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Opinião

Empresas com alma

Um novo equilíbrio entre crescer e cuidar

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6 de maio de 2025 - 6h00

Minha recente viagem ao Butão foi transformadora.

Lá, em meio às montanhas, aos mosteiros e ao silêncio, fui confrontado com uma pergunta simples, mas profunda: o que realmente define uma vida — ou uma empresa — bem-sucedida?

Enquanto o mundo segue obcecado por crescimento econômico, o Butão decidiu seguir outro caminho. Criou o conceito de Felicidade Interna Bruta (FIB), medindo não apenas o quanto se produz, mas o quanto se vive bem. O quanto as pessoas estão saudáveis, conectadas, em paz.

Voltei de lá com a certeza de que o mundo dos negócios precisa urgentemente dessa reflexão.
Hoje, quase metade dos profissionais no mundo relata sintomas de burnout. No Brasil, os afastamentos por transtornos mentais cresceram 68% em um ano. Estamos entregando cada vez mais — e vivendo cada vez menos.

O problema não é o lucro. As empresas precisam crescer.

Mas quando esse crescimento é desconectado de propósito, cuidado e bem-estar, ele cobra um preço alto.

Talvez seja a hora de repensarmos o que é crescer com sabedoria.

Essa é uma convocação à reflexão.

Sobre como equilibrar resultados com humanidade. Performance com consciência. PIB com FIB.
Sobre como tornar as empresas não só eficientes — mas vivas. Crescer, sim. Mas com alma. Durante décadas, sucesso significava faturar mais, escalar mais, vender mais. Mas quando o lucro se torna o único norte, todo o resto vira meio: pessoas, natureza, tempo, saúde — até mesmo o cliente.

O resultado?

Produtos que não funcionam. Campanhas que prometem o que não entregam. Equipes que produzem sem conexão. Consumidores que compram, mas não voltam. Marcas que existem, mas não são lembradas.

Não se trata de negar o crescimento. Mas de crescer com sustentabilidade, coerência e impacto positivo. É aí que o conceito de FIB entra como complemento ao PIB. Não como substituto, mas como bússola. Um lembrete de que empresas de verdade são aquelas que fazem sentido para quem está dentro e para quem está fora.

O Caminho do Meio: uma nova liderança inspirada no budismo

O budismo ensina o Caminho Óctuplo — oito práticas para viver com sabedoria, ética e equilíbrio. Traduzido para o mundo corporativo, ele pode servir como um mapa para construir negócios com alma.

Compreensão Correta
Ter clareza sobre porque a empresa existe, e não apenas o que ela vende.
Empresas que sabem seu “para quê” criam vínculos mais profundos com seus colaboradores e consumidores.
Sem isso, perdem o rumo — mesmo que estejam crescendo.
2. Intenção Correta
Liderar com motivação genuína. Ter consciência sobre o que se quer construir no longo prazo.
Não basta faturar. É preciso saber qual transformação a empresa quer provocar no mundo.
3. Fala Correta
Comunicação transparente, coerente, verdadeira.
Aquilo que a empresa diz ao mercado deve refletir o que ela vive internamente. A voz de fora começa dentro.
4. Ação Correta
Decisões que geram impacto real, com responsabilidade social e ambiental.
É sobre agir com coerência, não apenas com eficiência.
5. Meio de Vida Correto
Modelos de negócio que respeitam a vida em todas as suas formas.
Isso significa olhar para a cadeia como um todo — da origem à entrega — e garantir que ninguém esteja sendo explorado no processo.
6. Esforço Correto
Foco com consciência. Nem produtividade tóxica, nem apatia.
É criar uma cultura que valorize o progresso sustentável, com metas desafiadoras, mas humanas.
7. Atenção Plena
Estar presente, atento ao agora. Liderar com sensibilidade, escuta e gentileza.
Perceber o que está sendo dito — e também o que está sendo silenciado.
8. Concentração Correta
Manter o olhar no que realmente importa. Evitar a dispersão, as modas vazias, a pressa por tudo.
Ter direção. Ter consistência. Ter clareza.
Esse não é um checklist de sucesso. Mas um convite. Uma prática. Uma forma mais consciente de caminhar.

E se o sucesso for mais do que números?

Imagine medir o sucesso de uma empresa não só pelo seu valuation, mas também por:
• O nível de bem-estar das equipes;
• A confiança que os clientes sentem na marca;
• A qualidade das relações construídas ao longo da jornada;
• O impacto que ela deixa na comunidade e no planeta;
• O quanto ela melhora a vida de quem a encontra.

Conclusão: um novo equilíbrio é possível

O que vivi no Butão me mostrou que é possível viver com mais leveza e profundidade. E acredito que as empresas também podem existir assim: mais conscientes, mais humanas, mais relevantes. Não há fórmula mágica. Nem regra única para o sucesso. Mas há um caminho mais sábio — e o mundo está pronto para ele. Empresas que equilibram resultados com propósito constroem vínculos mais fortes, tomam decisões mais coerentes e inspiram mais confiança.

A pergunta que fica é: que tipo de empresa você quer construir?

Porque, no fundo, marcas também têm alma. E o futuro será escrito por aquelas que não têm medo de cuidar dela.

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