Lorena Batarse: a trajetória da diretora da Riot Games na vanguarda da indústria de games
Diretora da Riot Games, Lorena Batarse, fala sobre a evolução da indústria, o papel da liderança e a importância da diversidade o mercado de games
Lorena Batarse: a trajetória da diretora da Riot Games na vanguarda da indústria de games
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Lidia Capitani
21 de março de 2023 - 9h21
Líder, latina, de origem mexicana, e mãe de duas crianças, Lorena Batarse é Diretora da Riot Games para as Américas e Oceania, com dez anos de experiência na empresa responsável por um dos jogos mais conhecidos do mundo: League of Legends.
Para os filhos, o trabalho da mãe é brincar de videogames, assim como eles fazem em casa. Os momentos em família são caracterizados por jogos eletrônicos, gritaria e salsa. De tempos em tempos, Lorena precisa viajar por conta do trabalho. Ela sente o coração apertar quando seus filhos perguntam por que ela precisa ir. “Eu explico que preciso estar lá com minha equipe para apoiá-los, e eles entendem”, conta.
Entre mensagens e chamadas de vídeo, Lorena mostra o mundo para seus filhos. E eles são curiosos: perguntam sobre a língua, sobre os jogos que o povo gosta, a moeda do país e os estilos musicais que ouvem. “Acho que isso lhes dá uma pequena janela para as diferentes partes do mundo, o que eu acho simplesmente magnífico”.
Vinda do México, sua família se mudou para os Estados Unidos quando Lorena ainda era criança. A intenção não era ficar de maneira definitiva, até porque ela não sabia uma palavra em inglês, mas a família acabou criando raízes em Los Angeles e nunca mais retornou. Foi ainda jovem que Lorena começou a se interessar por computadores. Numa atividade da escola, a classe abriu um computador para ver como funcionava por dentro, “foi como dissecar um sapo numa aula de biologia, só que com um computador”, lembra.
Na faculdade, graduou-se em Ciência da Computação e atuou como desenvolvedora no Vale do Silício por um tempo. Entretanto, logo a saudade de casa bateu na porta e ela voltou para Los Angeles. Nesse retorno, aplicou para uma vaga de emprego na THQ, outra desenvolvedora de jogos. Lorena acreditava que ficaria na empresa por cerca de seis meses e logo encontraria um “trabalho de verdade”. Isso ocorreu vinte anos atrás, quando o mundo ainda conhecia os primeiros consoles. Logo, o que era para ser um emprego transitório virou uma carreira.
Dessa forma, Lorena não apenas assistiu a evolução da indústria dos games, como também tem certa responsabilidade pelo que ela se tornou. Como mulher, ela ressalta que houve desafios, visto que se trata de um meio historicamente dominado pelos homens. Entretanto, hoje Lorena conta com alegria sobre como a diversidade tem crescido dentro das empresas.
“Vinte anos depois, me vejo cercada por uma multidão muito diversa, portanto acho que houve um grande progresso. Ainda não terminamos, temos mais desafio pela frente. Mas, estou muito feliz por fazer parte dessa jornada e ver onde estamos hoje”, relata.
Nessa trajetória, Lorena destaca a grande mudança que ocorreu na composição da força de trabalho. Quando iniciou sua carreira, no início dos anos 2000, não havia mulheres em posições de liderança, muito menos latinas ou mães. Hoje, ela se vê rodeada de líderes femininas. Na própria Riot existem (muitas) diretoras mulheres como a Diretora do jogo Valorant, Anna Donlon, e a Head Global de LoL Esports, Naz Aletaha.
Além disso, Lorena ressalta como os próprios jogos refletiram essas mudanças. “Antes, a maioria dos jogadores raramente se via nos jogos, seja por conta do gênero, da orientação sexual ou raça”, afirma. Atualmente, a empresa se esforça em construir personagens diversos, com características e histórias que refletem a realidade desses grupos.
Para além das questões de diversidade, a indústria dos games passou por uma grande revolução nas últimas décadas. O que antes era um mercado focado apenas no jogo, transformou-se num universo muito mais amplo, que engloba torneios, merchandising e conteúdos audiovisuais, como é o caso da série “Arcane” da Netflix, baseada em “League of Legends”. Desse modo, as formas de interação e engajamento se expandiram e se diversificaram drasticamente.
O papel do jogador nesse mercado também se modificou. “A criação do universo do jogo não é uma via de mão única, mas um diálogo com a nossa base de jogadores. Nós não construímos sozinhos, eles também participam.”. Nessa dinâmica, Lorena destaca o papel dos jogadores que criam conteúdos, fazem cosplay, participam dos campeonatos, seja como competidor ou como torcedor, desenham e criam arte digital inspirada nas narrativas dos jogos.
Lorena lembra que quando iniciou na Riot, os torneios de e-sports ainda eram apenas imaginação. Hoje em dia, os campeonatos são uma realidade e funcionam muito bem. “Se alguém me dissesse há 10 anos onde estaríamos hoje, eu não teria acreditado”, reflete.
Nesse sentido, a executiva não arrisca pensar no futuro da indústria com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial, mas uma coisa ela tem certeza que não mudará: o foco no jogador. “Continuo focando na paixão pelos jogadores, nas lacunas que eles enxergam e para onde queremos ir. Precisamos ouvir e entender suas necessidades”, afirma.
O equilíbrio entre a maternidade e o trabalho sempre é um desafio para as mulheres. Para Lorena, o segredo é se desprender da perfeição e da ideia de que existem regras. “Não há um equilíbrio perfeito ou um livro que diga que é assim que você deve fazer funcionar”, reflete. O modelo de trabalho flexível, no qual ela não precisa bater ponto das 9h às 17h, permite que ela seja mãe, mas que também esteja presente para os jogadores.
Ela recorda que o momento mais memorável da sua carreira foi no lançamento de “League of Legends” para a América Latina, há dez anos. “LoL é feito para cada jogador em todo o mundo de uma forma única, não é apenas localizado. Fiquei muito orgulhosa porque normalmente as regiões da América Latina, pelo menos na época, não estavam acostumadas a receber atendimento de primeira linha. Éramos sempre vistos como cidadãos de segunda classe e recebendo coisas secundárias. O jogo definitivamente entrega a experiência completa”, afirma.
Essa jornada de vinte anos de carreira trouxe muitos aprendizados e reflexões sobre o seu papel como líder. Ela lembra que antes as empresas focavam em comunicar ‘o que’ estavam fazendo e no ‘como’, mas para ela, seu momento “eureka” foi quando percebeu que precisava destacar o ‘porquê’ das coisas. “Se as pessoas entenderem o porquê, que é a base fundamental, o ‘como’ e ‘o quê’ são apenas consequência. Essa foi minha maior lição”, reflete.
Nesse sentido, Lorena destaca dois pontos principais que baseiam seu estilo de liderança. Primeiro, ela se descreve como uma líder servidora, sendo aquela que trabalha para o seu time. “Mas, o outro componente é que, como líder, fomos colocados para ajudar a equipe a alcançar algo que não conseguiriam sozinhos”, explica. Dessa forma, ela busca avaliar qual o valor que agrega ao time e como está apoiando a equipe. Em resumo, ela se descreve como uma doadora. “Alguém que busca cultivar harmonia e colaboração, seja na família ou no trabalho. Esse é o cerne do que me move. Eu nunca paro e penso ‘o que essa pessoa precisa?’, eu vou lá e faço”, conclui.
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