Na W+K, Edu Lima realiza sonho
Novo sócio da operação fala sobre seu encontro com Dan Wieden e as perspectivas ao assumir a criação da agência no Brasil
Novo sócio da operação fala sobre seu encontro com Dan Wieden e as perspectivas ao assumir a criação da agência no Brasil
Bárbara Sacchitiello
20 de maio de 2016 - 11h48
Anunciado nesta semana como o novo sócio da operação brasileira da Wieden+Kennedy São Paulo, Eduardo Lima conseguiu materializar dois sonhos. O primeiro é o de fazer parte da equipe da agência que mais admira no mundo. E o segundo é ter ingressado nessa nova empreitada depois de ouvir três convites diretamente de Dan Wieden, fundador da agência norte-americana. “Sua presença me impactou a ponto de eu me sentir um menino diante de seu ídolo”, conta o criativo.
Nesta entrevista, Edu Lima conta que a aproximação com Renato Simões e André Gustavo, sócios da W+K São Paulo começou logo depois de ele ter saído da F/Nazca S&S, em agosto do ano passado, deixando para trás 21 anos de trabalho dedicados à agência de Fábio Fernandes.
Ainda nos Estados Unidos – ele retorna ao Brasil em breve, para começar na função de diretor executivo de criação da agência a partir de agosto – Edu Lima conversou com Meio & Mensagem, por e-mail, para falar sobre os desafios da nova experiência. Ele faz um relato emocionado de sua conversa com Dan Wieden e revela como pretende colaborar para construir uma trajetória memorável para a operação brasileira da W+K. Veja:
Meio & Mensagem: Como foi o início de sua aproximação com a Wieden+Kennedy São Paulo?
Edu Lima: Foi pelo escritório de São Paulo, via Renato e André. A gente já trabalhou juntos no passado, em épocas diferentes. Conheço bem os dois. Eles estavam curiosos pra saber o que eu iria fazer depois desse ano sabático. Sondaram se havia interesse da minha parte em ir pra W+K, já que o comando de todas as agências do mundo é composto por um trio: duas pessoas de criação e uma pessoa de negócios. Eles acharam que eu era o cara pra essa vaga, mas tiveram paciência de me esperar. Nunca falaram para eu abandonar essa experiência de vida e ir logo pra lá. Desde o início foi um jogo aberto, limpo. De ambas as partes. Falamos umas três vezes ao longo dos meses até eles apontarem que o caminho passaria por Portland (cidade onde se localiza a sede da Wieden+Kennedy, nos Estados Unidos). Foi ai que eu percebi que iria conhecer a agência que mais admiro no mundo, o templo sagrado do Oregon. A minha Meca.
Meio & Mensagem: No comunicado enviado pela agência nesta semana, você falou sobre sua experiência no escritório da W+K em Portland e de seu contato com Dan Wieden. Poderia contar um pouco mais sobre isso?
Edu Lima: Eu estava feliz só de estar lá. De adentrar no templo. Ali tem algo diferente no ar. Dizem que tem gente que sente e gente que não sente. Passei dois dias em Portland. No segundo dia, me disseram que eu iria falar com o Dan. Eu dizia que não precisava, que eu já estava feliz. Mas eles insistiam. E são determinados. Ele apareceu e sua presença me impactou a ponto de eu me sentir um menino diante de um ídolo. Fomos para dentro da sua sala e sentamos no seu sofá de pele de carneiro. Ele começou a falar sobre a vida, sobre como ele começou o negócio. Falou das pessoas, principalmente delas, que ali era um lugar para elas, delas e que por isso havia fotos dos funcionários na recepção, pinturas, fotografias, esculturas. Ali era um lugar para se expressar. Falamos dos nossos princípios de vida. No meio disso, ele falou que um link com meus trabalhos e que tinha ficado muito impressionado. Ele disse que queria muito que eu trabalhasse com eles. Eu, que já estava feliz, fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Pensei que não tinha ouvido direito. Falei sobre o convívio com os meus filhos, que inverti o papel com a minha mulher e que agora era eu que ficava – e fazia por eles – o que era necessário no dia, inclusive acordar cedo, coisa que odeio. Falei da loucura de largar tudo e de como é difícil, mas necessário, se desprender das coisas. Falei do meu tempo de ócio e que achava que iria enlouquecer. E ele falou dele, da sua família, do impacto de ficar viúvo, de uma história que ele passou mal subindo uma montanha e foi onde ele percebeu que estava indo mais alto na vida do que precisava. E que, a partir dali, ele decretou que jamais iria permitir ser comprado e falou que levou essa filosofia às últimas consequências, colocando num inventário que sua família poderá fazer o que quiser com a agência quando ele não estiver mais aqui, menos vender. Jamais. Aí, ele me pediu de novo, gentilmente, para trabalhar com eles. Já estava feliz com o primeiro pedido, mas esse segundo me arrepiou. Passando a mão na pele de carneiro, com sua fala mansa, me contou do interesse dele e do amigo Lee Clow pela criatividade na ciência. Que aquilo estava os intrigando e que eles fariam alguma coisa sobre isso. Falou do encontro e das coincidências que fizeram ele e sua atual esposa se apaixonarem. Foi bom respirar vida e simplicidade ali com ele. O terceiro pedido veio na sequência: ‘é muito importante que você trabalhe com a gente.’ Eu já estava feliz com o primeiro pedido. Mas três? A conexão com ele foi tanta que eu ia pedir pra abraça-lo no final, mas ele pediu primeiro. E ficamos ali uns 30 segundos abraçados…não,, acho que uns 40 segundos, abraçados – afinal, não iria passar na Globo.
“Passei dois dias em Portland. No segundo dia, me disseram que eu iria falar com o Dan. Eu dizia que não precisava, que eu já estava feliz. Mas eles insistiam. E são determinados. Ele apareceu e sua presença me impactou a ponto de eu me sentir um menino diante de um ídolo.”
Meio & Mensagem: O que espera levar de sua longa experiência como criativo para o dia a dia da W+K? Como sua bagagem pode contribuir para o crescimento da operação?
Edu Lima: Fui criado e educado na criação. Um criativo tem que criar, independente do cargo. É fácil se enrolar em problemas do dia a dia e deixar de fazer o seu principal ofício. Olhava para o lado e via o Fabio Fernandes, apesar de toda carga de ser o presidente da agência, ali, dedilhando no seu computador, criando. Aquilo era ele dando o exemplo. Então acho que trago essa paixão pelo fazer. Temos que ver os jobs como oportunidades e não desperdiçá-los, mas pensá-los com carinho. Foi assim que levamos a F/Nazca ao patamar criativo em que ela chegou, superando, inclusive, agências que chegavam quase ao dobro de seu tamanho. Trago essa simplicidade do fazer. Não existe milagre, existe sentar e criar. Nunca perdi tempo fazendo política pelos corredores, pelo telefone e nunca me interessou trabalhar em agência política. Não sirvo pra isso. Meu foco é o trabalho. Luto e brigo por ele. Outra coisa fundamental que aprendi é que uma agência é feita por pessoas. Temos que cuidar delas, sempre. Ao longo dos meus anos como diretor de criação e diretor geral de criação construí diferentes equipes, sempre preocupado com o talento profissional e, principalmente, com o caráter de quem colocar para dentro. Quando você tem um grupo assim, aquele de caráter duvidoso é expelido naturalmente. Uma equipe tem que ser pensada e tratada com respeito. Isso todos que trabalharam comigo sabem que não falo da boca pra fora. Trago comigo a sinceridade do quando gosto, gosto, e quando não gosto, falo, mas sem ofender. Trago espírito de luta e inspiração e a busca por extrair o melhor. Quando vejo uma ideia boa, vibro e tento ajuda-la a sobreviver, independentemente de quem seja, do departamento que for. É boa, então vamos nela. Ao mesmo tempo, também aprendi a ouvir mais do que falar. Sou naturalmente assim. Sei perceber quando vale a pena discutir e quando a batalha parece perdida. Acho que a W+K é uma agência que está crescendo e vai crescer muito mais. Já tem clientes importantes, inclusive, alguns com os quais já trabalhei. E os clientes também são pessoas. E, se alguns que estão lá já me mandaram mensagens de alegria por voltar a trabalhar comigo, é porque acreditam também na forma com que eu conduzo e na forma com que trabalho. Sei que andar bem com cliente não significa só dizer ‘amém’. Mas também sei que uma coisa é certa: cliente feliz chama cliente.
Meio & Mensagem: Por outro lado, em que a W+K irá contribuir para a sua trajetória profissional? O que mais te atrai neste novo desafio?
Edu Lima: A W+K é uma marca emblemática para mim. Tem trabalhos marcantes na história, absolutamente geniais. Isso me atrai e, para mim, é a razão de ser dessa profissão. O desafio de fazer e a oportunidade de entrar nessa galeria histórica. Acho que qualquer um que goste desse ofício não fica indiferente diante dessa sigla. Lá em Portland tem um poster gigantesco escrito ‘Fail Harder’. Você não será condenado se errar. Será se não tentar. Acho isso instigante. Tudo parece preparado para deixar a ideia fluir. Vai fazer bem para o meu espírito, apesar de todas as dificuldades diárias e medos normais que aparecem pelo caminho. Sei que o medo é quem nos aprisiona. E a impressão que eu tenho é que a W+K transborda inspiração e te dá liberdade para imaginar. Em muitos lugares a imaginação parece ser perigosa. Lá, não. É sem amarras. Se ao longo do tempo for isso, já está ótimo pra mim.
“Acho que qualquer um que goste desse ofício não fica indiferente diante dessa sigla. Lá em Portland tem um poster gigantesco escrito ‘Fail Harder’. Você não será condenado se errar. Será se não tentar. Acho isso instigante. Tudo parece preparado para deixar a ideia fluir.”
Meio & Mensagem: Qual será sua participação societária no negócio?
Edu Lima: Sério mesmo que você acha que eu vou responder isso? Liga lá pro Dan que ele te conta!
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