Opinião

As novas fórmulas do conteúdo

Marketing, dados e métricas são o novo guia para a transformação do entretenimento


7 de novembro de 2022 - 18h40

Nos dias de hoje, a sociedade é exposta às informações desde o momento que desperta até quando fecha os olhos para dormir. Uma enorme parcela de todo esse conteúdo acaba sendo pensada e criada com o objetivo de preencher a lacuna diária de entretenimento do público.

No entanto, foi se o tempo que a composição desses conteúdos exigia apenas o tom recreativo e de distração para que fosse considerado um sucesso. Para entender o que realmente move essa verdadeira indústria da criação de conteúdo conversei durante o Web Summit, em Lisboa, com Christian Rôças (Crocas), ex-CEO do Porta dos Fundos, e Konrad Dantas, mais conhecido pelo nome artístico KondZilla, dono do maior canal brasileiro do Youtube.

Segundo a dupla, o grande dilema do setor hoje é atuar de uma forma equilibrada, fazendo com que vários pontos importantes estejam sendo contemplados por um mesmo produto. O resultado disso é que para um conteúdo ser considerado completo ele precisa acabar se portando como um agente transformador – por muitas vezes passar uma mensagem positiva ou educativa -, porém sem deixar de lado a sua razão recreativa ou quem acaba sustentando esse processo: as marcas.

O marketing, aliás, é parte fundamental para se entender como se dá a formatação desse conteúdo. De acordo com Crocas, um dos maiores desafios da criação de conteúdo atual é tornar compreensível como as marcas podem fazer parte do produto de uma forma mais natural.

Na visão do ex-CEO do Porta dos Fundos, chegou o momento desses parceiros compreenderem que do mesmo jeito que as pessoas já estão consumindo entretenimento de diferentes fontes, as marcas podem ser ouvidas de formas diferentes. Não cabe mais, por exemplo, a interrupção do conteúdo para que essas empresas apareçam, como acontece nas TVs. Existem formas muito mais atrativas e poderosas de se conseguir a atenção e a aproximação com audiência, sobretudo ao criar vínculos orgânicos com os criadores de conteúdo preferidos do seu público.

Outro ponto de atenção durante a concepção desse conteúdo é estar atento como os dados e diretrizes da plataforma em que esse produto estará exposto irão interferir no planejamento estratégico dessa criação. Segundo o criador do maior canal do YouTube do nosso país, o mercado parece ainda estar em busca de indicadores justos para esses conteúdos. Até porque é complicado encontrar um método correto para metrificar e comparar os resultados de uma música com uma série, por exemplo.

No entanto, é muito interessante perceber como esses fatores já atuam de uma forma direta na formatação desses trabalhos. Peguemos por exemplo o mercado musical. Para contabilizar um streaming de uma música hoje, o YouTube exige que o usuário permaneça ao menos 30 segundos ouvindo o som. Por conta dessa norma, os produtores e músicos já trabalham com o objetivo de trazer atrativos para que o produto seja consumido dentro dessa diretriz, mesmo que esse movimento ocorra de forma não tão clara para o público.

Por outro lado, os especialistas destacam que, por mais importante que sejam, essas métricas operacionais não podem ser o único ponto de atenção por trás do processo criativo desses produtos. Enquanto de um lado esses dados guiam e ajudam a identificar novos padrões de comportamento do público, de outro é preciso existir espaço para a criação de novos conteúdos. Até porque, caso não haja essa abertura, os produtos acabarão sendo sempre uma reprodução das métricas, fazendo com que o resultado final dessa equação seja a perda da atratividade dos materiais produzidos.

A criação de conteúdo nos tempos atuais não funciona somente à base da criatividade e esforço. Toda pessoa envolvida nesse meio precisa entender que existem condições e aspectos, que mesmo não estando 100% evidentes, são fundamentais para o desempenho final do produto. Sendo assim, compreender quais são e como se convertem esses indicadores é um passo fundamental para garantir resultados promissores dentro desse mercado para lá de competitivo.

Publicidade

Compartilhe