Marisa Furtado
30 de abril de 2012 - 11h10
Nem MMA, nem UFC: a maior luta que está rolando neste momento no Brasil não está no octógono. Semana passada estivemos num encontro que reuniu os embaixadores da Nova Classe Média Brasileira (NCMB, decore esta sigla!) e as instituições financeiras, num diálogo intenso sobre como equacionar os desejos de consumo e estilo de vida desses milhões de brasileiros com as regras atuais em termos de crédito e cobrança. Renato Meirelles do Data Popular e André Torreta da A Ponte Estratégia mostraram um Brasil que é desconexo dos critérios atuais de crédito e cobrança.
Já os bancos e demais instituições apresentaram suas iniciativas para se adequarem a esse novo momento econômico, promover sustentabilidade no oferecimento do crédito e relações mais transparentes e equilibradas entre empresa-cliente. O consenso é de que muita coisa tem que mudar urgente.
Para surfar as boas ondas trazidas pelos milhões da NCMB o jogo tem que ser diferente. Imagine que a relação da disponibilização de crédito x PIB é a maior dese 1988, está em 42%, o que é ainda um índice tímido perto de outros países, mas é um superavanço…Tem ainda muito para crescer. Dinamarca e USA, por exemplo, oferecem em termos de crédito algo em torno de 200% do PIB… A NCMB traz um novo potencial de consumo na faixa de R$1TRI anual. E todo mundo quer esse dinheiro! Então vale mais do que nunca, a máxima de que o insight tem que vir do consumidor.
O que hoje a indústria financeira fala, simplesmente não é o que a massa da NCBM entende. A começar pela forma como essas pessoas encaram os próprios produtos financeiros. Interessantíssimo, olha só: poupança é “seguro”. Consumo é “investimento”. Cartão de crédito co-branded é seguro emergencial (residência, saúde, automóvel etc.). Enfim…enquanto o governo e cabeças competentes discutem mil maneiras de baixar a inadimplência e encontrar níveis “adequados” de endividamento, a nova Classe C encara o desafio de sobreviver “equilibrando os pratinhos” de uma forma muito natural. Ter 95% do salário comprometido em prestações, atrasar algumas delas, preterir um credor ao outro, não é estar endividado: é parte da vida como a respiração.
Inadimplência, na visão dos integrantes da NCMB, é quando simplesmente você deixa ir “para o pau”, o que é considerado como insolvência pelos especialistas. O modo de vida fala muito mais alto que as frases do boleto de cobrança sobre o envio do título para protesto em poucos dias. As estatísticas apontam: o 3º maior motivo de endividamento na NCMB passa pelo emocional: são pessoas que “emprestam” seu nome para favorecer terceiros de seu relacionamento próximo. E daí tá feita a confusão: como cobrar e recuperar valores de quem encara a dívida como parte da rotina, quase como um membro da família?
Alguns varejistas mais focados neste target já estão quebrando estes paradigmas. No lugar de mandar o devedor para o cartório 5 dias depois do vencimento, mandam uma cartinha simpática lembrando do atraso. O “pau” fica para depois. Eles também estão “acabando” com o critério Brasil na hora da análise de crédito, criando seus próprios scores de risco. Muito esperto! Os processos de validação estão na contra-mão da vontade de ofertar crédito as pesoas desta faixa de renda: escrita, o que é lido e o que comunicado não ajudam, não chegam no nível necessário de simplicidade para entendimento desses milhões de brasileiros – a grande maioria analfabeto funcional. E nem esta deficiência vira impedimento na hora de tomar crédito a distância, via canais remotos, ou através do simples uso do cartão de crédito. Aliás, a NCMB já responde por 53% de todo o volume transacionado com cartões de crédito!
Ou seja, a pessoa que passou por privações a vida toda, agora quer e pode consumir, tem crédito bastando apenas apertar alguns botões. Só que não entende muito bem o que está fazendo, não sabe matemática e aí POW!, vem aquela trombada! Educação financeira, atuação e comunicação consciente agora ou colapso depois. Esse é o desafio do século XXI por aqui!
Fontes: Data Popular, INEPAD e IPEA
Marisa Furtado é sócia, vice-presidente e diretora de criação da Fábrica Comunicação Dirigida
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