Pyr Marcondes
4 de junho de 2017 - 19h19
Mary Meeker, a deusa dos investimentos do Vale do Silício, hoje sócia da Kleiner Perkins Caufield & Buyers, solta um mega-estudo todos os anos (como já falamos aqui semana passada). Analisá-lo mais detidamente é o melhor e mais completo caminho para entender o que está acontecendo no mundo digital hoje. São 355 slides.
Eu li todos e trago aqui uma síntese do que, na minha opinião, devemos prestar mais atenção. Já com meus pitaquinhos interpretativos e analíticos, que ninguém é de ferro.
Vamos lá.
A penetração da internet segue crescendo em todo o mundo e já somos 3,5 bilhões de conectados, mas o ritmo de crescimento está se estabilizando. Isso ocorre porque a internet está atingindo o limite possível de sua expansão com o que temos hoje de base instalada de conectividade. É por isso que empresas como Google, Amazon e Facebook estão investindo pesado, cada qual seu modelo tecnológico proprietário, para ver como ampliam a infra-estrutura de conexão para populações que não tem hoje ainda acesso à web.
O mesmo acontece com os smartphones, cuja base possível de expansão está chegando ao esgotamento, neste caso com presença ainda mais ampliada que a própria internet no mundo, mas o ritmo de crescimento está reduzindo sua velocidade.
Mas o nível de uso de aparelhos móveis para conectar-se com a vida cresce na população em todo o mundo.
Os investimentos em publicidade digital seguem crescendo nos EUA atingindo em 2016 U$ 73 bilhões. O importante é perceber que hoje 50% desse investimento é feito em mobile advertising.
Esse ritmo acelerado de crescimento da publicidade digital já coloca o setor em linha com os investimentos em TV hoje, mas a tendência é que o digital seja maior do que a ela (aqui tem um borrão … todas as iniciativas digitais de TV e o faturamento que elas hoje geram ficam em que coluna, digital ou TV? Minha opinião: essas coisas são cada vez mais uma só e fazer essa separação terá cada vez menos sentido).
Google e Facebook seguem crescendo mais que a média dos demais players de mídia nos EUA.
Pinterest surge como player importante para acelerar vendas no varejo. Snapchat, por sua vez, se destaca pelo alto nível de engajamento. Conteúdos seguem crescendo também como aceleradores de vendas.
O futuro da busca na web tende a ser mais por imagens do que por palavras. Voz também será outro mecanismo de busca que deverá crescer. Atenção produtores de conteúdo, agência e marcas… dicas importantes essas…
Mídias sociais passam cada vez mais a funcionar como suporte para atendimento aos consumidores. Por outro lado, cresce sua influência na hora de detonar más experiências com marcas via redes: 82% das pessoas ouvidas pelo estudo deixaram de comprar produtos de marcas detonadas nas redes.
A tendência O2O segue crescente: consumidor encontra o que quer comprar na web e pega na loja, otimizando para ele e para o varejista toda a operação.
Hábito de comer em casa cresce, o que acelera oportunidades para serviços de delivery tanto de restaurantes como de supermercados e mercearias.
O e-commerce em geral segue crescendo. A tendência de lojas por assinaturas é outra que tende a crescer nos próximos anos.
O universo de jogadores de games segue crescendo vertiginosamente, atingindo hoje mundialmente um total de 2,6 bilhões de gamers, é um terço de toda a população online do Planeta. É sem dúvida a atividade online que tem maior penetração e maior grau de engajamento. Aliás, se entendermos games como uma manifestação de rede social, eles engajam mais que Facebook, Snapchat, Instagram, etc.
Destaque nesse ambiente é o crescimento dos eSports, um fenômeno a ser observado à parte.
Games, na sua versão gameficação, passam também a ser utilizados para otimizar performance em uma série de atividades humanas, que vão do esporte a educação, saúde a militar, passando por incremento operacional e de performance também em atividades profissionais.
O estudo de Meeker destaca ainda que games são indicadores de tendências de negócios, por sua intensa interatividade e engajamento. Personalidades de peso do mundo digital como Elon Musk, Reid Hoffman e Mark Zukerberg, além de jogadores vorazes, entendem que os games induzem a dinâmicas de lógica e dedução estimulantes para inspirar soluções de negócios. Doido, né?
Os serviços de streaming pago de música devem seguir crescendo. Spotfy é a grande plataforma mundial do setor, com relevância crescente.
A tendência das pessoas não seguirem assinando crescentemente mais pela TV paga, infelizmente, é registrada pelo estudo como relevante.
Ao contrário, o streaming de vídeo e o vídeo on demand são tendências crescentes e Netflix catalisa a liderança mundial nesse segmento. Mas ainda seguem líderes disparados em streaming mobile o You Tube, esmagadora liderança, seguido pelo Facebook. O Snapchat lidera crescimento no chamado sub-segmento do conteúdo em vídeo forma curta (short form), ou seja, vídeos rapidinhos, por si só também uma tendência em rápida expansão.
Meeker reserva vários slides de seu estudo para os mercados de tecnologia e digital da China e Índia, ambos considerados em fase de expansão acelerada, sendo que quando vemos os números da China, parece que nossos mercados são pequenos quintais de jardim da infância.
No caso da Índia, um país de grandes disparidades sociais e de uma população maciçamente pobre, o que o estudo destaca é o avanço tecnológico world class do País (avançados centros de pesquisa e desenvolvimento, com forte participação da academia), sendo que esse avanço começa a se distribuir para várias áreas de atividade indianos.
O que está acontecendo na Índia é o que aconteceu décadas atrás com os chamados Tigres Asiáticos, com fortes investimentos em educação e saúde.
Outro destaque à parte do estudo é a avançada digitalização e sofisticação tecnológica da indústria da saúde, um fenômeno cuja excelência está acima dos demais setores da economia. Quando falamos em wearable computing e personal data insights (que usamos também no mundo do marketing) o setor dá um banho em todos os demais. Destaque também para o sub-setor de pesquisa e uso do conhecimento sobre genoma para aplicações de dia a dia.
Por fim, o estudo de Meeker joga uma luz na vertiginosa e impressionante capitalização e valorização das empresas líderes em tecnologia e da cena digital. Abaixo, o valor de mercado (market value) das principais companhias velhas conhecidas nossas.
Em seguida, a relevância desse mundo se comparado com o chamado mundo de tijolo e cimento. As 5 primeiras em valor de mercado empresas do ranking são de tecnologia digital, sendo que Apple é hoje a empresa mais lucrativa do mundo.
Para concluir, Meeker nos dá uma dose de esperança, mostrando que apesar da inhaca toda em que vivemos hoje no mundo, muitos indicadores parecem demonstrar avanços na qualidade de vida das populações mundiais.
Um resumão possível diante de tantos dados e insights é que o mundo digital evolui de maneira inexorável e que novas tecnologias vão se incorporando ou evoluindo a partir de outras já existentes e que não há como ignorarmos toda essa evolução, que de resto se mistura com o que poderíamos de chamar de a própria evolução da Humanidade no Planeta hoje.
Não é pouco.