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Cannes Lions

17 a 21 de junho de 2024 | Cannes - França
Diário de Cannes

Wow! Wow! Wow! Wow!

Por incrível que pareça, isso significa muito depois de ouvir Jacques Séguéla, Leão de St. Mark, e tudo o que rolou no último dia de Cannes


22 de junho de 2024 - 11h32

Para além da euforia da sexta-feira no festival de Cannes, Jacques Séguéla deu o tom do último dia e trouxe lições daquelas que não podemos deixar de aprender.

O Leão de St. Mark desse ano foi para um senhorzinho alegre de 90 anos, com uma carreira que ajudou a esculpir o mercado criativo francês e global. Seu Jacques – peço licença pra chamar assim por tamanha proximidade gerada pelo que foi dito ali por ele – ganhou seu primeiro leão há quase 50 anos e trouxe uma lucidez absurda ao utilizar sua voz pra reafirmar os princípios que ajudaram a construir o mercado da propaganda criativa no mundo.

“Dinheiro não dá ideia, mas ideia dá dinheiro”, repetia ele junto ao seu inesquecível “Wow, wow, wow, wow!”, ao som dos aplausos.

O foco na ideia, em fazer um grande trabalho, em fazer o que nunca foi feito antes, é o princípio que fez esse mercado ser o que é. Priorizar o business e deixar a ideia de lado tira o brilho da propaganda pela qual nos apaixonamos.

Como ouvi ainda agora no avião, “você já sabe, mas não custa lembrar”.

Daniel Caracas, meu sócio aqui no Grupo Phocus, sempre levantou essa bandeira. Nesses 8 anos em que somos sócios, já colocamos em xeque negócios importantes em nome do que acreditamos. Deu frio na barriga? Sempre dá. Mas dá certo. Nem que seja de outra maneira depois.

Pra fazer isso, precisa ter bravura. Como vi existir de verdade na dupla dinâmica da Gut, Anselmo Ramos e Gaston Bigio, que também falou no festival no último dia. Uma aula de visão criativa e foco. Mastigada. Nesse mercado, a gente é bom em ouvir “não”. Mas estamos péssimos em dizer “não”. É preciso equilibrar melhor essas duas coisas. O “não” tem o poder de proteger as ideias e a visão das nossas agências. Dizer “não” é uma arte difícil de ensinar. Mas é preciso reaprender a dispensar negócios em nome do que é o coração do nosso mercado. Como já dizia há miliano o provérbio bíblico: “de tudo o que podes guardar, guarda o coração”. Nosso apreço pelas ideias não tem preço. Ou não pode ter. Isso tava lá na fala do Anselmo e também na de nosso querido Seu Jacques.

Seu Jacques, eu enxerguei ali como o Washington Olivetto da publicidade francesa (com uns 30 anos de diferença, Washington, você está inteiraço). Ele exibiu pela manhã alguns de seus filmes, clássicos francamente hollywoodianos, um deles com direito a um submarino emprestado pelo presidente da França na época.

Mas me inspirou principalmente com um gesto: homenagear ali sua companheira de vida. 47 anos de casamento e ela ainda diz que ele é lindo.

“O amor deixa a gente cego”.

Ele é lindo mesmo.

Escolher amar a mesma pessoa a vida inteira é um ato de bravura. Ainda mais se essa pessoa for um publicitário.

Wow! Wow! Wow! Wow! Wow!
Eu daqui aplaudo de pé.

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