O SXSW não sabe mais as respostas
Evento caiu na armadilha da exponencialidade, que ele próprio previu e avisou que viria
Evento caiu na armadilha da exponencialidade, que ele próprio previu e avisou que viria
Pyr Marcondes
14 de março de 2023 - 15h30
Durante décadas, o SXSW fez as perguntas que nós nem imaginávamos fazer. E nos surpreendeu com respostas que jamais imaginaríamos. Indicou estradas e trilhas. Conduziu nossa jornada ao futuro com a mais brilhante e avançada inteligência contemporânea. Construiu agendas impensáveis que espremiam nossos miolos de tanta informação inovadora e reveladora. Vislumbrou o que viria pela frente como nenhum outro evento conseguiu fazer em tantos anos.
As mais instigantes perguntas sobre os temas mais relevantes para nós, como sociedade e nosso futuro, seguem lá. As respostas não mais.
Também o SXSW caiu na armadilha que por anos ele mesmo nos avisou que viria: a exponencialidade.
É ela que causa a confusão e que deixa o evento meio sem saber direito o que nos dizer, no sentido de nos orientar, ser nosso farol futuro.
O assunto mais evidentemente relevante são os destinos da inteligência artificial. Anabolizada com um de seus usos e aplicações, a IA generativa. Assisti a quatro painéis sobre o tema, incluindo a do fundador da Open AI, possivelmente uma das mais avançadas empresas do setor. Nem ele sabe onde seu próprio invento vai dar, como o evento poderia saber?
Quem acompanha a Singularity University sabe que a exponencialidade viria. Só que seria de se imaginar, talvez ingenuamente, que ela viria de mansinho, assim, na moita.
Só que não. Chegou chegando e nos exponencializando praticamente da noite para o dia. O ChatGPT é seu filho mais dileto, no momento (outros vão aparecer). Ele sozinho vai exponencializar todos os campos do conhecimento humano.
O SXSW não tem como prever onde isso vai dar. Saiu do seu controle. Na verdade, saiu do nosso.
A computação quântica casada com IA vai acelerar ainda mais tudo isso de forma … bem, quântica.
Todos os temas tratados pelo evento deste ano são, como sempre foram e seguirão sendo (nunca serei eu uma voz desencorajadora de ninguém a ir ao SXSW) da mais alta relevância. As perguntas essenciais continuam lá como em nenhum outro lugar. Mas será o destino da inteligência artificial e de todas as suas infindáveis variantes e usos que determinará o futuro de todos eles. Ou de grande parte deles, ao menos.
Amy Webb, a futurista imperdível do SXSW, estrela maior a cada ano, também ela não sabe. Ela sabe que vai acelerar e vai ser foda. Sabe que se aplicada direitinho, a IA vai resolver um monte de problemas viscerais da humanidade. Adoro pensar que sim e que ela deve estar certa.
Mas nem mesmo um dos mais poderosos sistemas de prever o futuro, o de sua organização Future Institute, conseguem cravar certezas que não sejam genéricas em cada ramo da atividade humana. Bem legais e fundamentais de se ler, como sempre. Mas também apontando para hipóteses nem de todo acachapantes, como em versões de anos atrás.
De novo, a exponencialidade. Enquanto estamos indo, ela já foi e voltou um zilhão de vezes (literalmente).
Tudo isso não é mais mensurável pela régua e compasso humanos. Virou um assunto de máquinas. Só elas terão essa velocidade. Amy certamente vai usar inteligência generativa como ferramenta para seu próximo estudo. Sozinha e com sua brilhante equipe, vai perder da realidade feio.
O SXSW vai ter que usar também. Todos nós vamos.
E sairá daí uma parte das respostas. Respostas que, este ano, o SXSW não conseguiu nos dar.
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