
22 de novembro de 2017 - 13h01
Por Fernanda Snel (*)
Com a intenção de encontrar um novo seriado para assistir, me deparei com The Good Place, uma ficção que retrata a vida após a morte de pessoas que mereceram ir para o lugar bom. E é lá que vive Janet, uma assistente pessoal, que surge do nada quando alguém pronuncia seu nome.
No mesmo dia, fui ao cinema assistir Blade Runner 2049, continuação de ‘Blade Runner – O Caçadores de Androides’. No filme, a maioria da população tem uma vida muito solitária, e por isso a mesma fabricante de androides desenvolveu um produto chamado Joi, uma assistente pessoal criada para ser uma companhia até mesmo amorosa.
O curioso é que tanto em The Good Place quanto em Blade Runner 2049, as assistentes não fazem parte da temática principal, mas possuem um papel importante, inclusive de adicionar humor à narrativa. Na série, Janet é bastante artificial e ainda está aprendendo a lidar com humanos. Ela sorri independentemente do assunto, o que gera situações inusitadas. Em um dado momento da série, planejam desligá-la, e ela – sorrindo – diz: “Não sou humana e não posso sentir dor. Entretanto, ao se aproximarem do botão, começarei a implorar para viver. Existe para o caso de um desligamento acidental, mas vai parecer bem real”.
Mesmo sendo holográfica, Joi é humana. Ninguém duvida que ela seja uma ótima namorada para K (Ryan Gosling). Ainda assim, suas falhas técnicas garantem risadas, como na cena romântica e clássica de um beijo na chuva, em que ela simplesmente trava.
Ambas as personagens são bastante reais, não podem ser chamadas de computadores nem robôs. São inclusive interpretadas por atrizes (D’Arcy Carden e Ana de Armas), mas falham em diversos quesitos da complexidade humana – mesmo em um universo em que androides são viáveis desde 2005.
De qualquer forma, assistentes digitais não tão humanos quanto Janet e Joi já são realidade. Nos Estados Unidos, 35.6 milhões de americanos usam algum assistente digital e é a Alexa, do Amazon Echo, que lidera o mercado com 70% de Market Share, conforme pesquisa do eMarketer. Lançado no final de 2016, o Google Home possui quase 25% de share. Por sua vez, Siri e Cortana, que hoje são assistentes de celulares e computadores, prometeram chegar na sua sala de estar em breve. A Apple começará a vender o HomePod em dezembro, e a Microsoft já anunciou a chegada do Invoke, ainda sem previsão de lançamento.
Provavelmente, muitas empresas ainda vão se aventurar neste mercado, ou até em nichos dele. Um exemplo é a Vinclu, empresa japonesa que apostou em um assistente parecido com a Joi. O produto é o Gatebox, e dentro dele vive a Azuma Hikari: uma personagem disposta a fazer parte de sua vida. Ela pode enviar mensagens quando você está fora de casa e, quando você chega, lá está ela ansiosa pra desfrutar de sua companhia.
Comprei o meu Google Home há alguns meses. No começo, conversávamos mais, afinal era novidade. Hoje, já existem algumas funcionalidades dele que fazem parte da minha rotina. Quando estou em casa, posso pedir para ele adicionar eventos à minha agenda, definir timer ou despertador, pedir para tocar playlists e até me contar que música está tocando. Como tenho Chromecast, pode ligar a TV do quarto ou da sala para dar play em uma série da Netflix ou vídeo do YouTube. Pode até mesmo informar o horário em outros países, traduzir frases para outras línguas e me contar piadas, não muito boas.
Parece básico, porém mágico. Além disso, quanto mais elementos inteligentes uma casa tiver, melhor. Imagine poder usar a voz para controlar as luzes, o termostato e a campainha da porta de entrada. Tudo isso já é possível. Não é mais coisa do futuro, nem de cinema. E é assim que a IoT (Internet of Things) começa a tomar forma.
E mesmo com tudo isso, uma pesquisa do comScore revelou que a maior interação com os assistentes digitais são simplesmente perguntas. O que me faz acreditar que eles podem mudar a forma como fazemos buscas, de uma forma muito mais evoluída apenas pela riqueza de dados oferecidos pela voz. A nossa voz entrega a nossa origem por meio do sotaque e até os nossos sentimentos e sua intensidade. Mas mais que isso: entrega quem somos, porque ela é única. Mesmo que uma família inteira use um só assistente, elesabe muito bem com quem está interagindo e o que precisa entregar.
Como profissionais de marketing, precisamos desde já planejar esta nova forma de comunicar. Ainda não é possível fazer publicidade para os assistentes digitais e ainda não é possível obter dados de uso. Mesmo assim, o conteúdo relevante e direcionado de que muito se fala e pouco se faz pode ser a resposta para as marcas conquistarem espaço neste futuro nem tão, tão distante.
Outros assistentes digitais que marcaram o cinema:
HAL 9000: já em 1968, um computador de bordo dotado de sentimentos tornou-se uma das principais personagens do cinema. 2001: Uma Odisséia no Espaço deu voz ao HAL, que além das funções mais comuns de um assistente, é capaz de ler lábios, apreciar arte, interpretar emoções e jogar xadrez.
Samantha: Interpretada por Scarlett Johansson, ou pela voz dela, essa assistente é realmente de se apaixonar. Lançado em 2013, Her é provavelmente o primeiro filme que vem à sua cabeça quando o assunto é esse. Acertei?
J.A.R.V.I.S.: Presente em diversos filmes da Marvel, J.A.R.V.I.S. (Just A Rather Very Intelligent System) é o assistente virtual de Tony Stark, o Homem de Ferro. É ativado por comando de voz e pode fornecer respostas inclusive dentro da armadura.
(*) Fernanda Snel é supervisora de content & SEO da iProspect
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