ProXXIma e Claudio Pinheiro
20 de dezembro de 2019 - 7h42
Por Claudio Pinheiro (*)
As últimas décadas registraram uma profunda transformação na sociedade. Mudaram as relações interpessoais, os comportamentos, os hábitos de consumo e também o mercado de trabalho. A grande propulsora dessa nova era foi a tecnologia. Com o avanço da inteligência artificial (IA), do aprendizado de máquinas e da Internet das Coisas (IoT) recriamos processos e o modo de realizar as nossas tarefas diárias. Não é por acaso que hoje, de acordo com dados do Global App Trends Report, da Adjust, existem mais de 7,9 bilhões de celulares conectados à internet, um número que supera a população mundial. Isso sem contar computadores, tablets e outros elementos eletrônicos que nos permitem essa conexão com o poderoso universo digital.
Se antes havia um medo profundo em relação à substituição dos seres humanos pelas máquinas, aparentemente esse temor já não existe. Aprendemos com o passar dos anos que é possível trabalhar em conjunto com esses sistemas para criar soluções que impactem positivamente em nosso dia a dia. Na saúde, por exemplo, grandes hospitais estão trabalhando com inteligência artificial para acelerar a compreensão de novos estudos para doenças graves, como o câncer. Com a IA, teremos cuidados médicos personalizados, uso mais eficiente da energia elétrica, melhor capacidade de produção de alimentos e trabalhos melhores. As pessoas terão vidas mais longas e com mais qualidade.
Na era da economia da atenção, a IA também tem um papel importante. Um dos maiores benefícios da Inteligência Artificial é a eliminação de tarefas repetitivas. Desde chatbots, que concedem mais tempo livre aos seres humanos para dar atenção a assuntos mais complexos, até a programação de apps que eliminam a necessidade de agendar reuniões, a IA eventualmente irá nos ajudar a investir mais tempo em atividades criativas e de alto esforço mental.
Por falar em tempo, a IA irá poupar tempo considerável para as empresas ao realizar tarefas e coletar dados, além de proporcionar decisões com base neles bem mais rapidamente do que os seres humanos são capazes de fazer. Não por acaso, a projeção do estudo IDC Predictions Brazil 2019, realizado pela IDC Brasil, é que os investimentos globais em inteligência artificial cheguem a US$ 52 bilhões até 2021.
No Brasil, 15,3% das médias e grandes empresas já contam com a tecnologia entre as principais iniciativas e este percentual deve dobrar nos próximos quatro anos. As áreas com maior potencial de crescimento estão ligadas ao atendimento a clientes, análise e investigação de fraudes, automação de TI, diagnósticos e tratamentos de saúde. Para 2022, a previsão do uso de inteligência artificial é de 20% das empresas usando tecnologias de voz para interação com clientes e, em 2024, interfaces de inteligência artificial e automação de processos devem substituir um terço das interfaces de tela dos aplicativos.
O estudo Cenário Global da Inteligência Artificial, publicado pelas companhias Asgard e Roland Berger em 2018, também mostrou que o Brasil está na 17ª colocação no ranking de empresas que se dedicam exclusivamente à IA. Estados Unidos e China lideram a lista.
O crescimento acelerado da IA e de suas aplicações muda o cenário do mercado de trabalho. Empregos que estávamos acostumados há dez anos, já não têm mais espaço. Estudo do Massachussets Institute of Technology (MIT) aponta que a IA e Machine Learning são as áreas de trabalho com maior projeção de crescimento para os próximos anos.
Abre-se agora um universo de novas profissões, segmentadas basicamente, dois grupos: um focado no desenvolvimento tecnológico, também chamados de construtores de inteligência artificial, com vagas para engenheiros de aprendizado de máquinas, tecnologia artificial em nuvem, para citar algumas; e outro focado no empoderamento das pessoas, que vão se valer dessas ferramentas tecnológicas para amplificar suas capacidades de atuação e expressão, tais como blogueiros, youtubers, influencers e profissionais de marketing digital, por exemplo.
Para atender as exigências desse novo mercado, também chamado de 4.0, os profissionais precisam estar focados em desenvolver skills analíticas, sendo capazes de compreender e aplicar processos ligados às novas tecnologias, executando melhorias contínuas nos processos gerenciais de todo o ecossistema empresarial. Posicionamento que vai ao encontro da metodologia ágil, um modelo que propõe alternativas à gestão de projetos tradicional e tem a função de aprimorar o processo de desenvolvimento de um produto ou serviço. O objetivo final é fazer entregas com rapidez e com maior frequência, conforme surgem as necessidades do cliente.
Em razão desse novo mercado, um aprendizado tecnológico precisa estar presente em diversas áreas do conhecimento – da saúde a administração de empresas e ao direito. Profissionais já atuantes ou aqueles em início de carreira devem buscar instituições voltadas a esse perfil e com iniciativas capazes de integrá-los a esse novo universo. Recentemente estive em um encontro sobre o tema no Centro Universitário UNIBTA em São Paulo, a Semana de Gestão e Tecnologia (SGTI), e reforcei o quanto iniciativas como a da instituição são importantes para formar novos líderes para o mercado de trabalho, preparados e conectados a inteligência artificial e a gestão 3.0.
A tecnologia e tudo que ela nos proporciona é algo fascinante. Cabe a nós decidir até onde ela vai nos levar. Atualmente todos podem obter conhecimento de forma digital e enriquecer suas vidas com a imensidão de conteúdos profissionais, artísticos, de entretenimento ou sociais com capacidade de interagir em escalas internacionais a custo zero.
Nos próximos dez anos, vamos mergulhar num oceano de dados e num infinito céu de possibilidades. Está em nossas mãos utilizar tudo isso da maneira correta, potencializando um futuro melhor para a humanidade.
(*) Cláudio Pinheiro é Cientista de Dados Sênior na IBM, professor e coordenador de pós-graduação na área de Inteligência Artificial e Data Science em renomadas instituições de SP. TedX speaker, membro do Technology Leadership Council-TLC e do Instituto Brasileiro de Neurociências e Neuroeconomia- IBN.