Opinião
Construindo uma cultura corporativa inclusiva para a saúde mental feminina
É hora de alavancar e acelerar os aprendizados para chegar em uma inclusão efetiva e real, não somente no discurso
Construindo uma cultura corporativa inclusiva para a saúde mental feminina
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11 de abril de 2024 - 11h28
No dinâmico mundo empresarial contemporâneo, a crescente conscientização sobre a saúde mental no ambiente de trabalho destaca-se como uma necessidade premente. No entanto, ao direcionarmos nosso olhar para as experiências específicas das mulheres, complexidades adicionais se revelam. Ainda em 2024, enfrentamos a falta de consciência das narrativas subjacentes, dos preconceitos e vieses que formam parte e perpetuam o paradigma atual.
Problemas financeiros, jornada de trabalho excessiva, pressão estética, responsabilidades desproporcionais nas esferas domésticas, cuidado de filhos e pais idosos, pressões hormonais geralmente silenciadas ou ignoradas são algumas das causas de adoecimento mental das brasileiras hoje.
A jornada das mulheres exige resiliência diária. Segundo pesquisa divulgada em outubro de 2023 pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE), 65% do trabalho de cuidado não pago, em média, de todo o país, é realizado por mulheres.
A discriminação de gênero se manifesta na falta de oportunidades, nas barreiras para o avanço e desenvolvimento, no desgaste emocional em ambientes de insegurança psicológica, na diferença salarial persistente, em obstáculos como a síndrome do “piso pegajoso” – um discriminatório que mantém os trabalhadores nos níveis mais baixos da escala de empregos, com baixa mobilidade e barreiras invisíveis para o avanço na carreira –, além em outros desafios que permeiam esse cenário.
A chave para abordar efetivamente a saúde mental feminina reside na construção de lideranças verdadeiramente esclarecidas. Não basta oferecer benefícios ou políticas inclusivas, é necessária a modelagem genuína de comportamentos desde o topo da hierarquia. Os gestores, homens e mulheres, devem compreender as fases da vida das mulheres, promovendo uma cultura que respeite e celebre a diversidade de experiências. Deve ser parte da conversa. E tudo isso sob o guarda-chuva da segurança psicológica, ou seja, da criação e sustentação de um ambiente onde as pessoas conseguem ser elas mesmas sem medo de serem castigadas ou ridicularizadas por isso.
Já é hora de avançar da conscientização para a ação, criar esses espaços seguros para compartilhar vulnerabilidades. Tomar ação requer uma firme intencionalidade por parte das mulheres e um profundo entendimento por parte de toda a sociedade, homens e mulheres.
Segundo a pesquisa “Esgotadas”, da ONG Think Olga, 45% das mulheres lidam com depressão, ansiedade e outros transtornos mentais, sobretudo devido à sobrecarga de trabalho, contribuindo assim para o aumento dos níveis de estresse e burnout. Nesse sentido, a educação sobre saúde mental e o fácil acesso a recursos são medidas que não podem continuar desatendidas se queremos maximizar as contribuições dos colaboradores nas empresas. Não há sociedade que se beneficia quando as mulheres não conseguem se desenvolver e contribuir.
Enquanto avançamos, é crucial aprender com as armadilhas do passado. Treinamentos engessados e obrigatórios, foco excessivo em cotas sem atenção à cultura organizacional e práticas que ignoram a diversidade de experiências podem minar os esforços de inclusão. Sendo assim, o compromisso contínuo da liderança, métricas claras e uma abordagem diferenciada e orgânica são cruciais para driblá-las.
Em conclusão, as mulheres não estão apenas no mercado de trabalho, elas moldam e sustentam o próprio tecido do ambiente corporativo. Ao reconhecer a responsabilidade compartilhada, podemos construir um futuro onde a saúde mental feminina não seja apenas uma pauta, mas uma realidade. A cultura de uma empresa que quer ser saudável e ao mesmo tempo lucrativa só pode se construir e sustentar com a contribuição de todos. Quando as mulheres sofrem de problemas de saúde mental no lugar de trabalho, não conseguem contribuir e co-criar essa cultura, acaba sendo mais pobre para todos.
É hora de alavancar e acelerar os aprendizados para chegar em uma inclusão efetiva e real, não somente no discurso. Criar ambientes que apoiam e sustentam as mulheres, junto com uma mudança de mindset para que as organizações não deixem de se beneficiar da riqueza e abundância que elas trazem.
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