Meio & Mensagem
1 de abril de 2024 - 15h03
Não é novidade que muitas mulheres enfrentam discriminação no ambiente de trabalho durante a gravidez e após o nascimento dos filhos. Além da falta de proteção contra demissões, comuns no período, há relatos de redução de salário, menos oportunidades de promoção e ausência de flexibilidade para atender às necessidades da maternidade.
De acordo com nova pesquisa “Relatório Mulheres Brasileiras”, parceria entre o Opinion Box e Lela Brandão, os obstáculos das mulheres começam antes mesmo de entrar em uma empresa, já em processos seletivos de emprego: 64% das entrevistadas já foram perguntadas se são mães em uma entrevista para conseguir uma vaga.
Além disso, 42% das mulheres já foram questionadas se estão grávidas ou se pretendem engravidar no momento da seleção.
Ambos os dados podem estar ligados a estatísticas mais preocupantes, que parecem apontar para o quanto a maternidade ainda é uma barreira no mercado de trabalho para as mulheres.: 26% das entrevistadas disseram já ter perdido uma oportunidade de trabalho por serem mães, e 17% por estarem grávidas.
O estudo foi realizado no mês de janeiro com 1.124 homens e mulheres acima de 16 anos, das classes ABCDE, de todas as regiões do Brasil. A margem de erro do estudo é de 2,9 pontos percentuais para mais ou para menos.
Machismo no Brasil
A pesquisa também levantou a percepção de mulheres e homens sobre o machismo e questões relacionadas aos direitos de pessoas do gênero feminino no Brasil. De maneira geral, eles são mais céticos na hora de avaliar o país como machista e o próprio comportamento como fruto do machismo. Já a opinião das mulheres é naturalmente mais negativa.
Mais da metade dos homens concorda, por exemplo, que o Brasil é um país machista. O dado pode ser visto como fruto de alguma conscientização sobre a questão no país. Contudo, quando a avaliação é sobre o próprio comportamento, apenas 28% dos entrevistados assumem que já tiveram alguma atitude machista.
Já entre as mulheres, 68% acreditam que o Brasil é um país machista, 46% delas afirmam conviver com pessoas machistas no dia a dia e 39% se consideram engajadas na luta contra o machismo. Já entre os homens, 40% dizem ser envolvidos na causa.
Mansplanning e manterrupting no trabalho
Outro ponto revelado na pesquisa é que tanto mansplaining quanto manterrupting são práticas bastante comuns entre os homens com as mulheres, especialmente em lugares onde as mulheres são historicamente minorias, como no ambiente de trabalho e no meio acadêmico.
57% das mulheres entrevistadas afirmam já ter sofrido mansplaining. Entre elas, 56% disseram que o ato aconteceu no trabalho. Além disso, 59% já viveram situações de manterrupting.
Os dados revelam a importância da cultura ser moldada para evitar esse tipo de comportamento, que pode inibir, prejudicar a formação e a performance das mulheres nesses lugares, causando consequências pessoais e profissionais.
O mansplanning acontece quando um homem interrompe uma mulher enquanto ela fala ou apresenta uma ideia. A prática tira das mulheres a oportunidade de concluir pensamentos, expor opiniões e, em última instância, ter mais oportunidades profissionais. Isso pode resultar, por exemplo, em um ambiente de trabalho onde as profissionais do gênero feminino são impedidas de participar plenamente das discussões e tomar decisões.
Já o manterrupting ocorre quando um homem interrompe uma mulher para explicar algo que ela já sabe ou entende, ou para falar sobre um assunto que ele acredita que ela não conhece bem, mesmo que ela seja uma especialista. Nesse cenário, a mulher pode ser subestimada e não reconhecida por sua experiência e conhecimento.