Publicidade

Opinião

Saúde mental é coisa séria


31 de janeiro de 2024 - 12h37

(Crédito: Paul Craft/Shutterstock)

Como está o clima por aí? Não estou sugerindo abrir a janela ou checar a previsão do tempo para o seu dia. Me refiro ao clima aí dentro de você.

A primeira vez em que ouvi essa pergunta, me senti desconfortável por não ter uma resposta pronta. Faltavam palavras para descrever o que eu estava sentindo. Sabia que tinha algo errado: comia muitas vezes sem fome, acordava antes do despertador pensando em trabalho e meus minutos de ócio eram ótimas oportunidades de “ticar” alguma pendência da minha lista interminável de tarefas da “mãe-checklist” que habita em mim. Nessa lista tem uma empresa para tocar, tem filhos para cuidar e relações para nutrir. Aprendi, às custas de um problema crônico de respiração disfuncional, que deveria ter a “Michelle” na lista também.

Saúde mental é coisa séria, minha gente. Não é somente o tema da campanha de comunicação da sua empresa em janeiro. Tem gente que adoece de verdade por causa disso. Não é à toa que o burnout entrou para a lista de doenças do trabalho reconhecidas, e que cada vez mais organizações investem caminhões de recursos em programas de bem-estar.

Somos seres integrais. Junto às habilidades profissionais, carregamos para o trabalho nossos desafios pessoais. Para quem concilia filhos e carreira, a realidade é crítica e resulta no que chamamos de “esgotamento parental”, sobretudo materno.

Isso porque a chegada dos filhos tira quase metade das mulheres do mercado de trabalho. Dados mostram que até 20% das mães e pais são acometidos pelo burnout. Esse cenário tornou-se ainda mais crítico com a pandemia do Covid-19, em função do aumento de fatores estressantes na época (saúde, segurança, economia).

Em se tratando das mães, o “pedágio maternidade” em sua carreira, com seus desafios, principalmente nos meses pós-parto, aliado às tarefas domésticas e à atuação profissional, trazem uma sobrecarga para essas profissionais que favorece o cenário de esgotamento, segundo Teng Chei Tung, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Para rever essa realidade, é preciso identificar o clima, dentro e fora de você.

Autorregulação emocional é uma dessas palavrinhas que entrou para o meu vocabulário emocional. Você saberia identificar os sinais do seu corpo quando está prestes a explodir? Pense numa situação recente e estressante envolvendo filhos e carreira em que você perdeu o controle. Como seu corpo reagiu? O que acontece nos milésimos de segundos entre esses sinais e a sua reação fará toda a diferença no desfecho da situação. Conhecer seus gatilhos emocionais e desenvolver um repertório individual de autocuidado em momentos de estresse agudo é rever seu clima interno para, então, conseguir expor suas necessidades com mais assertividade.

Mas é claro que somos impactados pelo meio no qual convivemos. Nenhuma técnica de respiração profunda vai conseguir assoprar e evaporar uma nuvem tóxica no seu ambiente de trabalho se a cultura corporativa não reconhecer a parentalidade como parte da vida de suas pessoas (todas elas, inclusive as figuras paternas).

A transformação cultural de uma empresa é parte de um processo que não acontece da noite para o dia. É preciso que as lideranças tracem um plano, determinem seu ponto de partida e façam um mapeamento da maturidade da organização sob quatro perspectivas principais: identidade, relações, processos e recursos.

– A missão, visão e valores da organização promovem uma cultura de acolhimento (identidade)?

– Existe um clima facilitador ou prejudicial entre as pessoas (relações)?

– Os processos representam obstáculos ou facilitadores (processos)?

– A empresa apresenta benefícios e sistemas para sustentar sua cultura (recursos)?

É a partir de uma metodologia idealizada pela Filhos no Currículo, pautada nas bases da antroposofia, que ajudamos as empresas e suas pessoas a revisitarem o clima interno e externo e a desenvolverem as estratégias mais adequadas para cuidar da saúde emocional nas organizações quando o assunto é bem-estar parental.

Então, falar de saúde mental é para você, figura parental, reconhecer seu ambiente interno e externo, sobretudo aquele que o acolha e saiba valorizar suas potencialidades únicas como profissional.

Para você, liderança de empresa, falar de saúde mental, de fato, é oferecer a esses pais e mães um clima favorável à parentalidade. Ao oferecer condições para conciliarem seus múltiplos papéis, as empresas recebem de volta profissionais engajados e produtivos, com mente sã e garra para dar o melhor de si e oferecer um futuro digno de oportunidades para seus filhos. Desconheço motivação maior que essa.

Publicidade

Compartilhe

Veja também