Estudo reforça urgência de ampliar licença-paternidade no Brasil
Pesquisa da Filhos no Currículo, CoPai, FGV e Talenses Group revela que afastamentos mais longos trazem benefícios para pais, mães e empresas
A ampliação da licença-paternidade para ao menos 30 dias é o mínimo necessário para apoiar a mãe no puerpério, fortalecer o vínculo entre pai e bebê e, de fato, contribuir para a produtividade dentro das organizações. A conclusão é de um estudo inédito conduzido pela consultoria Filhos no Currículo em parceria com a CoPai (Coalizão Licença Paternidade), a FGV-EAESP e o Talenses Group.
O levantamento, intitulado “Pai Presente: Os impactos reais da licença-paternidade estendida nas empresas brasileiras”, ouviu três públicos distintos: pais que tiveram entre 20 e 180 dias de licença, lideranças e profissionais de recursos humanos das empresas. Os resultados são unânimes em demonstrar que a presença ativa dos pais nos primeiros meses de vida dos filhos traz benefícios tanto familiares quanto corporativos.
Entre os principais achados:
– 100% dos pais relataram fortalecimento do vínculo com os filhos e melhora na parceria conjugal;
– Todos os grupos (pais, lideranças e RHs) consideram insuficientes os 20 dias oferecidos pelo Programa Empresa Cidadã para adaptação emocional e prática à nova rotina familiar;
– Empresas com licenças estendidas registraram aumento de engajamento e melhora no clima organizacional;
– Gestores relataram que a ausência planejada dos pais abre espaço para o desenvolvimento de equipes e fortalecimento da cultura corporativa;
– Pais que retornaram ao trabalho após licenças mais longas demonstraram maior foco, empatia e senso de propósito — e muitos relataram crescimento profissional depois do período.
“O estudo mostra que pais que usufruem de ao menos 30 dias retornam ao trabalho mais engajados, com maior equilíbrio emocional e até com desempenho superior. A licença não representa uma perda operacional. Ao contrário, ela faz bem aos negócios e retorna como investimento em saúde organizacional, desenvolvimento de talentos e cultura de longo prazo”, diz Michelle Levy Terni, CEO da Filhos no Currículo.
Segundo ela, a pesquisa reforça resultados anteriores do estudo “Radar da Parentalidade” (2024), também conduzido pela consultoria, que demonstrou que figuras parentais desenvolvem habilidades como liderança, empatia, tolerância e criatividade no exercício do cuidado.
A presidente da CoPai, Camila Bruzzi, acrescenta que ampliar a licença é essencial para reposicionar o papel paterno. “A licença atual é insuficiente para que o pai possa, de fato, participar da chegada de um filho. Com 30 dias, ele começa a ocupar esse lugar de cuidado de forma efetiva, o que traz ganhos para toda a família e, também, para a empresa”, afirma.
Ela lembra que, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a presença constante do pai nos cuidados com o bebê pode inclusive gerar mudanças funcionais no cérebro, aumentando a sensibilidade paterna e a capacidade cognitiva de atenção.
Momento decisivo no Congresso
O estudo chega em um momento estratégico. A Câmara dos Deputados aprovou o regime de urgência para votação do projeto de lei 3935/08, que amplia progressivamente para 30 dias a licença-paternidade para o empregado que for pai, adotar ou obtiver guarda judicial de criança ou adolescente. A votação ocorre no dia 4 de novembro.
Atualmente, o Brasil está entre os piores colocados em termos de licença-paternidade entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e da América Latina.
A legislação prevê apenas cinco dias corridos, prorrogáveis para até 20 dias em empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã, ainda de forma voluntária.
Alguns países já avançaram significativamente:
– Espanha: 16 semanas obrigatórias e remuneradas para mães e pais.
– Alemanha: até 14 meses compartilhados, com 2 meses exclusivos para cada genitor.
– Islândia: 6 meses de licença para cada figura parental e mais 1 mês adicional compartilhado.
– Austrália: até 20 semanas de licença parental paga, acessível tanto para mães quanto pais.
Esses exemplos, afirma o relatório, mostram que ampliar a licença é uma estratégia de investimento em capital humano, com impacto direto no desenvolvimento infantil, no bem-estar das famílias e na produtividade das organizações.