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Opinião

Para boi dormir

Não acredite que a corrupção é o único caminho possível para o progresso neste País


22 de maio de 2017 - 10h43

Divulgada na noite da quinta-feira 25, a carta assinada pelo presidente da JBS Joesley Batista, reconhecendo erros cometidos pela empresa em casos de corrupção, é procedimento padrão como parte do acordo de delação premiada oferecido aos donos da companhia. Não faz muito tempo, em dezembro do ano passado, a Odebrecht cumpriu a mesma formalidade, dentro de um pacote que incluiu multas de R$ 6,8 bilhões para serem pagas em longos 23 anos.

Foto: Reprodução

Em busca de razões menos constrangedoras para justificar a postura criminosa de seus dirigentes, na época a empreiteira flertou com a irresponsabilidade ao afirmar que “não importa se cedemos a pressões externas, tampouco se há vícios que precisam ser combatidos ou corrigidos no relacionamento entre empresas privadas e o setor público”.

Joesley Batista foi além. O empresário atentou contra a inteligência, a paciência e o bom senso do público, para tentar explicar o que não tem justificativa, como ele mesmo afirmou na carta — um instrumento que, pelos manuais de gerenciamento de crise corporativa, deveria também ser o passo inicial na jornada de reestabelecer as premissas do relacionamento da companhia com os consumidores de suas marcas, dos quais traiu a confiança.

“Nosso espírito empreendedor e a imensa vontade de realizar, quando deparados com um sistema brasileiro que muitas vezes cria dificuldades para vender facilidades, nos levaram a optar por pagamentos indevidos a agentes públicos”, escreveu Joesley. “Em outros países fora do Brasil, fomos capazes de expandir nossos negócios sem transgredir valores éticos”, comparou.

Como se cada um de nós estivesse condenado a corromper e ser corrompido, no único caminho possível para o progresso neste País. Ao apontar o dedo para outro lado que não o do próprio peito, o empresário transformou o que deveria ser um pedido formal de desculpas em uma ofensa pessoal a todos os brasileiros honestos. Em menos de um ano, suas empresas e alguns respectivos dirigentes foram citados em escândalos de corrupção em quantidade o bastante para empregar todos os dedos de uma mão ao enumerá-los. É provável que essa conta suba: pela generosidade no acordo fechado com o Ministério Público Federal, deve vir mais por aí.

É difícil não se frustrar com um roteiro destes, capaz de causar inveja nos engenhosos produtores de House of Cards, que aproveitaram a tragicômica saga de nossos políticos para promover o lançamento da quinta temporada da série da Netflix, por meio de post em sua conta no Twitter (“Tá difícil competir”, reconheceu, ironicamente, o texto publicado na noite em que o novo escândalo foi deflagrado).

Mas, em meio a tamanha turbulência, aumentam os sinais de que as condições internas e externas para uma recuperação da economia brasileira estão de fato se alinhando. Globalmente, o cenário é mais animador do que em anos recentes, com China e Estados Unidos em um relativo bom momento e a zona do Euro em vagarosa, mas constante recuperação — além de mais confiante em seu futuro após a vitória de Emmanuel Macron no pleito presidencial francês.

Dentro de casa, a criação de aproximadamente 60 mil empregos formais no mês de abril pode ter sido o começo da inversão de um ciclo negativo no mercado de trabalho. A rápida recuperação, ainda que parcial, do mercado financeiro e do câmbio já na sexta- feira 19 foi interpretada por analistas como uma aposta dos investidores em certa resiliência dessa ainda tímida retomada, sujeita a altos e baixos, trancos e barrancos.

Vamos em frente.

 

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