A revolução criativa do dia a dia

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Opinião

A revolução criativa do dia a dia

Os saltos inesperados são cada vez mais frequentes e os ciclos de estabilidade cada vez mais curtos


14 de maio de 2018 - 10h37

Crédito: Baloncici/iStock

Quem aí teve que resolver um problema completamente inédito nos últimos seis meses, do qual talvez não tivesse sequer ideia da existência? Quem aí enxergou uma oportunidade nova, sem precedentes, para um produto ou um serviço, no mesmo período?

Jogar-se em problemas e oportunidades inéditos parecem ter-se tornado a norma na vida das pessoas e no ambiente de negócios. Os saltos inesperados são cada vez mais frequentes e os ciclos de estabilidade cada vez mais curtos. Em meio a tanta novidade, a criatividade fica mais e mais relevante: enxergar padrões no meio do caos aparente é certamente importante, mas juntar as pontas, criar sentido, inventar soluções e propor novas realidades é muito mais. Também é muito mais divertido.

De Gaudi explorando novas técnicas construtivas e equações matemáticas, a Monet construindo ambientes de jardins-modelos em seu próprio estúdio, a história está cheia de exemplos de gênios que transformaram processos de aprendizado e investigação em resultados impactantes e disruptivos

Por isso todo mundo agora quer ser (e é) criativo. Da hora em que mandamos uma simples mensagem ao momento em que definimos o próximo passo de um negócio, somos todos inventores cotidianos. Imensa vantagem para criativos profissionais de toda espécie, que desfrutam de um ambiente de aceleração de ideias. Quando todo mundo, do manobrista ao presidente da empresa tem que ser criativo, chegamos ao nirvana.

Por que, então, atravessamos uma crise existencial nas indústrias criativas? Uma possível explicação é que continuamos a aplicar processos e soluções antigos para resolver problemas e explorar oportunidades completamente novas. Aconteceu o mesmo na revolução industrial, quando grandes mestres foram desestabilizados em seu fazer, enquanto se abria caminho para o cinema, a fotografia, as reproduções gráfica e fonográfica em massa. De Gaudi explorando novas técnicas construtivas e equações matemáticas, a Monet construindo ambientes de jardins-modelos em seu próprio estúdio, a história está cheia de exemplos de gênios que transformaram processos de aprendizado e investigação em resultados impactantes e disruptivos. A diferença entre aproveitar uma oportunidade incrível e ter que resolver um problema sem precedentes está, muitas vezes, na mentalidade e no tempo com que se reconhece a situação.

Nesta nova aceleração, processos criativos que exploram agilidade e promovem colaboração, duas importantes premissas de nosso momento, tornam-se peças muito valiosas. Desenhados para acomodar diversidade cognitiva e gerar ideias inovadoras em ciclos de curto prazo, estes processos podem ajudar nos grandes movimentos de gestão empresarial, ou pelo menos a preparar os decisores para que operem com uma mentalidade flexível e ágil.

Nem chegam a ser grandes novidades, só estão mais populares pela escala dos problemas e oportunidades que estamos encarando. A maior parte da bem-sucedida indústria contemporânea de software usa processos ágeis e evolutivos derivados do movimento iniciado em 2001 com a publicação do Manifesto Para o Desenvolvimento Ágil de Software. Criado por um grupo de influentes programadores que acreditavam em processos adaptativos para a geração de tecnologia, o manifesto é incrivelmente criativo e gerou uma variedade de técnicas de programação que estão entre os pilares da cultura empresarial do Vale do Silício.

Num episódio de 1.999 do programa Nightline da rede norte-americana ABC, o escritório de design IDEO demonstrou seu processo de uma semana de trabalho na geração do protótipo para um inovador carrinho de supermercado. O vídeo é um clássico que até hoje recruta discípulos ao redor do mundo. O pensamento que sustenta seu processo de Human-Centered Design não é muito diferente do proposto pelos programadores do Agile — iterações flexíveis, evolutivas, desenvolvidas em curtíssimo prazo, focando em desenvolvimento contínuo.

Ambos os métodos foram desenhados para que se tornassem processos circulares de aprendizado e desenvolvimento coletivo, abertos para a participação do público final. Isto soa muito bem para nosso momento criativo, não é verdade? Longe da pretensão de gerar conceitos arrebatadores sem compromissos concretos, são práticas de criatividade mão-na-massa que vêm, de fato, criando ideias demolidoras por duas décadas. O mais importante, por irem muito além da teoria, não pedem que se façam movimentos gigantescos de saída. Andam de passo em passo. Uma voltinha depois da outra. Vale experimentar.

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