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O homem-banana

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Ponto de vista

O homem-banana


6 de fevereiro de 2014 - 6h19

Meu pai foi um sonhador. Nos longos períodos desempregado, época das vacas magras como se dizia, pedia dinheiro emprestado. Pra comprar comida? Não. Isso minha mãe garantia costurando pra fora ou vendendo roupa de porta em porta. O dinheiro era para o sonho: nos levar ao cinema, religiosamente, às quartas, sábados e domingos, como se fosse uma missa. Porque lá ele se transformava em herói. Nunca foi um verdadeiro provedor. Por isso, era chamado de “banana” pela família.

Penso nisso ao ver como essa lembrança continua a ser o cerne da dramaturgia dos filmes e séries atuais, embora tenha sido usado desde sempre pelo cinema americano e também pelos quadrinhos. Quem não se lembra do banana Clark Kent, que nas horas vagas se transformava no Superman?

Na cultura americana, o mais antigo e ofensivo tipo de bullying é chamar alguém de loser, principalmente se for um chefe de família. Talvez o mais antigo loser, ou um dos primeiros, tenha sido o Pato Donald, que representava o típico classe média paspalho. E Robert de Niro em Taxi Driver, de Martin Scorsese? Um obscuro motorista de táxi que treinava sacar a arma diante do espelho planejando assassinar um político, e que depois promove uma carnificina pra salvar a adolescente Jodie Foster da prostituição. Que nem queria ser salva. Tudo pra se sentir o herói de sua musa, Cybill Shepherd. E Russel Crowe que boxeava pela família em A Luta pela Esperança. E Homer Simpson?
Se antigamente o loser aqui no Brasil era rotulado de banana ou pamonha, hoje é chamado de bunda mole, zé mané ou zé ruela nas classes mais pobres. Então, é só botar umas bermudas e camiseta transada, um boné da hora e dar um “rolezinho” no shopping. Pra quê? Pra provar que a gente não é pouca porcaria, mano! Menos mal. Poderia ser bem pior.

Geralmente, os serial killers das escolas, cinemas, são classificados como psicopatas. Mas, o cara que atirou em John Lennon, por exemplo, seria um psicopata ou um loser que sonhava ser alguém?

Tudo isso me ocorre ao assistir ao final de Breaking Bad, em que o professor de química Walter White, que, além de dar aulas, lava carros pra ganhar um trocos a mais, ao ser diagnosticado com câncer, envereda pelo crime com a desculpa da proteção à família. Mas no final admite que fez tudo, não pela família, mas por si próprio. Sim, por vaidade. “Say my name: Heisenberg!”. Não queria morrer como um loser.

Agora, em Blue Jasmine, de Woody Allen, o mesmo tema, o mesmo bullying. Cate Blanchett querendo que sua irmã troque o namorado, mecânico, um loser como ela grita em alto e bom som, por um ricaço. E ela própria Cate, que perdeu as mordomias de um casamento com um milionário corrupto, mente descaradamente, querendo fisgar um novo provedor abastado. Não sei se essas fêmeas estão totalmente erradas.

Assisti há algum tempo, num canal tipo NatGeo, uma cena que me deixou chocado. Uma leoa com seus dois filhotes e marido são atacados por outro macho. O leão pai tenta defender a família. Mas o forasteiro mais forte vence. O leão banana foge. Em seguida, o leão forasteiro vencedor se dirige aos filhotes e esmaga a cabeça de cada um com uma mordida. A leoa chora e uiva. Dois dias depois, ela entra no cio e se acasala com o novo leão.

Por que ele matou os filhotes do leão fraco? Lei da natureza. Somente os filhos dos fortes merecem viver. Para garantir geneticamente, como valentes herdeiros, a continuidade da espécie! Nós evoluímos, hoje somos humanos, sofisticados e racionais. Mas não se enganem. Nossas fêmeas ainda detêm, inconscientemente, a necessidade animal de um provedor forte, protetor.

Não fosse isso, talvez nós todos, bananas e heróis, não estaríamos aqui hoje.

Julio Xavier é sócio e diretor da BossaNovaFilms. 

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