Assinar

O que aprendi após 140 conversas pelo mercado

Buscar
Meio e Mensagem – Marketing, Mídia e Comunicação

O que aprendi após 140 conversas pelo mercado

Buscar
wacla
Publicidade

How To

O que aprendi após 140 conversas pelo mercado

A quantidade e qualidade dos aprendizados dessas conversas valeram por um MBA, e confesso, deixei vários mitos ao longo do caminho, afinal sempre havia acompanhado o crescimento dessa Nova Economia na perspectiva de quem habita a Velha Economia há 25 anos — eu!


28 de setembro de 2017 - 7h37

Por Alexandre Waklawovsky (*)

 

Capítulo 1 — Um mergulho na Nova Economia

Nos últimos 6 meses resolvi entender e aprender mais sobre a Nova Economia ou, se preferir, sobre o mundo das Start-Ups e Scale-Ups (essas as que se encontram em crescimento exponencial), que tem prosperado em progressão geométrica e promete causar uma ruptura nos modelos de negócios da forma como conhecemos.

Para essa jornada, optei por trocar idas a eventos, onde acabamos conhecendo dimensões mais superficiais desses negócios ou ler a uma crescente bibliografia com histórias sobre empreendedores, por arregaçar as mangas e buscar conversas pessoais em profundidade com 12 fundadores de start-ups e scale-ups, dos mais diversos setores, 8 Fundos de Venture Capital e gravitar em ecossistemas de inovação e co-working como o Cubo em São Paulo e o Porto Digital no Recife.

A quantidade e qualidade dos aprendizados dessas conversas valeram por um MBA, e confesso, deixei vários mitos ao longo do caminho, afinal sempre havia acompanhado o crescimento dessa Nova Economia na perspectiva de quem habita a Velha Economia há 25 anos — eu!

E vale uma ressalva aqui — faço um paralelo entre a Velha Economia (empresas com mais de 50 anos nos seus mercados) e a Nova Economia (start-ups ou scale-ups em seus mais diversos mercados), sem nenhum julgamento qualificador ou pejorativo — para mim o termo velho traz experiência e maturidade, enquanto o termo novo vem repleto de desafios e leveza de tomar riscos.

Gosto muito de uma frase que ouvi num dos cursos da Hyper Island — “Não Existe Verdade Absoluta!”– tenho repetido essa frase em minhas conversas, aulas e palestras, afinal vivemos num mundo de velocidade de transformação sem precedentes, onde fica quase impossível cravar uma visão absoluta sobre qualquer tema.

Com isso em mente, tentei resumir abaixo 4 insights, extraídos desses encontros:

  1. Ideias vs Investimento

Enquanto a Nova Economia transborda ideias e ideais, mas carece de investimento e boas práticas de gestão, a situação é o extremo oposto na Velha Economia. Interessante esse paradoxo! e difícil não se questionar sobre as razões do investimento seguir fluindo para alimentar os modelos tradicionais, fadados a transformações ou rupturas e se você tem alguma dúvida sobre essa “profecia”, basta examinar os nomes das empresas que habitaram e desapareceram no ranking das maiores empresas no mundo nos últimos 50 anos.

Existe um funil gigante entre as milhares de start-ups que tentam e as dezenas que conseguem sobreviver e prosperar. Se há 5–10 anos atrás o custo de entrada no mercado para um empreendedor era alto, os avanços tecnológicos e a redução de seus custos, aliados com ferramentas sociais como o Kickstarter, permitem que muito mais gente tenha acesso a testar modelos da Nova Economia, a custos nunca tão baixos na história — e a tendência é sempre cair.

Escutei de alguns investidores que capital não falta, mas ideias potentes que tenham escala de crescimento. Outro dado interessante é que a idade média dos empreendedores vem subindo ano após ano — atualmente na faixa de 35–40 anos.

2. Nova Economia = liberdade total. Será?

Sempre li, ouvi e desejei experimentar essa sensação de liberdade, quase transgressora, característica da Nova Economia, mas aprendi que a liberdade de como se vestir, da comida à vontade ou horários de trabalho flexíveis são bem diferentes da liberdade de pensar e criar que eu esperava encontrar. Se no estágio de Start-Up existe mais liberdade para testar modelos, existe também uma pressão monumental por conseguir investimento e escala de negócio, o que gera um grande conflito a administrar — recomendo ler o livro Crossing the Chasm de Geoffrey Moore (abaixo o modelo e o vale a ser cruzado para evoluir de Start a Scale-Up)

Já nas Scale-Ups a pressão passa a ser dos Investidores, com os quais se alinha um plano de trabalho e Retorno sobre Investimento (ROI), assim se no mundo tradicional devemos satisfação aos Acionistas, na Nova Economia se deve satisfação aos planos e metas aprovados com os Investidores, que demandam foco absoluto na execução dos planos alinhados, sem espaço para novas rotas ou ideias, que devem ser submetidas, discutidas e aprovadas, preferencialmente sob novo aporte de capital.

3. Olho na Cultura! Olho do Dono!

Modelos e culturas organizacionais variam muito, mas acreditava que as variações nas empresas da Nova Economia seriam menores. Engano! me deparei com modelos bem diferentes — desde aqueles que emulam empresas como Amazon, Zappos ou Google até modelos híbridos.

Prosperar de uma ideia a um negócio, requer visão, obstinação, capacidade de assumir riscos e digerir os erros cometidos e muita, mas muita resiliência, o que as empresas da nova economia tem muito a ensinar a empresas mais antigas, entretanto me surpreendi com posturas pouco receptivas a novas ideais ou questionamentos. Pelo contrário, encontrei um apego forte pelas origens e crenças idealizadas dos Fundadores — ser fiel às origens tem muito valor, mas acredito ainda mais na construção ou evolução das organizações e marcas a ter um Propósito claro (o WHY do modelo da figura abaixo), que deve permear a organização e todas as suas práticas — veja o livro Golden Circle do Simon Sinek para mais detalhes.

Os negócios que conheci tem posicionamento, mas poucos são os que tem propósitos cristalinos, o que os deixa muito mais ágeis em se adaptar as mudanças economicas e sociais, afinal tem uma razão clara em existir. E aqui vejo um desafio e oportunidade enorme para as empresas, tanto da Nova como da Velha Economia.

4. Pensar vs Fazer! eis a questão!

Enquanto no mundo tradicional o pensar (estratégia, branding, inovação, etc.) tem muito valor, afinal, existe um modelo organizacional que divide pensamento de execução (nem sempre de maneira clara), mas permite que as lideranças senior tenham papel estratégico de pensamento e gestão, observei quase o oposto na nova economia, onde o valor está no fazer (execução, multi-tarefas, conhecimento operacional/tecnologia).

The Thinker & The Doer

O Inbound Marketing https://marketingdeconteudo.com/o-que-e-inbound-marketing/ é o mantra dessa nova economia e a busca por performance uma obsessão visceral — até aqui tudo bem, mas existe uma ameaça em relegar a construção de marca ou branding, se preferir.

A luta pelo centavo de rentabilidade e a tentativa de ser melhor do que seu concorrente em preço ou serviço, podem, na minha visão, causar um problema de rentabilidade no médio prazo, afinal cada vez existirão mais concorrentes fazendo a mesma coisa, cobrando um preço menor (lembra que o acesso a tecnologia é cada vez mais barato?).

Criar valor de marca é FUNDAMENTAL, espelhando e expressando o Propósito das empresas e não observei isso na pauta das empresas da nova economia com as quais conversei. Se preço e confiabilidade fossem os únicos indicadores de sucesso todos teríamos um carro Lada, uma caneta esferográfica qualquer e nossas compras no supermercado seriam orientados somente pelo preço. Já pensou?

Conclusão! temos um modelo ideal?

Se “não existe uma verdade absoluta“, quer dizer então que viveremos num mundo com menos receitas e guias? Sim, acredito! tenho convicção que estamos caminhando a passos largos para um contexto de realidades sobrepostas e escolhas sem precedentes, onde a abundância de escolhas será a regra — quer um exemplo? Busque no Google “receita de pudim” e veja quantas opções você vai encontrar ou quantas opções temos de hospedagem adicionando o AirBnB aos hotéis, pousadas e hostels existentes?

A pergunta deixou de ser “onde encontro”, para “o que é melhor para mim” — cada vez mais iremos demandar simplicidade, personalização e contexto, buscando marcas que tenham significado para nossas vidas.

Saio desse mergulho com um olhar preocupado para a rigidez e aversão a tomada de risco da Velha Economia e curioso e interessado para a liquidez e disposição em “aprender fazendo” da Nova Economia. Por outro lado, acredito que a Nova Economia pode incorporar e aprender com modelos de gestão e construção de marca e valor, enquanto a Velha Economia pode desenvolver maior aceitação ao risco e modelos de execução mais ágeis e não hierárquicos. Ambas, porém, tem o desafio de transformar posicionamento em propósito.

O que você acha? curioso para ouvir sua opinião.

(*) Alexandre Waklawovsky é profissional de marketing.

 

Publicidade

Compartilhe

Veja também