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Caso Flow: é possível as marcas se protegerem de crises?

Na impossibilidade de prever atitudes de influenciadores, empresas podem estabelecer, no contrato, situações que levariam à quebra da parceria


9 de fevereiro de 2022 - 6h03

Bruno Aiub, o Monark, foi desligado dos Estúdios Flow após a repercussão do caso (Crédito: Reprodução/YouTube)

O assunto que dominou as redes sociais e o noticiário desta terça-feira, 8, foi a repercussão da fala do podcaster Bruno Aiub, conhecido como Monark, que defendeu a legalização de um partido nazista no Brasil – e a reação das marcas patrocinadoras do Flow Podcast a ela.

Já no início da noite, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou a abertura de um inquérito para averiguar se houve crime de apologia ao nazismo nas falas de Monark e do deputado Kim Kataguiri, um dos convidados do podcast #545, realizado na noite de segunda-feira, 7. A também deputada, Tabata Amaral, foi a outra convidada do programa.

Ao longo dia, uma a uma, as marcas foram desfazendo os contratos comerciais mantidos com o programa e fazendo questão de deixar claro ao público que partilham de uma ideia totalmente oposta à defendida pelo apresentador do podcast – que, por conta da repercussão do assunto, foi desligado dos Estúdios Flow, empresa que ele próprio ajudou a fundar. O episódio do programa, com a fala sobre o partido nazista, foi deletado das redes sociais, bem como outros episódios do podcast.

Indignado com a fala do apresentador, o público, nas redes sociais, logo começou a cobrar uma atitude dos patrocinadores do programa. Em posts feitos em suas redes sociais, as marcas iFood, BIS, Puma, WiseUp e Ragazzo desmentiram, de certa forma, a informação do mídia kit do Flow Podcast, que as apresentava como patrocinadoras do programa. Cada uma delas disse repudiar a fala de Monark e explicaram que chegaram a fazer ações comerciais no podcast, no passado, mas que não possuem mais contratos com o programa e nem com o apresentador.

Já empresas como Amazon, Flash Benefícios, Insider Store, Fatal Model e Philip Mead, que mantinham contratos de patrocínio com o podcast, declararam que irão encerrar a parceria e fizeram questão de repudiar as ideias trazidas por Monark.

Os Estúdios Flow, responsável pelo Flow Podcast e por outros programas de áudio, declarou, ainda na tarde de terça-feira, que Monark não faz mais parte da empresa. Igor Coelho, também sócio e coapresentador do Flow, comprará a parte de Monark (50%) na empresa. Em uma live feita na noite de terça-feira, 9, Coelho falou sobre o assunto e Monark se despediu do público do Flow.

Como se proteger?
Situações como a do Flow Podcast mostram que as marcas que se associam a influenciadores e a projetos de conteúdo podem, algumas vezes, entrar uma crise por conta de opiniões e falas intoleráveis ou que desagradem ao público. Saber, de antemão, que uma personalidade irá, em algum momento, fazer um comentário absurdo ou levantar questões controversas é impossível. Mas há, de alguma maneira, formas de tentar prevenir esse tipo de situação.

A primeira etapa desse processo de prevenção de danos começa bem antes da efetivação de um patrocínio ou parceria. “Antes de realizar qualquer contrato, é muito importante a marca entender que este produtor, influenciador, passa a ser um porta-voz da sua marca”, destaca a advogada Flávia Maria, especialista em Direito para o mercado digital.

Murilo Oliveira, CEO da IWM Agency, agência especializada em marketing de influência, também destaca a importância de detectar possíveis problemas antes de assinar o contrato. “Não existe como censurar palavras, atitudes e opiniões. Por isso, alguns cuidados devem ser pensados”, diz o profissional, indicando a importância de estudar o comportamento do influenciador ou do apresentador do programa que será patrocinado. “Estude sua conduta e, na dúvida, converse e entreviste ele. E se não se sentir seguro, não prossiga na negociação”, aconselha Oliveira.

Ainda que essas conversas e verificações iniciais não sejam suficientes para evitar um problema no futuro, há outras formas das marcas se resguardarem. Flavia alerta que as empresas sempre podem antecipar algumas ações que não aceitariam nessa relação e que configurariam uma quebra de contrato imediata. “Por exemplo, abordagens de determinados assuntos de forma deturpada, falas que não condizem com os valores as empresas, tudo isso pode ser especificado em um contrato de patrocínio como ações que não serão toleradas”, explica a advogada. Segundo ela, quando tudo já está pré-determinado em contrato, fica mais fácil e ágil suspender a relação sem qualquer ônus.

Ter um contrato com cláusula firmes que prevejam quais atitudes não serão toleradas é um ponto destacado também pelo CEO da IWM Agency, que reforça que, nas relações comerciais, não existe a história de o influenciador ter autonomia total e irrestrita, uma vez que ele possui compromissos a cumprir e que sua influência, inevitavelmente, deve ser direcionada para o bem.

Outro ponto que Oliveira destaca para uma marca que vivencia uma situação de crise como as envolvidas no episódio do Flow Podcast é que, apesar de ser necessário se posicionar, isso nunca deve ser feito no calor do momento. “Antes de qualquer coisa, é preciso entender o assunto internamente e conversar com diversos pares para ouvir pontos de vistas diferentes. Já vimos empresas se posicionarem no calor do momento e sofrerem revés negativo que foram piores do que se tivessem ficado em silêncio”, destaca o executivo. Ele alerta, no entanto, que sempre é o melhor caminho deixar claro que a empresa não compactua com aquela atitude.

A advogada e especialista em direito digital complementa que é importante que, no contrato entre a marca e o influenciador ou produtor de conteúdo, esteja bem claro quais são as obrigações das partes, as situações e falas não aceitas dessa relação. “Como o caso de falas discriminatórias, a exclusividade do influenciadores e quais hipóteses podem levar a rescisão, entre outras questões que devem ser previstas para uma maior segurança das partes”, destaca.

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