Pyr Marcondes
5 de abril de 2017 - 9h48
Imagine um porcão enorme empalhado e enjaulado num engradado de madeira. Imagine a mais sofisticada experiência de Inteligência Artificial em curso hoje no Planeta. Imagine agora o que uma coisa estranha tem a ver com a outra coisa estranha. Não dá muito pra imaginar, né?
Pois a IBM, a Ogilvy e a Pinacoteca imaginaram.
O porco é uma das obras do modernista Nelson Leirner, que causou em 1966 nos críticos que curavam as peças que iriam participar do 4º. Salão de Arte Moderna de Brasília o mesmo espanto e dúvida que os curadores do Salão Independente de Arte na França, em 1917, tiveram, quando Marcel Duchamp lhes propôs expor um mictório masculino na mostra.
Duchamp inaugurou a mais produtiva e imaginativa fase da história da arte contemporânea. O Porco (hoje no acervo permanente da Pinacoteca) fungou no cangote dos conservadores da arte brasileira e ajudou a construir parte da história da arte moderna no Brasil.
IBM, Ogilvy e Pinacoteca inauguraram ontem, na maravilhosa e incessantemente renovada Pinacoteca do Estado, a mostra Voz da Arte, em que o Watson, o projeto de Inteligência artificial da IBM, guia os visitantes com sua voz feminina Isabela (com a que tive a oportunidade de conversar no palco do ProXXIma ano passado, numa experiência modéstia à parte pioneira da máquina em palcos de eventos …. yessss!!!) por 7 obras escolhidas do acervo (O Porco é uma delas), respondendo a todo tipo de pergunta esdrúxula que possamos fazer sobre cada uma delas. O porco é Palmeirense?
Ele pode responder agora a 12 mil perguntas. Na medida em que a exposição for caminhando no tempo e novas perguntas ainda sem respostas forem sendo feitas pelos visitantes a partir de hoje, ele vai incorporar outros milhares de novas respostas ao seu conhecimento que, em tese, pode ser infinito.
A ideia original foi gestada pela IBM e Ogilvy e a Pinacoteca contribuiu, em seis meses de preparação de todo o projeto, com a curadoria das obras e todo o conhecimento e informações necessários para abastecer o Watson com o que ele sabe hoje.
Ações como essa, em que algo tão absolutamente sofisticado que está sendo desenvolvido nos mais avançados laboratórios de pesquisa do mundo hoje, têm a função de mostrar a todos nós, ordinary people, do que é capaz a Inteligência Artificial, a computação cognitiva e o machine learning (se você quer saber a diferenças e semelhanças entre essas coisas, veja matéria que publicamos aqui no ProXXIma semanas atrás) no nosso dia a dia.
Aliás foi sobre isso parte da fala de abertura da exposição ontem de Mauro Segura, Diretor de Marketing da IBM, mente privilegiada e espírito iconoclasta que está por trás dessas e tantas outras experiências legais que a IBM tem promovido no País nos últimos tempos.
Mauro nos convida a pensar num momento bastante próximo em que perguntaremos ao produto o que ele é, qual sua composição, para que serve, quando e onde foi fabricado, se ele está ou não estragado, coisas assim, na gôndola do supermercado. E ele vai responder.
Se dá para criar uma mostra interativa em que as obras de arte, via Watson, literalmente falam com os visitantes, imagine-se o que o marketing pode fazer com um instrumento como esse.
Aliás, pode sair imaginando, porque hoje muitas coisas que apenas sonhávamos antes, já podem ser construídas hoje. Coisas falarem com a gente, por exemplo, já rola. E o que mais? Up to you.