Dicotomia Olímpica

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Opinião

Dicotomia Olímpica

Não custa sonhar que, no futuro, a Olimpíada possa ser vista como marco inicial de uma retomada para o País


25 de julho de 2016 - 16h29

Entrevistado desta semana de Meio & Mensagem, Gary Shapiro, CEO da Consumer Technology Association (CTA), resumiu para o editor Igor Ribeiro a percepção da comunidade internacional em relação aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.

“Não há muita expectativa em torno de inovação e tecnologia em relação ao Rio, porque o Brasil já está lidando com tantos problemas hoje, como a instabilidade política e o zika vírus, que acho que todos esperamos que o País possa simplesmente realizar o evento sem traumas, da melhor forma possível”, ponderou o executivo-chefe da empresa que organiza a megafeira Consumer Electronics Show (CES), realizada há quase 50 anos em Las Vegas e palco de lançamentos de grandes inovações em produtos e serviços. “Em cidades que sediam Olimpíadas também costuma haver grandes conquistas em termos de mobilidade. Mas, como disse, acredito que o Brasil tenha problemas tão mais graves agora que a expectativa geral é de que o evento em si ocorra bem. Isso já seria ótimo.”

Cá por estas bandas, o termômetro segue no campo negativo. A cada dia, a Olimpíada ganha mais espaço no noticiário, mas a chamada “agenda positiva” ainda não tem musculatura para competir com as informações de teor pessimista. Os programas, quadros e páginas esportivas ampliaram a cobertura dedicada aos Jogos, mas, neste momento, o que ganha as manchetes (assim como as rodas de conversas pelas ruas e mesas de almoço) são as reportagens sobre a possibilidade de o País ser alvo de ações terroristas durante o evento — na semana passada, a operação Hashtag culminou com a prisão de um grupo de dez pessoas suspeitas (um grupo “absolutamente amador”, de acordo com o Ministério da Justiça) de tramarem algum atentado na Rio 2016.

Mesmo a passagem da tocha olímpica, momento tradicionalmente emblemático para despertar na população orgulho e expectativa quanto à realização dos Jogos, acabou gerando emoções distintas — parte do material compartilhado e viralizado pelas mãos e cliques do público tem um viés satírico, dentro do espírito “quanto pior, melhor”, que, verdade seja dita, é próprio das redes sociais.

Dentro desse cenário desafiador, empresas que investiram para serem patrocinadoras de um ciclo olímpico põem em prática estratégias e iniciativas para associarem suas marcas à Rio 2016. Afinal, é preciso conseguir o máximo de retorno possível para os aportes que variam entre US$ 100 milhões e US$ 300 milhões (dependendo das condições previstas nos contratos), feitos por cada um dos parceiros comerciais do Comitê Olímpico Internacional, apenas na aquisição da propriedade.

É possível que, nos próximos dias, comece a se repetir o efeito ocorrido durante a Copa do Mundo, quando apenas na semana de abertura do evento as avaliações positivas do público passaram a concorrer e até a superar as negativas. Meio & Mensagem acompanhará de perto a evolução desse processo. A partir desta edição, que você tem agora em mãos, caro leitor, publicaremos uma série especial sobre os Jogos Olímpicos. Primeiro, anteciparemos como marcas, veículos e agências planejam conquistar atenção e audiência para seus conteúdos e campanhas. Em agosto, entra em cena a cobertura específica da competição, na qual retrataremos e analisaremos o desenrolar dessas ações, com entrevistas, reportagens e estudos exclusivos relativos a temas e indicadores pertinentes à comunicação.

É fato que a Rio 2016 não será a coroação do Brasil como uma economia dinâmica e poderosa, como imaginávamos em 2009, quando a Cidade Maravilhosa foi escolhida como sede dos Jogos, e vivíamos a euforia típica daqueles tempos, embalados pelo desenvolvimento sem precedentes de nosso mercado interno de consumo. Mas não custa sonhar que, no futuro, a Olimpíada possa ser vista como o marco inicial de uma retomada para o País, calçada em bases mais serenas e sólidas do que as vigentes há sete anos.

Que seja dada a largada.

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