Pesquisa mostra relação da geração 60+ com amor e sexo
Estudo revela tendências e comportamentos das pessoas maduras sobre relacionamentos amorosos e desejo sexual
Nova pesquisa realizada pela Opinion Box com análise do Data8 mostra que 73% dos brasileiros com mais de 60 anos estão em um relacionamento, 11% revelam estar à procura e 26% já usaram aplicativos para buscar novas conexões afetivas.
De acordo com o estudo, essa geração prateada, mais conectada e autônoma, amplia os seus modos de amar entre bailes e telas, mas ainda enfrenta barreiras de confiança, riscos digitais e lacunas de prevenção.
Quando questionados sobre o uso de plataformas de relacionamento, 26% afirmaram já ter utilizado algum app, 18% disseram ter considerado a possibilidade e 56% nunca recorreram a esse tipo de serviço. Entre os usuários ativos com mais de 60 anos, 37% avaliaram a experiência de forma positiva, 21%, de maneira negativa e 42% demonstraram neutralidade.
Os aplicativos mais lembrados foram Tinder (46%), Par Perfeito (38%, apesar de ter encerrado suas operações no Brasil em 2024) e o Badoo (32%). Mais de 100 aplicativos e plataformas de relacionamento foram citados espontaneamente pelos participantes. O estudo indica ainda que 7% dos entrevistados iniciaram relacionamentos pela internet, sendo 3% em aplicativos e 4% nas redes sociais.
Recomeço afetivo
Na prática, a maturidade deixou de ser um período de encerramento para se tornar sinônimo de tempo de recomeços afetivos. A vida amorosa nessa faixa etária é marcada pela busca de equilíbrio entre liberdade e companhia: 80% afirmam valorizar o companheirismo acima da paixão, de acordo com uma pesquisa de 2018 da OurTime, aplicativo de namoro exclusivo para pessoas acima de 50 anos.
As transformações comportamentais na maturidade também se refletem nas estatísticas oficiais. Os casamentos entre pessoas com mais de 60 anos cresceram 23,5% entre 2018 e 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto os divórcios prateados aumentaram 8,6% no mesmo período.
Ao lado desses movimentos, surgem novos arranjos de convivência, como os casais que optam por manter residências separadas e os que dividem o mesmo lar, mas preferem dormir em quartos diferentes. São expressões de uma maturidade que ressignifica o amor: menos sobre fusão e mais sobre parceria, um espaço de afeto em que autonomia e intimidade coexistem.
Na visão de Felipe Schepers, cofundador da Opinion Box, a pesquisa revela uma mudança de paradigma: “O amor não é mais um tema da juventude. A geração 60+ está reescrevendo o significado de se relacionar, equilibrando liberdade e companhia, desejo e cuidado. A maturidade virou um novo tempo de descobertas, sobretudo emocionais e sexuais”.

Felipe Schepers, cofundador da Opinion Box (Crédito: Divulgação)
Confiança no amor digital maduro
A pesquisa revela que, entre os brasileiros 60+, o amor digital ainda enfrenta uma barreira essencial: a confiança. Embora o interesse pelos aplicativos de relacionamento esteja crescendo, mais da metade dos entrevistados (51%) reportaram medo de fraudes e quase metade (48%) teme a exposição de dados pessoais.
Para 62%, confiar em alguém que conheceu pela internet é mais difícil, e 60% acreditam que se relacionar online é perigoso. Esses números traduzem uma geração disposta a experimentar o digital, mas ainda guiada por uma prudência natural, moldada por vivências em que a confiança se constrói cara a cara.
Ao mesmo tempo, as motivações para se conectar pela internet são claras. Entre os participantes, 52% apontam a facilidade de conhecer novas pessoas como principal vantagem, 45% valorizam o maior controle de escolha e 44% destacam a praticidade de interagir sem sair de casa. Ou seja, há desejo por conexão e abertura à tecnologia, mas o vínculo só se sustenta quando o ambiente é percebido como seguro.
A pesquisa sugere que confiança é a nova moeda do amor digital. Recursos como verificação de perfil, canais de denúncia e bloqueio de usuários tendem a aumentar a adesão e a sensação de segurança entre os 60+. E, mesmo que a origem do encontro seja digital, os laços só se consolidam quando atravessam a tela.
Expectativas amorosas e gênero
A maturidade amorosa também reflete novas dinâmicas entre homens e mulheres. A pesquisa mostra que, entre os 60+, o amor ainda ocupa o centro das relações, mas com nuances distintas de prioridade.
As mulheres valorizam mais o sentimento como base dos vínculos: 57% colocam o amor em primeiro lugar e 34% apontam a fidelidade como fator essencial. Eles, por sua vez, também priorizam o amor (46%) e a fidelidade (30%), sinalizando uma aproximação entre expectativas antes distantes (pesquisas OurTime 2018/2024). Essa convergência indica que o relacionamento maduro se estrutura menos sobre papéis tradicionais e mais sobre afinidade e respeito mútuo.
Mais de 80% dos entrevistados afirmam valorizar o companheirismo acima de qualquer outro aspecto do relacionamento (pesquisas OurTime 2018/2024). A maturidade, para muitos, significa encontrar o ponto de equilíbrio entre liberdade e companhia: a convivência sem dependência, o afeto sem aprisionamento.
Se em 2025, 73% dos brasileiros com mais de 60 anos estão em algum relacionamento, 11% dizem estar procurando e 16% não demonstram interesse, em 2020, apenas 8% estavam em busca de um novo vínculo e a expectativa para 2030 é que 81% estejam em um relacionamento estável. O dado reforça uma tendência de continuidade e de redescoberta afetiva na maturidade.
Continuidade do desejo
O desejo não envelhece, mas a prevenção ainda não entrou plenamente na rotina dos brasileiros maduros. A pesquisa mostra que 80% das pessoas com mais de 60 anos estão satisfeitas com a vida sexual, mas 62% nunca usaram preservativo e apenas 16,6% fazem uso regular. Entre os 50 e 59 anos, o uso é um pouco mais alto (67%), mas cai para 48% após os 60, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde.
A falta de proteção tem consequências diretas: 20% já tiveram alguma infecção sexualmente transmissível e o número de casos de HIV entre pessoas com mais de 50 anos cresceu 129% entre 2013 e 2023. O dado revela que a sexualidade segue viva e ativa na maturidade, mas ainda cercada por desinformação e pela ausência de campanhas direcionadas a essa faixa etária.
O climatério, muitas vezes entendido como pausa do desejo feminino, surge na pesquisa como um momento de reinvenção. Quase metade das mulheres (46,7%) relata queda de libido, mas muitas afirmam ter conquistado mais clareza sobre o corpo, autonomia nas escolhas e liberdade para redefinir o próprio prazer, de acordo com a pesquisa Menopause Society 2025.
O fenômeno do “menodivórcio”, separações que ocorrem durante ou após o climatério, reflete esse movimento de reconstrução. Mulheres dessa faixa etária vêm assumindo o protagonismo das decisões afetivas e sexuais, inclusive optando por parceiros mais jovens, que aparecem associados a menos sintomas e maior satisfação. A atividade sexual regular, por sua vez, é apontada como fator protetor: está ligada à redução de dores, melhora do humor e fortalecimento do desejo.

Adriana de Queiroz, cofundadora do Data8 e uma das analistas da pesquisa (Crédito: Divulgação)
A pesquisa também investiga o tema da solidão, um dos grandes desafios contemporâneos da maturidade. Entre os solteiros com mais de 60 anos, 28% dizem estar sozinhos por opção, 20%, pela liberdade e 27% porque não encontraram alguém com afinidade. O dado revela que a ausência de relacionamento nem sempre é sinônimo de isolamento, mas, ainda assim, 23% dos brasileiros com mais de 50 anos apresentam alto grau de isolamento social.
Os chamados “ninhos vazios”, lares sem filhos, já representam 21,8% dessa população, segundo o estudo “Perspectivas Psicossociais da Síndrome do Ninho Vazio” (2022). Para muitos, o amor se traduz em gestos cotidianos de respeito, cuidado e gentileza, e os vínculos de qualidade, sejam amorosos ou de amizade, aparecem como antídotos eficazes contra a solidão.
“O estudo sintetiza que, na maturidade, o amor é mais consciente e profundo, embora ainda desprotegido. É um amor que combina companheirismo e liberdade, que se expressa tanto no digital quanto na vida real e que tem na confiança sua base emocional e social. Mais do que uma etapa tardia da vida afetiva, ele representa uma nova forma de estar no mundo – onde o prazer, o afeto e a autonomia coexistem como forças de saúde e de sentido”, analisa Adriana de Queiroz, cofundadora do data8 e uma das analistas da pesquisa.
 
         
         
         
         
         
                                                                             
                                                                             
                                                                             
                                                                             
                                                                             
                                                                             
                                                                             
                                                                            