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Opinião

Maio sem estereótipos de maternidade

A maternidade real, sem filtro e que dialogue com as mães precisa estar carregada de autenticidade, e isso só é possível com a ficha técnica feminina


15 de maio de 2023 - 9h00

(Crédito: BRO.vector/Shutterstock)

Estive recentemente em um encontro liderado pela ONU Mulheres em comemoração aos 4 anos da iniciativa “Aliança sem Estereótipos”, que fomenta a discussão e planos de ação para eliminar estereótipos de gênero na publicidade como forma de construção de um imaginário social mais justo na representatividade de mulheres, em especial negras e indígenas. É um tema bastante urgente, que possui metas importantes e que vem evoluindo em sua discussão – mas que ainda precisa de muito esforço do mercado e do engajamento das grandes lideranças para que o cenário atual, com números de diversidade nada animadores, possa ser transformado. 

O trabalho por um mercado publicitário mais inclusivo e livre de construção de estereótipos deve ser contínuo e nos demanda reflexões importantes sobre como estamos representando as mulheres na comunicação, diariamente. Aproveitando o mês de maio, entendo que precisamos refletir quais são os estereótipos femininos que estamos ajudando a reforçar nas comunicações do Dia das Mães. 

Todo ano é sempre igual: marcas e agências trabalham para construir relevância, neste mês tão importante do calendário no país, para tornar a marca mais lembrada e talvez lançar a campanha publicitária mais compartilhada no WhatsApp da família. As marcas querem fazer parte deste momento tão especial e importante para o varejo, mas estão conscientes do impacto da construção de suas narrativas no imaginário sobre a maternidade na sociedade? 

Histórias que naturalizam o protagonismo das atividades domésticas da mãe, que reforçam que estas mulheres precisam sempre estar dando conta de tudo, que retratam a culpa materna de uma maneira superficial e romantizada, contribuem para a perpetuação de uma imagem estereotipada dessa super-heroína – somados ao desequilíbrio dos papéis familiares e a sensação que “tá tudo bem” na manutenção do cansaço e excesso de responsabilidade depositado na mulher. Não tá tudo bem, não, gente! 

As configurações familiares brasileiras são compostas por famílias com uma estrutura monoparental (temos mais de 11 milhões de mães solos, em sua maioria mulheres negras, segundo o IBGE), casais LGBTQIA+, mães com deficiência, mães trans. Estamos conseguindo incluir essas representatividades nas imagens que povoam as nossas campanhas? Existe espaço para novas representações da maternidade nas peças de comunicação? Será que estamos sendo realmente inclusivos? 

Sabemos que a publicidade tem um papel crucial na formação da opinião pública e na construção de valores sociais e precisamos usar isso a favor da mudança. É fundamental que as empresas e os profissionais de comunicação sejam conscientes do papel que desempenham e que para romper com os estereótipos precisamos não só de letramento e de reflexão, mas também de representatividade no processo criativo na tomada de decisão. 

A maternidade real, sem filtro e que dialogue com as mães precisa estar carregada de autenticidade, e isso só é possível com a ficha técnica feminina. Incluir mulheres e mães na composição dos times de trabalho do lado das agências, dos clientes e fornecedores é o que irá garantir a verdade das narrativas, tornar as representações mais próximas das pessoas e conseguir estabelecer de forma genuína as conexões entre as marcas e audiência. As mães se reconhecerem é o que promove o engajamento e gera impacto, inclusive de negócios.  

Como lideranças femininas no mercado de comunicação, precisamos estar atentas e vigilantes para garantir que estejamos de fato colaborando para uma representação real e adequada das mulheres na comunicação sem estereótipos, conseguindo colocar em prática um discurso tão importante para a construção da equidade de gênero. 

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