartilhado — tema também caro à comunicação mercadológica — e os avanços e retrocessos na ambição de tornar a tecnologia mais humana.
Na análise destes ou de quaisquer outros assuntos, podemos aderir a, pelo menos, dois cenários, como costuma propor Amy Webb, CEO do Future Today Institute (FTI) e presença obrigatória na programação do SXSW. Sempre que comenta uma tendência, ela traça desdobramentos que levam a consequências otimistas ou catastróficas.
Mesmo que a trajetória da teoria à prática não seja vitoriosa, eventos como o SXSW atuam sobre nós na desautomatização do olhar e, consequentemente, na abertura de perspectivas diferentes e na exploração de territórios desconhecidos, por meio de novas ideias, referências e estruturas. Para os que acreditam que as transformações nascem da força de pessoas tradicionalmente marginalizadas ou de ambientes periféricos, há a esperança de que o Brasil, por estar fora do eixo central da economia global, possa contribuir de alguma forma com soluções criativas. Pelo menos é o que pensam os otimistas.
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