Pyr Marcondes
5 de outubro de 2020 - 7h18
“Success breeds complacency. Complacency breeds failure. Only the paranoids survive”.
Andy Grove, ex-presidente da Intel
Sua empresa tem, aquela outra ali também tem, boa parte das empresas tem.
Cultura Corporativa Frouxa é um desvio estrutural corporativo da Era Digital, que se manifesta em parte significativa das companhias e tem diversificados componentes. Mas vamos aqui a um resumo executivo da tese acadêmica desenvolvida proprietariamente pelo renomado Centro de Estudos Global Pyr Marcondes, em 5 pontos:
1.A direção da empresa é frouxa e complacente, como diz Grove, diante do novo. Teme mudar legados, porque não sabe como fazer, tem medo de fazer e não faz. Resumo: sua corporação sofre com os efeitos inexoráveis e cruéis das transformações digitais aceleradas que atropelam sua obsolescência e o resultado é desastroso. Empresas assim quebram, fecham, são engolidas por outras bem mais rápidas e mais avançadas.
2. As áreas de tecnologia são frouxas diante dos avanços da Era Digital. Embora até tenham algum conhecimento de que um dia após o outro novos avanços tecnológicos se superpõem vertiginosamente, essas áreas frouxas demoram para se alinhar a nova velocidade e as novas descobertas, deixando igualmente descobertas as empresas em que operam.
3. O marketing é frouxo. Responsável por ser a ponta de contato mais íntimo entre as companhias, suas marcas e, ali fora, o consumidor, essas áreas frouxas estão hoje bastante perdidas sobre como enfrentar tanta transformação tecnológica, que desconhecem, não fazem lá muito esforço para conhecer, contribuindo fortemente para que a Cultura Corporativa Frouxa seja espalhada publicamente no mercado, e o consumidor, ele mesmo vivenciando uma transformação digital recorrente acelerada, sabe o que?: Foge!
4. O comercial é frouxo. Desconhece as técnicas de digital sales, vai na base do Excell e do telefone fixo, caderninho a lápis e boas. Num cenário de negócios complexo e cada vez mais competitivo, vender é cada vez mais um conjunto de técnicas e processos em que a gestão através de plataformas com drive de automação e otimização de performance de leads é o novo normal.
5. A cultura de dados é frouxa. Dados são hoje os bits e bites da otimização de performance de todas as áreas de qualquer empresa, em todos os mercado, sem qualquer exceção. Parte significativa das corporações tenta estruturar suas bases desconexas de dados, mas vem fazendo isso como se fosse uma tarefa burocrática do pessoal de T.I., quando é, em verdade, a alma do sucesso e dos negócios do mundo contemporâneo.
A Cultura Corporativa Frouxa e complacente teve um baque forte com a pandemia. Empresas deixaram de ser frouxas e letárgicas porque perceberam que iriam para o buraco se não encarassem de frente a Transformação Digital, que já está entrando em uma fase 2, ainda mais avançada, com a Inteligência Artificial (leia meu artigo “Vem aí a fase 2 da Digital Transformation: bem vinda, AI Transformation). Ainda assim, tem muitas empresas ficando irrevogavelmente para trás.
Clayton Christensen, no seu altamente relavante “The Innovatros Dilemma”, comenta que a razão pela qual as grandes companhias e seus gestores falham em sua transformação é exatamente aquilo que é para elas e seus líderes considerado como as melhores práticas de gestão. As melhores práticas de gestão das empresas de sempre se baseia em valorizar a hierarquia, o cumprimento de tarefas pré-determinadas, a obediência a normas estruturais e a processo operacionais cristalizados, a busca por soluções dentro da empresa e de desenvolvimento proprietário, além da perseguição prioritária pela maximização de resultados aos acionistas, entre outras. Ora, essa dinâmica e essas melhores práticas convencionais excluem a busca pela inovação exponencial como prática e métrica de avanço e desenvolvimento corporativo. Ou seja, exclui o que mais se deveria buscar hoje, que é a colaboração e o compartilhamento de conhecimento, descobertas, novas e disruptivas tecnologias, que cada vez menos serão geradas em estruturas rígidas como as que descrevi acima.
É o que chamo de Cultura Corporativa Frouxa.
Pois para mim é muito sem sentido ser culturalmente frouxo diante de tantas transformações e a maior barreira das companhias para encará-las e adotá-las não é financeira, nem tecnológica, nem operacional: é, entendo, majoritariamente cultural.
Mudar o mindset de qualquer empresa é um trabalho pesado. Difícil, desafiador. Porque a cultura das empresas é seu espírito maior. Seu jeito de ser, pensar e agir.
Independentemente daqueles quadrinhos imbecis e inúteis de Missão, Visão, Valores, que as empresas penduram em suas paredes e raramente seguem (ter Missão, Visão e Valores é vital para toda empresa, idiota é ter e não seguir), a cultura das empresas está em cada gesto mercadológico seu. E mexer nessa estrutura tão arraigada e relevante é hoje, sem sombra de dúvida, o maior desafio das empresas diante da Transformação Digital avassaladora.
Só há um jeito de enfrentar um tsunami assim: deixar de ser complacente e frouxo, e surfá-lo.
Ser frouxo é para frouxos.