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O festival que é endurance, não sprint

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Cannes Lions

16 a 20 de junho de 2025 | Cannes França
Diário de Cannes

O festival que é endurance, não sprint

Do Ironman ao Cannes Lions: uma reflexão sobre resiliência, preparação e os desafios antes, durante e depois da linha de chegada


16 de junho de 2025 - 14h18

No último final de semana aconteceu em Florianópolis a etapa brasileiro do Ironman, uma competição de triathlon de endurance. São 3.8km de natação, 180km de bike e 42km de corrida, sim distâncias desafiadoras para qualquer pessoa do mais preparado ao amador.

Eu ainda não me atrevi colocar este desafio para mim, mas quem sabe um dia a gente nunca sabe. Mas acreditem, o mais difícil não é fazer a prova. O grande desafio é treinar para esta prova, pois exige meses de preparo, disciplina e muito esforço. O ciclo do Iron é temido por qualquer aspirante do triathlon.

Daqui algumas semanas estarei em Cannes. São 7 dias intensos mergulhados na indústria da comunicação. Costumo dizer que é dar um “banho” de publicidade na gente mesmo. Afinal, com o passar do tempo e da rotina nem sempre nossa veia publicitária está aflorada.

Cannes é exaustivo, nos dias de festival do ano passado eu andei em média 21 km, uma meia maratona por dia. Claro que fica mais fácil quando se faz isso olhando a beleza da Côte D’ Azur.

Mas acreditem, o mais intenso não é o festival. O grande desafio é o pré festival, entender uma agenda toda, conhecer trabalhos com potencial, construir cases, RSVP para um monte de coisa. O medo de não aproveitar Cannes é uma constante.

As competições de triathlon de longa distância revelam um sabor agridoce para quem participa. Ao chegar na metade da corrida, última etapa da prova, a sensação é desesperadora. É comum você se revoltar com você mesmo e mentalmente se perguntar o porquê você escolheu fazer aquilo e logo em seguida prometer nunca mais se inscrever em outro desafio como aquele. É o momento em que nada parece fazer sentido.

Para mim a manhã de sexta-feira em Cannes é igualmente agridoce. Ao passo em que você encheu sua mente de coisas novas, conversou com muita gente, fez networking e alimentou sua caixinha publicitária de coisas novas, também se inicia a desesperadora sensação de não ter aproveitado absolutamente nada.

Olhar para o horizonte que se abre em Cannes e depois voltar para o horizonte da sua rotina é um tanto quanto desesperador. Os problemas da pauta continuam lá, os desafios dos seus clientes continuam lá e parece que você simplesmente perdeu uma semana e nada daquilo vai servir para sua realidade. É o momento em que nada parece fazer sentido e mentalmente você pode pensar “Eu nunca mais venho pra Cannes.”

Cruzar a linha de chegada em uma competição revigora qualquer pessoa. O nível de endorfina transforma tudo, você se sente muito bem e extremamente disposto. Tudo volta a fazer sentido e imediatamente sua cabeça começa a alimentar pensamentos sobre o próximo desafio, a próxima distância e o famoso pensamento do “E se…E se…E se…”. Pronto, o caminho está sem volta e um novo paradigma se abriu.

Ir embora de Cannes, mesmo sem nenhum leão na mala, é combustível fértil para sua próxima jornada. O voo de volta tende a ser como um quebra cabeça que se encaixa aos poucos.

O exemplo daquela agência do outro lado do mundo que fez aquele case de uma marca que você nunca ouviu falar, parece ter sido perfeito para o problema que estava ali na sua mesa por semanas. Aquela conversa embalada no Martínez com uma pessoa que você só leu algumas notícias sobre ela, parece fazer todo sentido para o posicionamento de uma marca que sua agência vai entregar nos próximos dias.

Bom, vou mais uma vez para Cannes.

Para mim o festival não é sprint, para mim é a maior prova de resiliência da nossa indústria. Seja correndo atrás de leões ou simplesmente na constante provocação de entregar um trabalho de classe global.

A todos. Bom Cannes Lions.

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