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Ataque ao enrolation

Empresas que levam a sério a produção de relatórios de sustentabilidade serão beneficiadas pela padronização do Global Reporting Initiative (GRI)


23 de maio de 2013 - 4h20

(*) Por Ernesto Bernardes

Uma das principais queixas dos profissionais de sustentabilidade nas corporações é a de que os relatórios que produzem não recebem a mesma atenção que os relatórios financeiros. A razão normalmente citada para isso é que os indicadores socioambientais não são tão claros e compreensíveis quanto os econômicos. Mas, há outro motivo, comentado com irritação por analistas de mercado e ambientalistas.

Em muitas corporações, os relatórios de sustentabilidade são tratados como trabalhos menores ou menos importantes e por isso não geram a mesma mobilização interna nem são tratados com a mesma gravidade que os seus “irmãos” financeiros. Clarissa Lins, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, comparou recentemente duas peças de prestação de contas da mesma empresa. No texto financeiro, a companhia admitia a existência de “questões trabalhistas que podem eventualmente interromper nossas operações”. No texto de sustentabilidade, dizia apenas que a empresa reconhecia os sindicatos de trabalhadores e se empenhava “para que os acordos tenham os melhores resultados para ambas as partes”. Esse enfoque cheio de rodeios e eufemismos foi um dos grandes alvos da mudança de diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI), anunciada nesta quarta-feira, 22, em Amsterdã, durante a Conferência Global de Sustentabilidade e Relatórios Corporativos.

Uma das receitas da entidade para combater essa síndrome foi a adoção da taxonomia XBRL também para os indicadores de sustentabilidade. A sigla XBRL (eXtensible Business Reporting Language) é uma padronização global para indicadores de negócios, já aplicada com sucesso em diversos países. Essa padronização permite que dados sejam armazenados e trocados em linguagem de máquina – por isso mesmo, cruzados e comparados com rapidez e exatidão. Essa evolução terá efeitos diferentes sobre as empresas que atualmente produzem relatórios de sustentabilidade. As mais organizadas, ou que levam o trabalho mais a sério, serão beneficiadas – afinal, uma empresa que declara sua emissão de gases de efeito estufa pelo escopo 3 não pode ser comparada com outra que emprega o escopo 1. E as que se limitavam a juntar dois ou três dados e muita “enrolation” terão de evoluir ou enfrentar o olhar cada vez mais desconfiado do mercado.

(*) Ernesto Bernardes é diretor executivo da TV1 Conteúdo. Ele está em Amsterdã, na Holanda, e escreve em colaboração para Meio & Mensagem.
 

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