Mercado geek está pronto para pular de fase no Brasil

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Mercado geek está pronto para pular de fase no Brasil

Executivos do setor acreditam que HQs, séries, filmes, games e animes ainda têm muito crescimento à frente no País


6 de dezembro de 2018 - 15h40

Segundo especialistas, o mercado geek ainda está longe de atingir seu potencial total no Brasil. A quantidade de filmes, séries, quadrinhos, games, produtos licenciados e eventos como a CCXP, que acontece a partir desta quinta-feira, 6, em São Paulo, é só um indício da proporção que o segmento pode ter. Pelo menos essa é a opinião de representantes de empresas ligadas a esse universo, como Hasbro, Piticas, Social Comics, Imaginarium e Nerd ao Cubo. “Se você analisar alguns nichos, como o cinema, dos dez filmes mais vistos em 2017, oito eram ligados a algo da cultura pop, super-heróis ou outra temática relacionada ao mundo geek. Podemos avaliar que a cultura pop ainda está em alta e nem alcançou um nível de estabilização. Há muito a ser explorado”, diz Kellen Silverio, diretora de marketing da Hasbro.

 

(Crédito: Hermes Rivera/Unsplash)

Ao Meio & Mensagem, executivos de cada marca compartilharam suas percepções sobre o desenvolvimento desse segmento, quais as lacunas podem ser exploradas e os obstáculos para o avanço do universo geek em produtos e serviços.

Definição
Geek, nerd, game, cultura pop: todos são conceitos muito difundidos e um tanto nebulosos. Nesse embalo, as marcas podem se perder na criação de produtos e linhas geek. “Eu prestei consultoria um tempo atrás pra uma marca que pegava a imagem do Batman e colocava em um produto e chama isso de linha geek. Isso não é uma linha Geek, isso é só um produto com o Batman estampado”, diz João Paulo Sette, criador do Social Comic, plataforma de streaming para quadrinhos. Para ele, o diferencial de um produto geek está no efeito de paixão e necessidade que determinada peça licenciada causa no consumidor.

“Geek está muito mais relacionado àquilo que nos apaixona, que nos torna fã de alguma coisa. Nós sempre seremos fã de algo. Minha avó, lá na Paraíba, escuta todos os dias Padre Reginaldo Manzotti. Ela adora o Padre, tem camisa e livro dele. Minha avó é uma geek do Padre Reginaldo do mesmo jeito que eu sou do Spider Man e do Senhor dos Anéis? Quem diz que o que ela sente pelo padre é diferente do que eu sinto pelo Aranha ou pelos Hobbits? Por isso que o mercado geek é muito mais amplo do que a gente imagina”, diz o executivo.

Comunicação
É no fanatismo descrito por João Paulo que a Piticas encontrou uma das peças chaves para conquistar o consumidor de produtos geek, por meio de camisetas, moletons e outras peças de vestuário. Felipe Rossetti, co-fundador, avalia que as empresas devem se aprofundar nos estudos sobre quem é o público-alvo e a série, desenho, filme, game ou HQ, que é consumido.

“Esse nosso nicho de mercado é bem fechado e diferente. Nos outros nichos você coloca um influenciador de massa geral, que a relação é muito direta entre número de seguidores e engajamento. Então quando nós fazemos uma campanha ou produto, é para o fã. Ou seja, tem que ter diferença na estampa: colocamos um detalhe que só quem é fã vai entender”, conta.

“Há um processo interessante das marcas e redes de varejo conhecerem o próprio mercado, se sentirem mais confiantes e ampliar o investimento em coleções e ações de promoção”, diz Thiago Colares, diretor de marketing da Imaginarium. “Isso pode gerar oferta consistente e com calendário mais constante, em virtude desse conhecimento mais aprofundado do próprio mercado, que, ao meu ver, ainda está em maturação.”

Questão de inovação
Para Diogo Santos, sócio-fundador da Nerd ao Cubo, clube de assinatura de colecionáveis e outros objetos, todas as empresas devem e podem estar nesse segmento, desde que saiba a ponte entre seu produto ou serviço e o conteúdo: “Vejamos o mercado de carros por exemplo. A industria automotiva ainda não apostou no mercado Geek. Já houve carros da Copa, do Rock In Rio… Houve, sim, um Jeep Renegade Batman vs Superman, mas não foi lançado no Brasil. Sabemos que o Camaro teve um bom número de vendas impulsionado pelo Bumblebee de Transformers, que inclusive tem novo filme agora em dezembro. Como representante da classe geek, eu afirmo que meu maior sonho como consumidor desse mercado é ter um Delorean (carro da série De Volta para o Futuro) e tenho certeza que há milhares como eu”, diz.

Para Thiago Colares, “a oferta do varejo, no Brasil, ainda é fragmentada, em players que em muitos casos não possuem abrangência nacional. Há um potencial a ser explorado no varejo físico e cross com opções de entretenimento e experiência, como se vê no mercado americano.”

Felipe Rossetti acredita que uma das áreas dentro do universo geek que carece de exploração são os animes e games. Segundo o executivo, o faturamento com produtos relacionados a game da Piticas cresceu 20% nos últimos três anos. “É o nicho que mais cresce dentro do mercado geek”, diz.

“Lá fora, tanto na Ásia quanto nos EUA, são áreas bem consolidadas, e as empresas brasileiras nunca acreditaram muito nesse nicho de mercado. Agora que estão começando a enxergar que existe um mercado gigantesco. Podemos ver isso com as magazines que até pouco tempo atrás não trabalhavam com licenciamento em suas estampas”, diz Felipe. “Agora, todas estão entrando com força no produto licenciado. Isso é um perfeito exemplo do porquê e como o mercado está se expandido. Não foi explorado antes, porque não enxergavam as possibilidades de lucro.”

Obstáculos
Além de definir, comunicar e inovar, um dos entraves apontados por Diogo Santos é o sistema de importação e exportação de produtos, cujas taxas são caras e as regras numerosas. “As detentoras das marcas precisam facilitar o licenciamento. O Brasil não produz mais porque as portas estão fechadas. Pouquíssimas marcas conseguem licenciar e têm seguir regras que limitam os produtos, além de arcar com um custo alto. Essa é uma área que pode mudar, só depende das marcas. Quanto à importação, infelizmente o importador precisa repassar para o cliente os custos super altos de tarifas, de distribuição e ainda embutir sua margem. Dessa forma tudo fica caro”, diz. Tudo isso encarece produtos: “Os Pop Funkos, que são uma verdadeira febre, por exemplo, são vendidos no Brasil com um valor médio de 10 a 15 vezes superior ao preço de saída de fábrica”.

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