DE 08 A 16 DE MARÇO DE 2024 | AUSTIN - EUA

SXSW

A Creator Economy é orgânica

Com a mistura de música, cinema, comportamento, inovação e futurologia, o SXSW mostra que o mundo da cultura se desenvolve sem respeitar fronteiras


13 de março de 2024 - 14h55

Para muitos, o SXSW é mais do que um festival, é um paradoxo. Isso porque, ao mesmo tempo em que mostra as principais tendências da indústria cultural contemporânea, trazendo uma agenda bem intensa de música, cinema, TV e comédia — tudo muito autoral e inovador —, o evento proporciona inúmeras palestras e discussões que apresentam insights poderosos para o lado business da economia criativa.

Com essa combinação, talvez o SXSW seja o evento de negócios e investimentos mais poderoso do calendário internacional — pelo menos para quem trabalha com arte, cultura, entretenimento, marketing, publicidade e comunicação.

No caso específico do meu assunto principal, a Creator Economy, a oferta de conteúdo neste ano foi imensa. Pelo menos 63 eventos relacionados ao tema. O legal de assistir as palestras e de resenhar sobre os insights é perceber que, embora muitos dos questionamentos e percepções sejam semelhantes ao que a gente desenvolve no dia a dia da empresa, não existe bala de prata. Não adianta procurar solução universal no mundo da criatividade, simplesmente porque cada caso é um caso.

Em algum momento — acho que foi quando os gregos definiram uma musa para cada arte —, as pessoas começaram a separar cada especialidade em uma caixinha. Música separada de comédia, afastada do marketing e assim por diante. Os gregos que me perdoem, mas a visão holística é fundamental no mundo de hoje!

A realidade atual não é segmentada, ela é coordenada. A música faz parte do mundo do cinema e da TV, que também depende de arte e design e de roteiros cheios de imaginação e emoção. Hoje, todo o entretenimento se baseia na união dos talentos de profissionais de diferentes áreas e isso mostra que estamos todos ligados. E nesse “todos”, estou incluindo a turma do marketing — afinal, sem publicidade não há clientes, espectadores ou consumidores.

Para explicar melhor, vou contar um “causo” desta minha visita a Austin: num belo dia, fiz uma experiência com realidade aumentada usando o novo óculos da Apple Vision Pro, uma maravilha tecnológica que permite desfrutar de realidade virtual, realidade mista e realidade aumentada. O roteiro da experiência foi surpreendente, visualmente rico e capaz de mexer com a minha adrenalina. Ou seja, nesse caso, a tecnologia foi um meio (veículo poderoso, claro!) para que o lado artístico do roteiro da experiência pudesse se realizar em mim. Arte é isso. É propor alguma coisa que engaje o outro, que emocione.

Usando esse exemplo como paralelo, há toda a discussão ética sobre o impacto da AI na indústria criativa, que vem acontecendo nos mais diferentes espaços do festival. Uma das coisas que ficou muito clara em todas as palestras e conversas é que a AI é uma realidade. Um gênio que saiu da garrafa e que ninguém pode ou deve querer colocar de volta. Afinal, a AI veio para ajudar. Na Mynd, por exemplo, estamos desenvolvendo “humanos digitais” criados por AI para os influenciadores, com o objetivo de otimizar o tempo dedicado a cada projeto e, assim, deixá-los com mais tempo para a sua atividade principal que é criarconteúdo. Particularmente, eu acredito que a AI, tanto quanto qualquer outra tecnologia, é apenas um veículo para tornar a realização de projetos culturais, artísticos e comerciais mais fácil, rápida e democrática.

Isso fica ainda mais claro nos eventos musicais do SXSW. As apresentações dos artistas passam por uma curadoria feita em colaboração com diversas pessoas da indústria como gravadoras, agências de talentos, firmas de gerenciamento e relações públicas, produtores de festivais e até marcas de lifestyle. Isso mostra claramente que não existe arte sem comércio e que os talentos andam sempre de braços dados com quem pode lhes oferecer viabilidade comercial.

Tudo que é artístico é também parte da engrenagem industrial. Por isso, quando se vê tudo junto e misturado no SXSW, a gente percebe o quanto a creator economy é orgânica. As coisas acontecem naturalmente. Quando uma marca escolhe um influencer para um projeto de conteúdo, isso acontece com naturalidade e fluidez, porque tudo faz parte de um mesmo contexto.

E, assim, vemos que o paradoxo do SXSW existe só na superfície, porque quem vive o festival entende que a diversidade que ele oferece traz uma visão 360 graus em arte e negócios e revela que esses dois lados da moeda estão completamente coordenados em um equilíbrio funcional e orgânico. Por isso, os dias em Austin são tão inspiradores tanto para artistas quanto para executivos e empresários.

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