School of Life: soft skills num mundo conectado
Roman Krznaric, filósofo fundador da instituição, destaca a importância de resgatar habilidades emocionais diante de avanços tecnológicos constantes
School of Life: soft skills num mundo conectado
BuscarSchool of Life: soft skills num mundo conectado
BuscarRoman Krznaric, filósofo fundador da instituição, destaca a importância de resgatar habilidades emocionais diante de avanços tecnológicos constantes
Karina Balan Julio
6 de novembro de 2018 - 8h03
Há dez anos, em Londres, a dupla de filósofos Alain de Botton e Roman Krznaric criava o projeto The School of Life, escola com a proposta de ensinar habilidades sociais atemporais, que não fossem tão voláteis quanto as habilidades técnicas que mudam a cada nova tecnologia. Com unidades em mais de dez países, a escola surfou no crescimento da indústria de autoajuda e conquistou o universo corporativo, oferecendo, além de oficinas, livros e cursos intensivos aos consumidores finais, consultorias e treinamentos para empresas.
Entre os workshops oferecidos para clientes finais e empresas estão aulas sobre propósito profissional, resiliência e sociabilidade. A The School of Life chegou ao Brasil em 2013 e tem uma unidade em São Paulo, no bairro Vila Madalena. Em passagem pelo Brasil em outubro, Roman Krznaric concedeu uma entrevista ao Meio & Mensagem. Em novembro, o cofundador Alain de Botton também virá ao País para uma palestra promovida pela The School of Life, Natura e British Airways.
Durante a conversa, Roman destacou alguns assuntos que lhe chamam a atenção sobre a sociedade conectada: entre eles está o enfraquecimento coletivo de habilidades sociais, por conta das redes sociais, e a necessidade de resgatá-las com o avanço da inteligência artificial. Roman também falou sobre a valorização do propósito no trabalho e a relação entre empatia e a publicidade.
Meio & Mensagem — Como surgiu a ideia de criar a School of Life?
Roman Krznaric — Há dez anos não havia muitas alternativas de educação sobre inteligência emocional. Alain de Botton (também fundador da escola) e eu observávamos projetos de educação e não víamos onde as pessoas poderiam aprender sobre relacionamentos ou falar sobre temas difíceis, como a realização no trabalho e até morte. Víamos o interesse pela filosofia popular crescer e por isso pensamos em ensinar coisas que são habilidades para a vida. Buscamos abarcar tópicos universais. É claro que algumas culturas são mais competitivas e outras não falam sobre alguns assuntos tanto quanto outras, mas a ideia sempre foi responder aos problemas do momento presente, pois vivemos com diferentes pressões por conta da cultura digital.
Até que ponto é possível ensinar criatividade, na sua opinião?
Acredito que uma das grandes desgraças do Renascimento e da cultura que criamos nos últimos 5 mil anos é a ideia de que você nasce criativo e de que Michelangelo, por exemplo, nasceu com um dom genético ou divino. Esta ideia é um desastre pois faz com que as pessoas parem de ser criativas, parem de querer desenhar, pintar ou cantar, por exemplo. Nos final dos anos 60 a ideia de que a criatividade poderia ser ensinada se popularizou. Concordo com isso e acho que você pode nutrir a criatividade com o tempo. Mas, ao mesmo tempo, também vejo que criatividade é sobre espontaneidade. Hoje em dia baseamos muito nossas vidas em agendas e calendários eletrônicos, e isso impede que sejamos mais inventivos.
Seu último livro (Carpe Diem) fala sobre empatia, que é uma ferramenta cada vez mais valorizada por profissionais de marketing e designers. Na sua opinião, empatia e publicidade sempre caminharam juntos?
Designers e profissionais de marketing se interessam por empatia há pelo menos 40 anos. Podem nem sempre ter usado essa palavra, mas sempre quiseram entender a experiência do usuário com um produto. É um uma indústria traiçoeira, contudo, pois você tem a chance de manipular de verdade as pessoas. Sou frequentemente convidado para falar em agências de publicidade, mas não quero que elas tenham empatia simplesmente para vender mais produtos. Acho que a empatia vira um problema quando é algo instrumental: não é a mesma coisa você se colocar no lugar de alguém tendo em mente só o seu objetivo final, sem uma conexão ou preocupação real. Podem até chamar esta prática de “marketing de empatia”, mas não é empatia real.
Vagas de comunicação: coerentes ou absurdas?
Há uma complexa discussão sobre até que ponto robôs vão ocupar funções criativas no ambiente corporativo. Qual será o papel das habilidades sociais, ou soft skills, neste contexto?
O que vai restar para o ser humano fazer quando essas tecnologias se difundirem? Estabelecer relações com pessoas, que é uma das poucas coisas que ainda sabemos fazer melhor do que máquinas. Acredito que estamos parcialmente perdendo a habilidade da conversa cara-a-cara e de lidar com pessoas diferentes de nós. Isso é um problema pois a empatia está justamente na capacidade de ir além de suas barreiras morais e na capacidade de questionar seus estereótipos sobre as coisas. O brasileiro médio está nas redes sociais durante aproximadamente 3 horas e 27 minutos por dia, o que representa quase 50 dias do ano nas redes sociais. Acho que cultura digital está estreitando nossa inteligência emocional e reforçando nossos vieses.
Um dos assuntos abordados pela School of Life é a busca pelo propósito no trabalho. Quando teve início essa cultura de valorização do propósito no ambiente de trabalho?
A ideia de que o trabalho precisa ter propósito é nova sob muitos aspectos. Meu pai, por exemplo, era um refugiado da Polônia durante a Segunda Guerra. Ele era muito talentoso, um ótimo matemático e músico, mas nunca pensou que seu trabalho deveria ser sobre suas paixões. Ele só queria um emprego estável para comprar uma casa e sustentar a família. Hoje muitas pessoas buscam uma forma maior de realização no trabalho, e não só aquelas que foram à universidade e são escolarizadas. Isso acontece pois as expectativa e a cultura mudaram.
Ainda vale a pena estudar publicidade?
Compartilhe
Veja também
Quem explica o torcedor brasileiro? Betano celebra o futebol em campanha
Patrocinadora do Campeonato Brasileiro destaca a paixão da torcida e anuncia nova edição da Casa Brasileirão Betano para 2025
Como o acordo entre Omnicom e IPG depende de dados e automação
A aquisição é vista como uma forma de ganhar mais força e tamanho em um cenário de mídia em constante mudança