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Eu digital? Também.

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Eu digital? Também.

Enquanto no mundo dos átomos, você é o que você faz, no mundo dos dados você é o que você consegue mostrar, as imagens que você consegue gerar de si mesmo.


21 de setembro de 2017 - 7h07

Por Fhabyo Matesick (*)

Há muito tenho discorrido com amigos sobre o “Eu digital” de cada um de nós. Aquele Eu que hoje quase todos temos, o Eu@ que está em todos os meios digitais possíveis. Se você está no Facebook, Twitter, Instagram, Snapchat, Badoo, Strava, WhatsApp, Foursquare, Gust, Swimpro ou em qualquer outro universo paralelo onde as moléculas são códigos e não átomos, você tem um Eu digital.

Um não, vários, na verdade. Porque ninguém se comporta da mesma maneira nesses canais. Podemos até ter características que estão em todos, mas cada um ressalta um pouco mais da personalidade do seu Eu digital e também a característica do canal. No Facebook fala-se demais, no Twitter fala-se de menos mas, muitas vezes, no Instagram maquia-se demais, no Snapchat pira-se demais e por aí vai.

Pois bem, com toda essa vida digital nos cercando, a tudo e a todos, 24/7, é perceptível como viemos mudando a construção dos nossos Eus de uma forma diferente de como fazíamos quando a vida era apenas biológica. Enquanto no mundo dos átomos, você é o que você faz, no mundo dos dados você é o que você consegue mostrar, as imagens que você consegue gerar de si mesmo.

No biológico, o que importa são as suas atitudes, no digital, as suas imagens. Isso talvez explique porque tem se tornado mais importante do que assistir a um show, ter uma boa imagem dele, seja em foto ou em video. O mantra “se não puder compartilhar, não existiu” parece ecoar cada vez mais alto e mais longe.

Há algumas semanas estive em Nova Iorque, onde fui assistir ao espetáculo Sleep No More (https://mckittrickhotel.com/), um clássico do teatro imersivo. A peça não acontece em um teatro, mas sim em um hotel inaugurado em 1939 e que ficou 72 anos trancado até que o grupo teatral inglês Punchdrunk trouxesse a vida de volta a ele, fazendo do hotel o cenário para sua peça Sleep No More.

Não vou entrar no mérito da experiência em si, sem dúvida uma das mais intensas que já vivi, mas sim em um fato isolado que fala muito sobre a confusão do digital com o biológico nos tempos atuais. Fui sozinho e acompanhei a peça por todos os andares, sempre na turma do gargarejo. Antes da peça começar, um aviso severo para não fotografar nem filmar. Já havia se passado uns bons 45 minutos de intensidade giga quando, em determinado momento, o meu Eu biológico se rendeu ao meu Eu digital. Saquei o celular e tirei uma foto.

Segundos depois, além agarra com força e rispidez a minha mão com o celular, me empurra na parede e, literalmente, sem meias palavras, me obriga a deletar a imagem recém tirada. Prontamente deletei, mas, ao invés de ficar puto com a grosseria, fiquei envergonhado com a minha atitude. “Logo eu, que sempre sigo as regras”, pensei naquele momento, embaraçado com minha sede de compartilhar o que estava vivendo.

Naquela noite, além da experiência inesquecível do Sleep No More, adicionei a certeza de que, tão importante quanto alimentar a vida do seu Eu digital, é manter os olhos nas suas atitudes aqui no mundo biológico. Elas ainda continuam valendo mais do que likes & comments.

(*) Fhabyo Matesick, sócio e CSO da TIF Comunicação

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