Opinião: Somos todos macacos de laboratório

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Comunicação

Opinião: Somos todos macacos de laboratório

Três experimentos. Com cachos de banana, uvas, pepinos, jaulas. Qual dos símios você gostaria de ser? Qual deles queria ter ao seu lado?


29 de janeiro de 2015 - 8h30

Por André Kassu (*)

O experimento é simples: cinco macacos dentro de uma jaula e um cacho de bananas no alto de uma escada. O chamariz é irresistível. A pegadinha reside no fato de que, se o macaco tentar pegar a banana, os outros tomam um banho de água gelada. Com o tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros sentavam a mão nele. O condicionamento criou uma atmosfera em que nenhum dos macacos pegava a fruta, apesar da tentação. Já seria uma boa metáfora para a vida nas agências, mas os cientistas foram além e substituíram um dos símios do grupo por um novo. Claro, ele não sabe das regras. Vai direto na fruta e leva uns cascudos. Aos poucos, eles vão substituindo todo o grupo. Ao final, temos cinco macacos que, mesmo sem um por quê, continuavam a punir quem tentasse pegar as bananas.

Uma equipe que já terminou o seu trabalho, mas não vai embora porque o chefe continua sentado na mesa é um paralelo e tanto com essa experiência. Tal e qual os símios, os funcionários parecem temer um banho de água gelada.

Aceitamos as coisas como elas são sem questionar. Por mais injustas que pareçam. A diferença é que nós temos o poder de dialogar com racionalidade e ainda assim não o usamos. Pode um homem gritar com uma mulher no meio da agência e ninguém se intrometer? Pode um chefe humilhar o seu time sem que nenhuma daquelas tristes almas levante a voz? Tem algum cabimento você aceitar regras que vão de encontro aos seus valores? A única explicação é que as pessoas se acostumam a tal ponto com um ambiente nocivo que preferem não pensar no que as cercam. O que resulta em frases do tipo: “em toda agência é assim”, “em tal lugar é muito pior”, “nem tente argumentar porque fulano se deu mal”. O cacho de bananas está ali pertinho, mas ninguém se atreve a pegar. Opinião é um troço muito perigoso em determinados ambientes.

A segunda experiência com macacos envolve pepinos e uvas. Os cientistas designaram uma função para dois símios que estão no mesmo nível de hierarquia. Se os dois ganham pepino para executar a tarefa, tudo certo. Se os dois ganham uva, melhor ainda. O problema começa quando você dá pepino para um e uva para o outro. Os animais não aceitam a diferença. Ao ver o colega da gaiola ao lado ganhar uva, o que ganhou o pepino sai de si. Ele não aceita mais o pepino entregue pelo cientista, sacode a jaula, entra em revolta.

Em recente entrevista, Dunga disse que não acredita em privilégios para os gênios. Teme perder o grupo. O experimento mostra que ele tem razão. Uma verdadeira equipe joga junto, veste a camisa, luta por algo que todos saem ganhando. É muito mais fácil, porém, incitar as individualidades, criar tensão. O resultado é cada um por si, um time desmembrado até nos objetivos. É um erro comum que ajuda a explicar o alto turnover nas agências. Um exemplo? Você separa um grupo para criar sem briefing, mirando os festivais e deixa o outro lidando com o osso do dia a dia. Para quem ganha uva é o modelo ideal.¬ O perigo mora no balançar da jaula de quem ficou com o pepino.

O último experimento é o mais singelo de todos. Um macaco está solto em frente a uma bela oferta de comida. Ao seu lado, há outro ainda preso na jaula. Consternado, o símio destranca o seu semelhante para dividirem as frutas.

Aqui entra a moral da história. Qual dos macacos você gostaria de ser? Qual você gostaria de ter ao seu lado? A minha resposta não mudou no curso entre ser comandado para comandar. De todos os experimentos, escolho o mais difícil de colocar em prática. Prefiro ter na equipe pessoas que sejam capazes de olhar para o outro. De dividirem a uva e o pepino. Aposto mais na intuição do que no condicionamento. A gaiola é melhor aberta.

(*) André Kassu, sócio e CCO da CP+B Brasil, escreve mensalmente como colaborador para Meio & Mensagem. Este artigo foi publicado na edição 1644 que circula com data de capa de 26 de janeiro

 

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