Apenas 17% das empresas são lideradas por mulheres no Brasil
Nova pesquisa do Talenses Group indica que, no ritmo atual, a paridade de gênero no mundo corporativo levará mais de 160 anos para ser alcançada
Apenas 17% das empresas são lideradas por mulheres no Brasil
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Meio & Mensagem
10 de junho de 2025 - 11h05
(Crédito: Shutterstock)
A equidade de gênero no topo das empresas ainda está longe de ser uma realidade no Brasil. Isso é o que revela a nova edição da Pesquisa Panorama Mulheres 2025, realizada pelo Instituto Talenses Group em parceria com o Núcleo de Estudos de Gênero do Insper.
O levantamento, que traça o retrato da participação feminina na alta liderança das empresas no Brasil e avalia as práticas institucionais de promoção da diversidade, analisou 310 companhias de diferentes setores e portes. A conclusão é que, entre as 224 organizações com presidência formalizada, apenas 39 são lideradas por mulheres, ou seja, 17,4% do total.
O número acompanha a média global de 29%, apontada pelo Global Gender Gap Report 2023, e permanece praticamente inalterado quando comparado às edições anteriores da pesquisa no Brasil. O dado também indica que, no ritmo atual, a paridade de gênero levaria mais de 160 anos para ser alcançada.
“Historicamente, os homens chegaram à presidência com mais facilidade porque sempre tiveram maior acesso a redes de poder e oportunidades de promoção. As estruturas corporativas foram criadas por homens e para homens”, afirma Carla Fava, diretora-executiva do Instituto Talenses.
Ainda de acordo com o estudo, a desigualdade de gênero é intensificada à medida que a hierarquia aumenta. Em 2024, mulheres ocupavam apenas 20% dos cargos de vice-presidência, uma queda em relação aos 34% registrados em 2022.
Nas diretorias, houve crescimento de 26% para 30%. Ainda assim, 58,9% das empresas não têm mulher na vice-presidência, e 32,5% não têm diretoras.
Nos conselhos de administração, a presença feminina também é reduzida. Segundo a pesquisa, das 61 empresas com conselhos ativos, apenas 17,1% das cadeiras são ocupadas por mulheres. Em mais da metade deles (57,4%), não há mulher entre os conselheiros.
Mesmo entre companhias que adotam compromissos públicos ou estratégias ESG, a representatividade feminina nessas cadeiras permanece baixa. “Um dos pontos que merece destaque é que, embora o percentual geral de mulheres em cargos de liderança já indique uma baixa representação feminina, essa presença ainda é distribuída de forma bastante desigual entre as organizações. Quando olhamos especificamente para conselhos e vice-presidências, mais de 55% das empresas não têm nenhuma mulher nesses níveis de gestão”, analisa Ana Diniz, coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero do Insper.
Carla destaca que, frente a esse cenário, muitas mulheres seguem o caminho do empreendedorismo como possibilidade de conquistar espaços de liderança com mais autonomia e menos dependência de estruturas excludentes, diante das barreiras enfrentadas no ambiente corporativo, como o teto de vidro, viés inconsciente, falta de flexibilidade para equilibrar trabalho e vida pessoal.
“Empreender é uma forma de contornar esses obstáculos e construir o próprio espaço de liderança, com mais autonomia e menos dependência de estruturas que historicamente excluem as mulheres”, avalia a executiva.
A pesquisa, aliás, faz uma diferenciação entre lideranças que ascenderam por meio da carreira executiva e aquelas que chegaram à presidência via empreendedorismo. Entre as mulheres, há uma proporção significativamente maior de trajetórias empreendedoras.
Esse perfil também está relacionado ao porte das empresas. Cerca de 36% das mulheres estão à frente de negócios com até 200 colaboradores, enquanto 40% dos homens lideram grandes organizações com mais de mil funcionários.
O estudo mostra ainda que cerca de 90% das presidências, tanto femininas quanto masculinas, continuam sendo ocupadas por pessoas brancas. Mulheres indígenas, pretas e amarelas seguem praticamente invisíveis nesses espaços.
“Isso evidencia um problema ainda não resolvido. Mas se a pesquisa aponta desafios, ela também revela caminhos: sabemos que ações estruturadas, aliadas a compromissos públicos, são fundamentais para promover avanços concretos”, afirma a professora Ana.
O estudo também investigou a adesão a práticas formais de equidade. Das empresas ouvidas, 54,2% afirmaram ter estratégias ESG estruturadas. O índice marca uma leve queda em relação a 2022, quando o percentual era de 59%.
Além disso, 38,7% adotam compromissos públicos e 54,2% têm planos de ação voltados à equidade de gênero. No entanto, somente 24,5% reúnem os três pilares. Entre as ações mais comuns estão a revisão de políticas de recrutamento, treinamentos sobre vieses inconscientes, canais de denúncia e flexibilização de jornadas. Somente 29,2% mencionam políticas de promoção de mulheres a cargos estratégicos.
A pesquisa aponta ainda que empresas lideradas por mulheres tendem a apresentar maior presença feminina em todos os níveis da liderança e governança. No entanto, esse cenário não implica, necessariamente, maior estruturação institucional.
Enquanto 61,7% das empresas presididas por homens adotam estratégias ESG, o índice entre as presididas por mulheres é de 59%. Por outro lado, o percentual se inverte quando se trata de planos de ação, com adesão de 64,1% das empresas lideradas por mulheres frente a 60,7% nas lideradas por homens.
A urgência por mudança se intensifica diante das novas exigências regulatórias: até 2026, empresas em todos os níveis de listagem da bolsa deverão ter ao menos uma mulher e um membro de comunidades sub-representadas no conselho de administração ou na diretoria estatutária. A medida foi proposta pela B3, e avaliada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), para estimular a diversidade na alta liderança das empresas listadas.
“As exigências regulatórias representam um avanço importante, mas não podem ser vistas como solução única. A presença feminina nos conselhos ainda depende, em grande parte, da vontade política das empresas. Sem metas claras, critérios objetivos e compromisso real da alta liderança, o risco é que a inclusão se limite ao cumprimento formal da regra, sem gerar transformação estrutural”, analisa Carla.
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