Sobrecarga e burnout: a saúde mental dos creators
Criadores de conteúdo são pressionados pelas mudanças constantes nas plataformas, a exigência do público, das marcas e o peso do discurso de ódio nas redes
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Taís Farias
14 de fevereiro de 2023 - 6h00
Em 2021, um estudo da ConvertKit apontou que 63% dos criadores de conteúdo que trabalham em tempo integral tiveram burnout. Segundo o Ministério da Saúde, burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional, que traz entre os seus sintomas a exaustão extrema, o estresse e o esgotamento físico, causados por um trabalho desgastante.
“Este dado levanta um alerta para o atual modelo de negócio das redes sociais, onde a frequência é premiada”, aponta Rafa Lotto, sócia e head de planejamento da Youpix. Um outro estudo, da Criadores ID, realizado com 450 influenciadores que reúnem uma média de 950 mil inscritos apontou que 22,2% dos criadores sofriam com transtorno de ansiedade; 6,4% com depressão; e 81% diziam se sentir pressionados a produzir novos conteúdos.
O termo pressão é quase uma unanimidade quando o assunto é a saúde mental dos criadores de conteúdo. Isso porque, nos últimos anos, aumentou o número de pessoas criando nas redes sociais. Consequentemente, a disputa pela atenção do usuário se tornou mais acirrada e a pressão para estar dentro de todas as trends e plataformas cresce.
Soma-se a isso a exigência para acompanhar as mudanças das redes sociais, que entregam o conteúdo aos usuários a partir de seus próprios critérios e algoritmos. Ainda há o desejo de atender à expectativa das marcas parceiras e dos seguidores.
“Quando fazemos um recorte racial da situação, o problema é agravado: o discurso de ódio presente nas postagens, as mensagens racistas, as ameaças, as denúncias, os hackeamentos, que se somatizam”, adiciona Ricardo Silvestre, CEO e fundador da Black Influence.
Nesse cenário, a pandemia teve um efeito duplo. Se por um lado, para muitos criadores, ela levou a pressão e a sobrecarga ao extremo. Por outro, o período pandêmico ascendeu o debate sobre a saúde mental. Para o CEO da Black Influence, ainda que tenha havido um avanço, ele é bastante sutil no dia a dia.
“Esse diálogo ainda é bem discreto, a meu ver por ser um tema sensível e que deixa as pessoas em uma posição de vulnerabilidade. O legado é positivo no sentido de que temos exemplos próximos do que fazer ou não, mas nem sempre isso é considerado e colocado em prática”, aponta Silvestre.
Youpix aponta uma mudança de paradigma entre os criadores de conteúdo que é marcada pela insubordinação às vontades das grandes plataformas, no report “Vem aí na Creator Economy 2023”. “O conteúdo passa então a ser feito sob medida para as comunidades e não mais para alimentar a Economia da Atenção e o algoritmo. Essa lógica puxa a fragmentação do conteúdo e a diversificação dos canais de distribuição e também, ufa, dos modelos de negócios”, explica Rafa Lotto.
Em mudança de modelo de negócio, entra um ponto central do conceito de Creator Economy. Nela, por ampliar seus negócios para além da publicidade nas redes, o criador é capaz de manter um fluxo financeiro que não depende das plataformas e pode diversificar suas fontes de receita. Esse movimento diminui a pressão sobre os influenciadores relacionada ao dinheiro, mas soma novas questões.
“À medida que se torna um negócio, os desafios para os creators começam a ser mais parecidos com os de qualquer outro empreendedor: Gestão de pessoas, finanças, contabilidade, negociação, planejamento. Para uma rotina de criação saudável, eu diria que o criador ‘empreendedor’ tem que se planejar não apenas para criar, mas também para delegar e gerir sua empresa”, destaca a head de planejamento da Youpix.
Fabiana Bruno, fundadora e CEO da SUBA, destaca os perigos dessa dinâmica na prática. “Esse sistema também impõe ao Creator o desafio de atuar dentro de uma dualidade empresarial/criativa, em que a liberdade de fazer o que se quer é acompanhada da necessidade de amparar e administrar logisticamente esse impulso criativo. O que pode, eventualmente, gerar uma sobrecarga, quando não um curto-circuito”, aponta.
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